Brava, "exemplo" de conservação de edifícios públicos. Sarcasmo à Parte, urge acção para salvar patrimônio público em degradação
Vila Nova Sintra, 9 de Abril de 2025 (Bravanews) – Se a intenção fosse laurear a Ilha Brava com um prémio pela primorosa gestão e conservação do seu património público histórico, o júri certamente encontraria matéria farta para uma análise... em tom puramente sarcástico.

A realidade clama por atenção urgente para a progressiva e alarmante degradação de edifícios que deveriam servir a comunidade, mas que, ao invés, exibem as marcas do abandono e da negligência. A Escola Central de Nova Sintra, a Escola de Nossa Senhora do Monte e o outrora promissor auditório municipal são apenas alguns exemplos da lista crescente de estruturas que clamam por intervenção imediata. Contudo, é o caso da ruína da aerogare antigo aeródromo de Esparadinha que se erige como o mais paradigmático e incompreensível testemunho de um investimento avultado desperdiçado.
A ironia de considerar a Brava um "exemplo de conservação" torna-se ainda mais pungente ao confrontarmos a retórica oficial, porventura existente, com a triste imagem que muitos edifícios públicos apresentam. A Escola Central de Nova Sintra, um espaço que deveria ser um farol de conhecimento e um ambiente acolhedor para os estudantes, exibe sinais visíveis de desgaste, fechada, abandonada e sem sinais de voltar aos anos aureos. A situação não parece ser diferente na Escola de Nossa Senhora do Monte, onde a falta de manutenção adequada pode estar a prejudicar as condições de ensino e aprendizagem.
O auditório municipal, por sua vez, outrora palco de eventos culturais, encontros comunitários e celebrações, parece caminhar a passos largos para a obsolescência, com a sua deterioração a privar a Brava de um espaço crucial para a vida social e cultural da ilha. A inação perante a degradação destas infraestruturas essenciais levanta sérias questões sobre as prioridades das autoridades responsáveis e sobre a sua capacidade de zelar pelo património que serve a população.
No entanto, é o melancólico espectáculo da aerogare do antigo aeródromo de Esparadinha que atinge o auge do descalabro na gestão de bens públicos. A imagem desoladora das ruínas de uma infraestrutura que consumiu um investimento superior a 100 mil contos – o equivalente a um milhão de dólares – clama por uma explicação que teima em surgir. Como é possível que um montante tão significativo de recursos financeiros tenha sido aplicado num projeto que, aparentemente, foi deixado ao abandono, permitindo que as intempéries e a falta de manutenção o reduzissem ao estado deplorável que as fotografias certamente evidenciam?
A ausência de uma estratégia clara de gestão e manutenção para este investimento de grande envergadura, que nunca foi usada (o aeródromo foi fechado em 1999) revela uma falha grave na planificação e na supervisão de projetos públicos na Brava. A perda deste potencial pólo de desenvolvimento e de ligação da ilha com o exterior representa não apenas um desperdício de dinheiro público, mas também uma oportunidade perdida para impulsionar o crescimento económico e social da Brava.
A passividade perante a degradação do património público não é apenas uma questão estética; ela acarreta consequências práticas significativas para a vida dos cidadãos. Escolas em mau estado podem comprometer a qualidade da educação, auditórios degradados limitam o acesso à cultura e ao lazer, e a ruína da aerogare de um aeródromo representa uma barreira ao desenvolvimento económico e à conectividade da ilha.
É imperativo que as autoridades responsáveis na Brava e a nível nacional despertem para a urgência desta situação e adotem medidas concretas para reverter este quadro de abandono. A realização de um levantamento exaustivo do estado de conservação dos edifícios públicos, a definição de prioridades de intervenção com base nas necessidades mais prementes e a alocação de recursos adequados para a sua recuperação e manutenção são passos essenciais.
A transparência na gestão dos recursos públicos e a responsabilização dos responsáveis pela negligência na conservação do património são igualmente cruciais para evitar que situações como a da aerogare do aeródromo de Esparadinha se repitam. A comunidade bravense merece saber o que aconteceu com este investimento avultado e quais as medidas que serão tomadas para evitar que outros bens públicos sigam o mesmo caminho de ruína.
Em vez de servir de "exemplo" negativo de como não gerir o património público, a Brava tem a oportunidade de inverter este cenário e de demonstrar um compromisso real com a preservação dos seus bens comuns. A recuperação e a manutenção adequadas dos edifícios públicos não são apenas uma questão de responsabilidade administrativa, mas também um investimento no futuro da ilha e no bem-estar da sua população.