ARTIGO DE OPINIAO: Brava e os Caminhos para o futuro: Olhar para o passado, resolver os problemas do presente e perspetivar o futuro
Nova Sintra, 04 de Junho de 2016 - A Brava é herdeira de uma história gloriosa: No passado, fomos a capital administrativa da colónia, geramos ideias, tivemos atividade industrial e temos uma herança invejável na formação dos recursos humanos, da qual a formação dos marítimos é um legado indelével da nossa história. Todavia, o nosso maior feito terá sido o nosso contributo à emancipação da identidade Cabo-verdiana, através da cultura.
Hoje é necessário olhar para o passado, resolver os problemas do presente e perspetivar o futuro: Que ilha queremos ter no futuro e o que podemos fazer, hoje, para construirmos este futuro perante os desafios atuais?
A realidade da Brava é preocupante. A ilha vive no período da mais longa recessão que a nossa pequena economia já conheceu e os dados assim o demonstram: Somos a economia que menos contribui para a geração de riqueza nacional, entre 0.8 -1% do PIB nacional, temos a mais alta taxa de desemprego do país, cerca de 18, 5%, e a nossa população tem diminuído de forma considerável.
Estes são dados que nos devem preocupar, pois, houve, no passado, muitas gerações que lutaram para edificarem uma ilha que se vem desvanecendo ano-após-ano.
Assim, assistimos, nos últimos anos, à um declínio contínuo, sem que haja uma estratégia programática de desenvolvimento para a ilha.
Se analisarmos o contributo da economia das ilhas, para o PIB nacional, ao longo dos anos, nos apercebemos, facilmente, que há uma enorme heterogeneidade na economia Cabo-verdiana: O centro do país tem estado a se afirmar como sendo o grande contribuidor para o produto interno nacional e algumas ilhas, como a Brava, têm perdido espaço. A economia baseada nos serviços não tem permitido que a ilha desenvolva os seus sectores estratégicos, que possibilitem gerar riqueza, criar emprego e aumentar o rendimento para as famílias. O crescimento débil da ilha não tem acompanhado o ritmo acelerado de desenvolvimento do país, na última década, e as mudanças que vão ocorrendo, sobretudo, no que toca ao desenvolvimento dos fatores de competitividade.
Os avanços que se deu na educação, as qualificações humanas e a investigação produzida continuam afastados da ilha. O fraco aproveitamento, pelas empresas, da qualificação dos recursos humanos continua a ser um problema estrutural na nossa economia. Este facto advém, em grande medida, da circunstância das empresas não terem introduzido as inovações decorrentes dos avanços tecnológicos, o que impossibilitou à ilha de tirar partido da maior qualificação dos recursos humanos para ganhar eficiência e competitividade.
A conjuntura da ilha é marcada por uma crise gravíssima, que se traduz numa diminuição acentuada da população, num desemprego crescente e numa baixa produtividade da economia. Por isso, é cada vez mais visível a necessidade de haver uma agenda económica para a Brava: uma agenda que garanta o desenvolvimento sustentável da ilha, que se concentre no crescimento económico, no desenvolvimento de sectores estratégicos, na diversificação e alargamento da base produtiva, mas também, que integre a emigração no desenvolvimento local.
Só tem futuro quem consegue tirar vantagem do passado, e o passado da Brava constitui um ativo, que não podemos desperdiçar, para construirmos o futuro. A nossa história e cultura constituem valores centrais para o nosso desenvolvimento que, infelizmente, temos desperdiçado. O desenvolvimento passa, necessariamente, pela existência de uma agenda económica que possibilite a criação de emprego, assente na introdução das novas tecnologias de informação e comunicação no meio empresarial, mas também, que permite, igualmente, o reforço dos sectores estratégicos, com mais inovação, eficiência e produtividade, para que possamos tirar vantagens dos avanços dos últimos anos, nomeadamente, a melhoria do sector dos transportes.
A ilha Brava só tem futuro se conseguir estar na linha da frente das transformações que Cabo Verde precisa, para enfrentarmos estes tempos desafiantes, marcados por uma grande incerteza.
Jonathan Vieira.