Assim se vê a força da lusofonia (sem cedilha)

O assunto não é novo. Mas eis que a mais recente edição do jornal cabo-verdiano A Nação traz uma outra luz sobre a relação dos estudantes cabo-verdianos com Portugal, sim, esses que anseiam rumar ao bulício lusitano para ali prosseguirem os seus estudos. Portugal trata-os bem? Maravilhosamente!

Aug 26, 2017 - 11:39
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Assim se vê a força da lusofonia (sem cedilha)

O assunto não é novo. Mas eis que a mais recente edição do jornal cabo-verdiano A Nação traz uma outra luz sobre a relação dos estudantes cabo-verdianos com Portugal, sim, esses que anseiam rumar ao bulício lusitano para ali prosseguirem os seus estudos. Portugal trata-os bem? Maravilhosamente! Aligeira-lhes os processos, recebe-os de passadeira e ainda os louva por escrito na hora da partida! Porque a lusofonia é importantíssima, a língua portuguesa a todos une, língua de cultura e negócios, bênção dos céus e herança imorredoura dos nossos ancestrais! O quê? É o discurso errado? Não é a língua? Não são os laços? Nem as culturas? Nem os ancestrais?

Não, vamos pôr alguma ordem nisto.

Na verdade, o que há de novo sobre o amor que Portugal nutre pelos estudantes que navegam na sua língua é antigo. Veja-se este título: “Estudantes com dificuldade em conseguir vistos para Portugal”; e leia-se o início do texto a que o título se refere: “Os estudantes cabo-verdianos que vão ingressar nas universidades de Portugal estão revoltados com a dificuldade em conseguir vistos de entrada naquele país.” É de ontem? Do ano passado? Não, é de há seis anos. A reportagem foi publicada no jornal cabo-verdiano A Semana, na sua edição de 10 de Setembro de 2011. Pois agora, n’A Nação, lê-se isto: “Um pouco por todo o país [por Cabo Verde, entenda-se] alunos ‘choram’ por um visto para poderem prosseguir os seus estudos em Portugal”. Podem dizer: é certamente um mal-entendido. Foi isso, aliás, que disse em 2011 à reportagem d’A Semana um responsável português: era coisa para se revolver “ao mais alto nível, talvez por via do Ministério dos Negócios Estrangeiros, porque esses estudantes não são nem emigrantes nem turistas.” Pois. Mas antes do alto nível, vamos ao baixo nível: em São Vicente, como demonstra numa fotografia A Nação, o serviço consular português funciona numa garagem. Seria o menos, podia até funcionar numa cave, ou num curral, desde que os funcionários ali atendessem com esmero ou pelo menos cortesia. Mas, a crer no que dizem ao jornal, os estudantes que lá vão queixam-se de ser tratados de maneira “desrespeitosa” e “grosseira”. Ah, a bela lusofonia!