Brava: A cobrança para os rituais culturais impede as pessoas de tomarem a bandeira – festeiro
Alberto de Pina, festeiro de São Pedro há 12 anos, geralmente ano seguido, salientou que o facto de tudo ser a base de dinheiro, leva ao desaparecimento da tradição, porque muitos estão com medo desta responsabilidade.
Alberto de Pina, festeiro de São Pedro há 12 anos, geralmente ano seguido, salientou que o facto de tudo ser a base de dinheiro, leva ao desaparecimento da tradição, porque muitos estão com medo desta responsabilidade.
Este festeiro contou à Inforpress que ele toma a bandeira para festejá-la sempre que não há pessoas disponíveis, porque, fez uma promessa, que enquanto estiver com vida, a bandeira não volta para a igreja por falta de festeiros, pois, esta já é uma tradição “rija” da ilha, festejada por pessoas de fé.
De acordo com o mesmo, a sua promessa foi baseada numa fé profunda em São Pedro, porque, conforme contou passou por uma cirurgia, em que os médicos disseram que perderia a voz.
Daí, prometeu que caso recuperasse a voz, regressaria para a Brava, tendo em conta que é emigrante nos Estados Unidos da América há 30 anos, e a voz começou a recuperar, tinha um mês operado, voltou, tomou a bandeira e sempre que não a tomam, ele fica com ela.
Na sua opinião, a tradição não deve morrer, mas, segundo o mesmo, antigamente, tudo era feito de graça para dar mais brilho às festas da bandeira, desde os tamboreiros, coladeiras, o mastro, entre outros rituais que envolvem esta tradição.
Mas hoje, salientou que tudo é a base de cobranças e isto, leva a que muitas pessoas, principalmente os jovens, sentem medo de tomar esta responsabilidade porque, é muita despesa, além dos comes e bebes, tem de pagar para as outras práticas.
Já, todos os anos, nesta altura ele regressa à sua ilha para festejá-la e impedir que fica na igreja sem festeiro para o próximo ano.
Rita Barbosa é uma outra festeira do Santo, já lá vão 34 anos, porque é o dia do aniversário da sua filha e o que pede é vida e saúde, para festejá-lo todos os anos, pois, corrobora da mesma opinião de Alberto de Pina que a bandeira não deve ser enterrada.
Esta festeira não faz o ritual como o outro festeiro, ela prepara comes e bebes, e quando os festeiros saem da eucaristia, antes de chegarem ao destino final que é a casa do festeiro em que fica a bandeira, passam na sua casa, brincam, tocam, colam, comem e depois seguem para o Cutelo e daí para a casa de Alberto de Pina.
Mesmo estando na morte da mãe, Rita Barbosa disse que não se sentiu bem em dar às costas à bandeira e festejou-a mesmo não sendo como o de costume ou como queria, mas para ela, o importante é cumprir a sua promessa e servir uma canja e doces a todos que passam pela sua porta no dia de hoje.
Esta festeira pede aos jovens que tenham mais fé, que seguem a tradição e que não sentem medo de tomar a responsabilidade da bandeira, pois, São Pedro não deixa ninguém na mão e com certeza, todos vão colocando o pouco que têm e a bandeira não será enterrada.
“O segredo é crer, acreditar que é possível e daí, o senhor São Pedro nos ajuda a alcançar a nossa meta”, finalizou a festeira.