Baleia uma aldeia que carrega em seu silêncio as memórias de um tempo em que florescia em abundância
Baleia, uma pequena localidade no coração da ilha Brava, carrega em seu silêncio as memórias de um tempo em que florescia em abundância. Situada num vale rodeado de imponentes rochedos e montanhas, Baleia foi, durante muitos anos, o berço de histórias e tradições que marcaram a cultura da ilha. Hoje, no entanto, o vento parece sussurrar as lembranças de dias gloriosos e saudosos que ficaram para trás.
Um dos maiores símbolos de Baleia foi, sem dúvida, a tradicional festa de Santaninha, que celebrava a imigração e a luta do bravo povo da Brava, um povo que, em busca de melhores condições, partiu para terras distantes, deixando atrás de si os ecos de suas raízes. Mas se a ilha sofreu com a partida de seus filhos, Baleia, de forma especial, parece ter carregado a dor de uma história de desarraigo. É aqui, na localidade que mais sofreu com a imigração, que as marcas da saudade e da solidão se tornam mais evidentes.
Nos tempos de prosperidade, Baleia era uma terra de pescadores e pecuaristas, onde as águas do mar e a terra fértil alimentavam aqueles que nela viviam. Mas esse cenário mudou. Hoje, os poucos moradores que ainda resistem ao passar do tempo veem sua localidade silenciada e esquecida. A ausência de crianças correndo pelas ruas e o eco das risadas se perdeu, substituído pelo som dos ventos que, por vezes, parecem carregar consigo a tristeza de uma terra desolada.
A imigração, que por tanto tempo foi a sina de Baleia, é, sem dúvida, um dos principais fatores dessa realidade. O isolamento da localidade, localizada longe dos acessos mais fáceis e sem uma estrada que permita a chegada dos carros, só intensificou o abandono. Os que ainda lá vivem buscam, na proximidade das zonas mais acessíveis, uma forma de facilitar a vida que, sem dúvida, se tornou mais difícil.
Ainda assim, Baleia continua a ser um lugar de pessoas amáveis e hospitaleiras, onde a morabeza – característica de acolhimento e carinho genuíno – se mantém viva. Quem chega àquela localidade sente-se em casa, envolvido pelo calor e pela simplicidade do seu povo. Baleia pode estar distante e isolada, mas para quem conhece a sua essência, ela será sempre um símbolo de resistência e de amor à terra.
Eu, que nasci em Baleia, não consigo deixar de me emocionar ao pensar nas suas ruas vazias e no vazio que tomou conta do vale. Porém, o amor por essa terra, por suas gentes, jamais será esquecido. E é com a esperança de dias melhores que olho para o futuro, desejando que Baleia recupere ao menos um pouco da vitalidade que um dia teve. Porque, para todos nós, que de alguma forma passamos por ali, Baleia será sempre um pedaço de nosso coração, uma memória que jamais se apagará.
Baleia, a localidade que sempre amarei, sempre será lembrada e celebrada por todos aqueles que já tiveram o privilégio de conhecer sua beleza, suas tradições e seu povo.
Brava Podcast cada vez mais perto das nossas localidades.
Texto b@y Gambiano Gomes
Fotografia b@y Joaquim Martins
