A minha visão - Brava uma ilha a prazo?

Depois de cinco anos longe da terra mãe, numa rápida visita de uma semana, pude palmilhar a maioria das localidades, falei com dezenas de pessoas, autoridades, emigrantes, cidadãos comuns, jovens, idosos e crianças, e o desânimo é grande, o conformismo também.

Nov 16, 2019 - 12:39
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A minha visão - Brava uma ilha a prazo?

Depois de cinco anos longe da terra mãe, numa rápida visita de uma semana, pude palmilhar a maioria das localidades, falei com dezenas de pessoas, autoridades, emigrantes, cidadãos comuns, jovens, idosos e crianças, e o desânimo é grande, o conformismo também.

A ilha Brava entra no radar de viajantes antenados por suas paisagens espectaculares. Belas montanhas, vales profundos e vilarejos encravados formam o cenário característico da ilha.

Muitos cabo-verdianos não conhecem a ilha Brava e, mesmo aqueles que já ouviram falar desta ilha, poucos sabem das suas potencialidades, da morabeza do seu povo, das mornas, do clima singular, da sua culinária, moças bonitas e paisagem de tirar a respiração.

Emigrantes ou descentes destes, raramente ou nunca visitam a ilha, por enumeras razoes.

A ilha Brava é de origem vulcânica, situada no oceano Atlântico ao sul do arquipélago de Cabo Verde, mais ou menos na mesma latitude do Senegal e a 500 quilômetros deste país africano.

Mas como toda a sua beleza natural, clima singular, paz e tranquilidade ímpares, qual a causa da diminuição galopante da sua população e desânimo dos residentes?

Porque que a Instituto Nacional de Estatística estima que em 2030 a ilha passará a contar com menos de 3000 pessoas?

Sera Brava uma ilha a prazo?

Transporte, água, desemprego, isolamento, seca persistente, desinvestimento, política de centralidade do Governo, falta de liderança, são os constrangimentos basta vezes repetidos por empresários e a população em geral.

Empresários arriscam somas avultadas, emigrantes regressam, residentes investem poupanças de uma vida, na esperança de que as coisas melhorem com o passar dos anos.

Os políticos com lupa ampliada, entendem de que as coisas já estão bastante melhor. Mas como? Se na década de 90 tínhamos voos três vezes por semana e navios com a mesma frequência. Tínhamos serviços de correios em Nossa Senhora do Monte, bancos na referida freguesia, uma agência municipal, etc…… se neste momento pensa-se recalcetar a via Nova Sintra/Nossa Senhora do Monte, quando em 2012/2013 foi inaugurada a via asfaltada Furna/Nova Sintra…. O que melhorou?????

Há os que se mantém optimistas e há os que pensam em desistir. Mas a unanimidade é que a Brava é umas das ilhas mais complicadas para viver, ser empresário e até passar curtas férias.

Hotéis Cruz Grande, Djabraba Eco Lounge, Nova Sintra, Projecto Noz Raiz, etc, restaurantes, comércio e diversos outros investimentos, empregam dezenas de pessoas a tempo inteiro, mas embatem sempre com constrangimentos, sendo a principal a falta de transporte regular e segura, repito, transporte regular, adaptado à realidade climática da ilha, e que suporte a constante variação do estado do mar.
Muitos dizem que o sistema de transporte melhorou. Melhorou a frequência? Cremos que sim. Melhorou a pontualidade, assiduidade e regularidade… surgem as dúvidas.

Um sistema de transporte regular que de garantias, principalmente para os estrangeiros, turistas, emigrantes, porque normalmente eles fazem viagens programadas de ida e volta, e quando nao tem programa de regresso, cancelam tudo, será sempre o desejo de todos.

Uma população desanimada, uma ilha que produz menos do que 15% do que consome e a maioria com vontade de emigrar, migrar ou abandonar a ilha, cada um explicando os seus motivos.

Agricultores que queixam de falta de agua e preco exorbitante do liquido precioso.

Pescadores que reclamam de falta de crédito para o sector, inexistência de meios de produção e problemas de escoamento.

Comerciantes que afligem com a pouca regularidade do barco e mau sistema de transporte de cargas.

Estudantes que não conseguem vislumbrar um futuro na ilha, onde o desemprego grassa e nao ha investimentos privados de monta.

O que esperar? O que o futuro nos reserva?

Nesta paisagem exuberante, repleta de montanhas e vales, encontra-se um ecossistema variada, impressionante e deslumbrante, mas, o que se reserva para a ilha? Existem planos a longo prazo de fixação da população, de aposta na pesca industrial, no investimento fundo na agricultura, pensando na dessalinização da água e seu transporte para os pontos mais altos? O que fazer com nosso queijo, nossa “babosa” (aloe vera), sisal e salsinha? E a grande propensão para produção de frutas? Ou o nome Laranjeira veio por acaso? Papaia, banana e maracuja…..

Dando voz às pessoas, em conversas amenas, despolitizadas e simples, os pescadores dizem se sentir  “abandonados à mercê da sorte”. Quando se trata de apoios aos pescadores, aliás, esta é uma reivindicação dos “homens do mar” não só de Lomba, mas de Furna e Fajã D´Água, consideram uma classe “esquecida” pelo Governo, porque não possuem nenhum apoio e quase nunca, são chamados para participar em formações ou reuniões como acontece em outras localidades piscatórias.

“Na Brava os pescadores vivem daquilo que pescam, adquirem materiais com o pouco que ganham, porque se for para depender do Governo em termos de apoios, estaríamos todos de mãos cruzados, vendo as nossas famílias passando por dificuldades”, desabafou um grupo de pescadores de Lomba Tantum.

Já os jovens, “clamam” por melhorias nas redes de telecomunicações, uma antena que lhes permita terem acesso à televisão e rádio pública e pelo menos uma placa desportiva que beneficie esta comunidade, pois, conforme realçam, “aqui na Lomba ficamos de lombo em lombo, porque não há nada que possamos fazer para nos distrairmos”, considerou um jovem que não quis se identificar.

Entretanto, outros jovens da Vila de Nova Sintra, alguns se identificaram, outros nem por isso, conforme alegaram, por medo de serem “prejudicados”.

Uma ilha que contribui em 1% para o PIB nacional, pouco mais terá do que já tem da parte do Governo. 

 O que esperar desta ilha daqui a 30, 40 e 50 anos?.......

Ressalva-se que se trata apenas de “minha visão”.

Moises Santiago