As remessas dos emigrantes e apoio em materiais sustentam ou sufocam o desenvolvimento da Ilha Brava?
Nova Sintra, 10 de Abril de 2025 (Bravanews) – Por séculos, a Ilha Brava tem mantido um laço umbilical com a sua diáspora, com as remessas financeiras e materiais dos emigrantes afigurando-se como um pilar fundamental da sua economia e da subsistência de muitas famílias. No entanto, uma questão crucial emerge no debate público.

Após tantas décadas de dependência, a Brava estaria finalmente pronta para trilhar um caminho de autossuficiência, desvinculando-se gradualmente destas ajudas externas? Uma análise aprofundada dos impactos das remessas na ilha torna-se imperativa para discernir se elas efetivamente impulsionam o desenvolvimento sustentável ou, paradoxalmente, perpetuam um ciclo de dependência.
As remessas dos emigrantes bravenses, espalhados principalmente pelos Estados Unidos e Europa, representam inegavelmente uma fonte vital de divisas e um amortecedor social crucial para a ilha. Estes fundos têm contribuído significativamente para o consumo local, para a construção e melhoria de habitações, para o financiamento da educação e da saúde, e para o apoio a famílias em situações de vulnerabilidade. Em momentos de crise ou de dificuldades económicas, o fluxo constante de dinheiro e bens consumíveis do exterior tem sido um salva-vidas para muitos bravenses, evitando um colapso ainda maior da economia local.
Contudo, a longevidade desta dependência levanta questões pertinentes sobre o seu impacto a longo prazo no desenvolvimento da Brava. Uma das principais preocupações reside na potencial criação de uma cultura de dependência, onde a expectativa de receber ajuda externa possa, em certa medida, desincentivar a busca por soluções endógenas e a exploração de recursos locais. Se a economia da ilha se mantiver artificialmente inflacionada pelas remessas, poderá haver uma menor pressão para diversificar as atividades económicas, investir em sectores produtivos, como agricultura e pesca, e criar empregos sustentáveis para a população local.
A agricultura, por exemplo, um sector com potencial na Brava, especialmente agora como a promessa de mais água, pode não receber o investimento e a atenção necessários se as famílias dependerem fortemente das remessas para a sua subsistência. Da mesma forma, o desenvolvimento do turismo sustentável, que poderia gerar receitas e empregos diretos e indiretos, pode ser negligenciado em favor da comodidade das ajudas externas. A questão central é se a facilidade do acesso às remessas não estaria a adormecer o espírito empreendedor e a inovação local.
Outro ponto crucial a ser analisado é a volatilidade inerente às remessas. Factores económicos nos países de acolhimento, mudanças nas políticas de imigração ou mesmo crises globais podem afectar significativamente o fluxo de dinheiro outros bens para a Brava. Uma dependência excessiva destas fontes externas torna a economia da ilha vulnerável a choques externos que estão fora do seu controle. A diversificação económica e a criação de uma base produtiva local mais robusta poderiam mitigar estes riscos e garantir uma maior resiliência económica a longo prazo.
O debate sobre a "prontidão" da Brava para andar sem estas ajudas é complexo e multifacetado. Desconectar-se abruptamente das remessas teria consequências sociais e econômicas devastadoras a curto prazo. No entanto, é fundamental iniciar uma reflexão séria e um planeamento estratégico para uma transição gradual para uma maior autossuficiência. Este processo envolveria o investimento em setores com potencial de crescimento, o apoio ao empreendedorismo local, a melhoria da infraestrutura, a capacitação da população e a criação de um ambiente de negócios favorável.
A diáspora bravense continua a ser um ativo valioso para a ilha, mas a sua contribuição pode evoluir para além das remessas financeiras. O conhecimento, as redes de contacto e o investimento direto dos emigrantes em projetos locais podem desempenhar um papel crucial na diversificação da economia e na criação de oportunidades sustentáveis. Incentivar o investimento diaspórico em sectores estratégicos, como o turismo, a agricultura de nicho e as energias renováveis, poderia gerar um impacto mais duradouro no desenvolvimento da ilha.
Em última análise, a questão não é rejeitar as ajudas dos emigrantes, que têm sido essenciais para a sobrevivência e o bem-estar de muitos bravenses ao longo da história. A questão fundamental é analisar criticamente se a dependência excessiva destas remessas está a permitir que a Brava alcance o seu pleno potencial de desenvolvimento. Chegou o momento de iniciar um diálogo profundo e inclusivo sobre o futuro económico da ilha, explorando estratégias para fortalecer a sua base produtiva local e construir um futuro mais autónomo e resiliente, onde a contribuição da diáspora se manifeste de formas mais diversificadas e sustentáveis.
MS