Análise e Reflexão sobre o "Hora di Bai - Mornas e Coladeiras de Cabo Verde" - Carlos Spinola
Na recente leitura do livro Hora di Bai - Mornas e Coladeiras de Cabo Verde, publicado pela Capeverdean American Federation em 1973 e organizado por Padre José Maria de Sousa, C. S. SP, com prefácio de D. Belmira Nunes Miranda, surge uma reflexão importante sobre a nossa língua e identidade. O livro, uma verdadeira relíquia de Cabo Verde, representa um marco significativo no entendimento da cultura e da língua crioula do país.

Ao revisitar este material, é impossível não questionar os rumos tomados por movimentos como o ALUPEC. A crítica ao ALUPEC, e a rejeição a seus mentores, revela uma preocupação com a verdadeira essência da língua crioula, que não deve ser distorcida por influências externas ou por formas artificiais de escrita. O movimento ALUPEC, ao tentar sistematizar o crioulo com base em convenções linguísticas, encontra resistência entre aqueles que defendem a simplicidade e a autenticidade da língua como foi expressa por grandes nomes da literatura cabo-verdiana, como Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, José Lopes, Januário Leite, Jorge Barbosa, Baltazar Lopes da Silva, e Manuel Lopes.
No Hora di Bai, Volume I, encontramos não só músicas e letras que ressoam a história da nação cabo-verdiana, mas também um compromisso com a pureza da língua crioula tal como foi pensada e sentida por esses mestres. A obra ainda nos leva a uma análise histórica sobre a origem do crioulo, trazendo à tona a ideia de que o crioulo cabo-verdiano tem raízes profundas nas línguas neolatinas, como o português, francês, italiano, espanhol e romeno.
A crítica à "ALUPEC e pós-Independência" ganha peso quando refletimos sobre as palavras do grande Norberto Tavares, que, em suas escritas, parece alertar para a preservação da autenticidade da nossa cultura. A escrita de Tavares, junto aos demais autores mencionados, propõe que, ao resgatar a língua crioula, se preserve a sua verdade, sem ceder a simplificações ou alterações artificiais.
Em Cabo Verde, e na diáspora, o livro Hora di Bai ainda é uma referência para os estudiosos e para todos que desejam aprofundar o conhecimento sobre nossa história e língua. O trabalho de autores como Isabelle Livramento, que compartilhou os volumes da obra, é fundamental para manter viva a chama do amor por Cabo Verde e pelo crioulo, um crioulo sem K, como é genuinamente falado e vivido no coração de nossa cultura.
A obra continua disponível para consulta no Cape Verdean Museum, onde podemos aprender mais sobre essa riqueza que é a nossa história e nossa língua, e refletir sobre o futuro que queremos para ela.
Uma reflexão de Carlos Spinola, tirada da sua página nas redes sociais