Brava: Desenvolvimento e opções políticas da Câmara Municipal
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[b]Qualquer pessoa que visite a Brava é confrontada com uma ilha que parou no tempo. Nem a estrada asfaltada da furna consegue apaziguar o enorme atraso que a Brava regista no contexto cabo-verdiano. Há um vazio estratégico que se prolongou no tempo devido, sobretudo, a uma falta de estratégia local para se aproveitar as potencialidades da ilha, enquanto, as autoridades locais, parece, que não perceberam que o desenvolvimento da Brava só poderá ser uma realidade se aproveitarmos as nossas características locais e fazer deles o motor do desenvolvimento. [/b]
Não há desenvolvimento sem crescimento económico. Esta evidência parece tão claro mas, ao mesmo tempo, tão afastado da nossa realidade. Não há um projeto sustentável de desenvolvimento e a sensação que se tem é que se esta a espera de um milagre: certamente acontecerá algo que nos tirará do atraso de muitos anos e nos colocará na senda do crescimento económico, sempre houve e sempre vai haver: era o transporte marítimo regular e passou a ser o aeroporto, o nosso “milagre” do crescimento económico. Parece que a estratégia passou a ser “dar-nos o impossível ou improvável para esquecermos o possível”.
Enquanto esperamos pelo “milagre” do aeroporto, as famílias passam por enormes dificuldades: É basta andar cinco minutos pela Cidade de Nova Sintra para se ser confrontado com um desemprego gritante que atinge, de forma particular, jovens qualificados que não encontram na ilha oportunidades de emprego, sendo que os quadros formados têm a necessidade se saírem da Brava para outras ilhas ou para o estrangeiro.
A aposta nas FAIMO, Frente de Alta Intensidade de Mão-de-obra, que a década de 90 provou ser insustentável, pois, nem sempre o Estado tem necessidade e capacidade para enviesar por esta via, voltou em força e é uma aposta regular da Câmara Municipal, sendo esta uma política descontextualizada da atual situação da ilha e do país, porque, o desemprego que se assiste hoje na ilha e no país é muito diferente do desemprego que existia na década de 90, em que o desemprego atingia, sobretudo, a mão-de-obra não qualificada.
Quando constatamos os investimentos realizados pela Câmara Municipal no mercado municipal, na praça Eugénio Tavares e Esplanada, investimentos que ascendem a quarenta mil contos (40.000.000$00), realizados através dos empréstimos, apercebe-se que o problema da Câmara Municipal nunca foi a falta de recursos financeiros, pois, quando se quis construir obras públicas o dinheiro apareceu, através dos empréstimos bancários ou por outras vias, mas o facto é que apareceu, numa conjuntura em que, por consequência do mau ano agrícola e do crescimento económico anémico, as famílias passavam por dificuldades acrescidas.
Definir prioridades é também tarefa dos políticos e entender que, numa altura de crise no país e na ilha e perante a situação dramática das famílias, o investimento que há maior necessidade é a praça, o mercado e a Pousada, demonstra um afastamento total das reais preocupações dos cidadãos, obras sobre os quais, não se vislumbram nenhum sentido estratégico para o desenvolvimento da ilha.
As famílias e os bravenses não podem viver mal e a Camara Municipal estar a fazer um bom trabalho, numa desresponsabilização permanente. Os recursos financeiros que são utilizados tanto pela Camara Municipal como pelo Governo são recursos públicos e a sua utilização deve visar a melhoria do bem-estar das pessoas definindo as prioridades e atuando em consonância.
A praxis política da gestão da Câmara Municipal demonstra que a ausência de política social, sobretudo, para a camada juvenil, onde por exemplo, a Câmara não teve recursos financeiros para patrocinar a ida da seleção da Brava para a participação na taça independência, e a sua incapacidade em gerar emprego na ilha, não é por falta de recursos financeiros, mas sim, por opção política. Esta opção de investir em grandes obras públicas deixando as famílias e os bravenses de lado, é uma opção política, que deve ser respeitada, mas também, assumida pela gestão Camarária atual.
Por isso, os Bravenses não devem, de forma alguma, aceitar a desresponsabilização permanente da Câmara Municipal que, perante a situação penosa das famílias, responsabiliza o governo, pois, sendo o poder mais próximo das famílias, o poder autárquico, também deve agir em conformidade com a realidade e não em investimentos que não vão ao encontro das necessidades mais urgentes e prementes da população.
O que gera desenvolvimento é o crescimento económico, que gera emprego, rendimento para as famílias e dinamiza a economia, pelo que, a aposta desenfreada em grandes obras públicas por parte da Câmara Municipal, não vai ao encontro das reais necessidades da Brava, que enfrenta a maior vaga de emigração “forçada” por falta de alternativas na ilha.
A emigração forçada é o maior problema que a Brava enfrenta hoje, sendo que não se vislumbram políticas sociais e económicas para atenuar esse problema.
Jonathan Vieira