Brava: A Luta de uma Família e sobrevivência de um negócio numa pura realidade da falta de infraestrutura e apoio governamental

Cidade de Nova Sintra, 4 de Janeiro de 2025 (Bravanews) - A Ilha Brava, um dos recantos mais isolados e genuínos de Cabo Verde, tem sido palco de um grande desafio para a família que decidiu abrir um hotel no local, com a esperança de contribuir para o desenvolvimento da ilha e estabelecer raízes na sua terra.

Jan 4, 2025 - 07:14
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Brava: A Luta de uma Família e sobrevivência de um negócio numa pura realidade da falta de infraestrutura e apoio governamental

O sonho do Italiano Marco Agostino Giandinoto de viver e criar família na Ilha Brava começou em 2012, quando, após mais de dois anos de trabalho árduo, o hotel foi finalmente inaugurado. No entanto, desde o início, a história que se seguiu tem sido marcada por inúmeros obstáculos que a família tem tentado enfrentar com coragem, mas que, ao longo dos anos, se tornaram insustentáveis.

Um dos primeiros problemas a surgir foi a falta de água, um dos bens mais essenciais para o funcionamento do hotel. A empresa responsável pela distribuição de água, a Aguabrava, não conseguiu garantir o abastecimento constante e adequado, o que forçou a família a tomar medidas drásticas. "Tivemos que comprar água várias vezes através de carros particulares, com prejuízos econômicos incalculáveis. E a empresa nunca se preocupou nem demonstrou qualquer empatia", relata o responsável pelo hotel. Esse problema de escassez de água tornou-se um fardo diário, prejudicando tanto o negócio quanto a qualidade de vida dos seus proprietários.

Passados mais de dez anos, em 2025, a situação só se agravou. A falta de infraestrutura e a incapacidade da empresa Aguabrava de garantir um fornecimento regular de água continuam a ser uma constante, e a família viu-se forçada a cancelar reservas de clientes e, pela primeira vez, a encerrar o hotel temporariamente. A razão? O único camião auto-tanque responsável pelo fornecimento de água à ilha está danificado, sem previsão de conserto rápido. A falta de soluções imediatas e a falta de empatia da empresa responsável são um reflexo da negligência e do abandono que os moradores da ilha enfrentam diariamente.

Este cenário não é único. Há uma sensação generalizada de impotência e frustração entre os habitantes da Ilha Brava, que já não sabem o que esperar das autoridades locais e nacionais. O governo cabo-verdiano promove, com frequência, campanhas sobre investimentos estrangeiros no país, destacando as vantagens de investir em Cabo Verde. No entanto, a realidade vivida na Ilha Brava levanta sérias questões sobre a viabilidade de tais investimentos. "Em que condições e com que garantias deve um investidor fazer investimentos aqui?", questiona o proprietário do hotel. As deficiências nos transportes entre ilhas, os serviços básicos como a saúde, a água e a eletricidade, e a desigualdade social crescente são questões que parecem ser ignoradas pelas autoridades.

A história dessa família é, portanto, um reflexo de um problema mais amplo enfrentado por muitos habitantes da Ilha Brava e de Cabo Verde em geral. A falta de soluções sustentáveis e a falta de apoio eficaz das autoridades estão criando uma situação insustentável, em que os moradores se veem cada vez mais isolados e frustrados. "Decidimos viver aqui por amor à Ilha Brava, mas depois de vinte anos de abandono e descuido por parte das autoridades, estamos fartos e enojados. Cada problema que enfrentamos é repetido de forma mais agressiva todos os dias", afirma Giandinoto.

Esse ciclo de problemas contínuos têm afectado não apenas a economia local, mas também a saúde mental e emocional dos habitantes. O stress causado pela constante preocupação com as questões básicas da vida, como o abastecimento de água, tem gerado sérios problemas de saúde entre os moradores. A pergunta que fica no ar é: "É humanamente possível continuar vivendo dessa forma? É sustentável?"

O desafio é ainda maior quando se observa a falta de mobilização da população local para exigir mudanças. "Ainda não chegou o momento de os cidadãos da Brava se comportarem como uma verdadeira comunidade, posicionando-se de forma unida. Por que o povo da Brava continua a queixar-se, mas, quando se junta para protestar, todos se escondem?", questionam. A falta de uma resposta coordenada à crise tem contribuído para a perpetuação dos problemas que afligem a ilha.

No fim das contas, a grande pergunta que ecoa entre os habitantes da Ilha Brava é: "Qual será o futuro da Brava? Haverá futuro para esta ilha ou está simplesmente destinada a desaparecer aos poucos?" Essas interrogações são um reflexo da profunda preocupação com a sobrevivência da ilha, que, apesar de sua beleza natural, parece estar sendo cada vez mais esquecida pelas autoridades e negligenciada em termos de investimentos e infraestrutura.

A luta de uma família e dos habitantes da Ilha Brava continua, mas o tempo está se esgotando. Sem uma resposta rápida e eficaz das autoridades competentes, a Ilha Brava corre o risco de perder o que a torna única: a sua comunidade, a sua cultura e o seu potencial para prosperar.

MS