A Influência da Agronomia na Luta Política de Amílcar Cabral - Reportagem da AgroPortal
A formação em agronomia de Amílcar Cabral foi fundamental para moldar sua trajetória política e sua luta pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau, segundo Arlindo Fortes e Carlos Monteiro numa reportagem publicada na AgroPortal.
De acordo com o site AgroPortal.pt, Arlindo Fortes e Carlos Monteiro, dois cabo-verdianos de diferentes gerações, compartilham a mesma formação em agronomia, uma escolha que também marcou a vida do histórico líder Amílcar Cabral há mais de 70 anos. Cabral utilizou seus conhecimentos agronômicos para entender profundamente as condições de vida e as injustiças coloniais enfrentadas pelos povos de Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola.
Arlindo Fortes, professor da Universidade Pública de Cabo Verde, destacou que a formação como engenheiro agrônomo permitiu a Cabral explorar as realidades dos países africanos sob domínio colonial. "Ele conhecia as dificuldades e os modos de vida das diversas populações e etnias, o que o empurrou ainda mais para a luta política", afirmou Fortes em entrevista à Lusa.
Carlos Monteiro, atual bastonário da Ordem dos Engenheiros de Cabo Verde, acrescentou que a decisão de estudar agronomia foi estratégica para Cabral, que inicialmente desejava seguir uma carreira na área médica. No entanto, ao conseguir uma bolsa para o Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, ele viu uma oportunidade de contribuir para a emancipação dos povos africanos. "Cabral tinha em mente a luta contra as inércias coloniais que assolavam Cabo Verde", explicou Monteiro.
A trajetória de Cabral não foi isenta de desafios. Após concluir o curso em 1952, ele enfrentou várias desilusões profissionais em Portugal, incluindo a perda de uma vaga na Junta de Colonização Interna, apesar de ter sido o melhor classificado no concurso público. Essas injustiças reforçaram ainda mais sua determinação política. "As experiências como engenheiro agrônomo deram a Cabral uma visão crítica que alimentou sua luta política", afirmou Monteiro.
No período pós-independência, as ideias de Cabral sobre conservação do solo e emancipação econômica dos agricultores influenciaram significativamente Cabo Verde. Projetos de conservação de solos foram implementados com ajuda internacional, mas com o crescimento econômico do país, esses financiamentos diminuíram. Tanto Fortes quanto Monteiro defendem que o país deve renovar seus esforços na conservação do solo e na valorização da agricultura, utilizando recursos internos e incentivando os jovens a permanecerem no meio agrícola. "A conservação de solos deve ser um desígnio nacional", concluiu Monteiro, ressaltando a importância de um olhar mais profundo sobre o solo como patrimônio nacional.
