Brava/Bandeira: “As festas profanas estão ocultando a tradição das festas de Nha Santana” – Coladeira Domingas Gibau
Domingas Gibau, a coladeira de todas a festas tradicionais da ilha, considera que “o tradicional e o cultural estão a ser ofuscados” pelas actividades profanas.
Domingas Gibau, a coladeira de todas a festas tradicionais da ilha, considera que “o tradicional e o cultural estão a ser ofuscados” pelas actividades profanas.
“A Bandeira está com dificuldades e nem sei explicar, porque nem como surgiu. Antigamente, para brincar, era só pegar a bandeira e sair a colar, ao som do tambor, pedir ao padre para dar a missa e benzer a bandeira. Depois seguir com a tradição da toca e do colá. Mas agora é baile, espectáculos com artistas, e o essencial está ficando de lado”, lamenta Gibau, em declarações à Inforpress
Segundo esta festeira, o que está a ser levado em conta hoje em dia são os negócios.
“Nós, os idosos, ainda tentámos a manter a tradição, mas está ficando um pouco difícil e muito longe daquilo que era de costume, porque toda a camada jovem está correndo para as festas e nem na missa participa muito”, lamentou.
Domingas Gibau afirmou que mesmo nos “comes e bebes” houve muitas alterações.
“Antes, era somente a canja e o pão, mas agora não. Temos de fazer bolos, feijoada, xerém, cachupa, arroz, cozido, bebidas de todos os tipos e qualidades, entre outras inovações que vão surgindo dia após dia”, referiu.
Gibau conta que desde criança vêm presenciando a evolução das festas de Nha
Santana e o que sempre admirava como se “brincava” antigamente.
“Sempre eram três Santana, mas festejadas somente num dia. Depois da missa, cada festeiro com a sua bandeira partia para a sua localidade, ao som tambor, com as coladeiras e os cavalos”,lembrou.
Domingas Gibau contou à Inforpress que depois começaram a haver desavenças entre os festeiros, brigas que, por causa disso tudo, o padre decidiu dividir estas festas, colocando cada localidade com o seu dia.
Confrontado com estas declarações, o autarca Francisco Tavares explicou à Inforpress “que esta é sim uma realidade”, mas que o que é preciso fazer é aproveitar do resultado da atracção que as outras actividades trazem, para envolver na preservação da parte original e tradicional, aquilo que é a festa da bandeira em si”.
E como forma de conciliar estas duas partes, o autarca da ilha avançou que no final destas festividades, que será em meados de Agosto, após a Nossa Senhora da Graça, pretende reunir com todas as comissões organizadoras para juntos encontrarem uma solução.
“Temos que chegar a um consenso, no sentido de preservar o tradicional e também promover o negócio. Ver uma forma em que todas as partes saem beneficiadas. Tanto a parte religiosa como a tradicional, como as partes profanas e económicas”, garantiu Tavares.
MC/JMV
Inforpress/fim