Brava: Comunidade de Lomba conscientes de que é preciso mudar de atitudes na educação das crianças
Os moradores da localidade de Lomba Tantum, na Brava, dizem-se conscientes de que são os pais que devem mudar as suas atitudes em relação à educação e limites aos filhos para terem uma comunidade melhor.
Os moradores da localidade de Lomba Tantum, na Brava, dizem-se conscientes de que são os pais que devem mudar as suas atitudes em relação à educação e limites aos filhos para terem uma comunidade melhor.
Este reconhecimento foi feito hoje, durante uma acção de sensibilização porta-a-porta feita pela técnica do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA), uma actividade organizada para assinalar o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, comemorado hoje, 12 de Junho.
Ao serem abordados, os moradores começaram a desabafar às diversas situações que vivem na zona, mesmo estando conscientes de que na maioria das vezes são eles, os pais, que permitem tais acontecimentos.
Em declarações à Inforpress, Reinaldo Meireles, morador da localidade, avançou que não há casos de trabalho infantil na zona, embora antigamente era uma prática frequente pois muitos pais colocavam os filhos na venda de peixe, ficando assim sem estudar.
Mas hoje, evidenciou que a problemática é outra, a questão da falta de limites nas crianças e que muitos não querem frequentar a escola e muitos pais não os obrigam, mas também a falta de horários para estarem em casa principalmente à noite.
“Deparámos com crianças a deambular pelas ruas altas horas da noite, outras na porta de bares, no meio de pessoas a fumarem e a consumir bebidas alcoólicas”, indicou, realçando que muitas vezes os pais estão em casa, mas as crianças se encontram na rua a fazerem o que bem entenderem e sem nenhuma fiscalização.
E neste sentido, parabenizou a técnica pela acção de sensibilização porta-a-porta, pedindo-a que faça isso mais vezes porque a zona precisa, tendo em conta que muitos adolescentes e jovens estão a se enveredar pelos caminhos dos males sociais.
Nesta mesma linha, Janaína Rodrigues, uma outra moradora, foi bem claro ao reconhecer que “a situação desta comunidade é crítica”, mas que quem são os maiores culpados são os próprios pais que possuem a noção do que o que os filhos fazem é errado, mas não coloquem limites e nem estabelecem regras.
Segundo a mesma fonte, as crianças não são fiscalizadas e não possuem limites, daí começam a se desviar ainda na idade de adolescente, o que está a reflectir na comunidade e nos comportamentos diários, reconhecendo que a zona não é má, mas são os próprios moradores que estão a transformá-la desta forma.
Por seu turno, a psicóloga do ICCA na ilha, Mileida Cabral, explicou que esta acção que serviu para inteirar mais sobre a situação das crianças na comunidade, teve como objectivo, sensibilizar e informar as pessoas dos impactos negativos que o trabalho infantil possui na vida das crianças e adolescentes.
Segundo a técnica, as pessoas devem se consciencializar de que o lugar das crianças é na escola e que estas têm de viver a infância com lazer, brincadeiras, que é próprio bom para o seu desenvolvimento.
Realçou que muitas vezes as pessoas confundem que o ICCA impede que as crianças apoiem nas tarefas de casa, mas defendeu que não é bem assim.
Conforme explicou, “as crianças têm de ajudar nas tarefas domésticas até para incutir nelas a questão da responsabilidade desde cedo, mas qualquer trabalho que exige algum esforço físico e mental e que coloca em perigo a saúde física e mental, social e mural das crianças é considerada prejudicial para a saúde das mesmas e não só”.
Neste sentido, Mileida Cabral pede aos pais e a sociedade em geral para deixarem as crianças serem crianças, para aproveitarem a fase para sonhar, para brincar, ter lazer, justificando que o trabalho com esforço que prejudica, não é para crianças.
Também pede à sociedade que denuncie qualquer caso que coloca em perigo e risco as crianças, porque caso não haja denúncias o ICCA não toma conhecimento e não tem como intervir.
Sobre as questões apontadas pelos próprios moradores e pais, realçou que é algo que tem estado a fazer sempre, mas o que vai fazer é reforçar a sensibilização, reforçar as conversas e palestras relacionados a esses assuntos nas comunidades, mas que os pais têm de se consciencializar das suas responsabilidades.
Pois, ressaltou que não é preciso o ICCA ou autoridades policiais estar a policiar para as crianças que ficam na rua até altas horas ou em locais inapropriados, pois os pais devem saber que o lugar das crianças em certos horários é em casa e há locais que são estritamente proibidos para frequentarem.
Sobre a questão do trabalho infantil, informou que na Brava recebe poucas denúncias e estas são feitas na época das chuvas e na altura das sementeiras.
O Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil é celebrado anualmente a 12 de Junho sob a égide da Organização Internacional do Trabalho, desde o ano de 2002, em que foi apresentado o primeiro relatório global sobre o trabalho infantil.
Este dia procura promover a consciencialização sobre as questões relacionadas com o trabalho infantil, assim como desenvolver ações e esforços para eliminá-lo.