Brava: Festeira de Santa Cruz diz estar preparada para cumprir mais um ano da sua promessa feita há 24 anos
Maria Gonçalves, mais conhecida por Barbinha, da localidade de Braga, ilha Brava, disse hoje estar preparada para cumprir mais um ano da sua promessa feita há 24 anos para festejar Santa Cruz, no dia 03 de Maio.
Maria Gonçalves, mais conhecida por Barbinha, da localidade de Braga, ilha Brava, disse hoje estar preparada para cumprir mais um ano da sua promessa feita há 24 anos para festejar Santa Cruz, no dia 03 de Maio.
Barbinha é uma sexagenária residente na localidade de Braga e no meio das dificuldades impostas pela saúde e do dia-a-dia, como revelou, todos os anos nesta época já está preparada para cumprir a sua missão, que assumiu há 24 anos, de festejar Santa Cruz na zona de Favatal, fruto de uma promessa e da fé que deposita nesta santa.
Nos anos anteriores, devido à situação vivida no mundo e no País, provocada pela pandemia da covid-19, festejou de uma forma diferente, com distribuição de cestas básicas a algumas famílias, escolhidas pelos emigrantes que a apoiam, colocaram a cruz no lugar de sempre, com a presença de sete pessoas e fizeram uma canja para oferecer a qualquer pessoa que passasse pelas redondezas.
Esta festeira recordou que há 24 anos uma senhora de 88 anos, que festejava Santa Cruz, a festa que dá abertura às festas de Romaria e com tradição do “pilon” na Brava, já se sentia um pouco debilitada e impossibilitada de continuar esta missão, no meio de todos que aí se encontravam, incumbiu-lhe esta missão de dar continuidade aos festejos.
Conforme contou Barbinha, quando assumiu o compromisso a festa era feita com pedaços de pão, café ou sumo, conforme a possibilidade dos festeiros, que eram colocados numa toalha no chão e cada um dos presentes neste ritual se servia.
Após tomar a responsabilidade, Barbinha começou a cozinhar e, no primeiro ano, fez uma panela e ao chegar ao quarto ano já fazia seis, sendo que este ano pretende fazer mais do que dez, quantidade que vem cozinhando há já vários anos.
Mas a festeira deixou bem claro que ela faz a festa e a comida, mas que não é com o seu dinheiro, pois ela vive com o que ganha da sua pensão.
Na verdade, explicou, a ajuda financeira vem da população bravense e dos emigrantes, que contribuem cada um conforme a sua possibilidade, até porque, como salientou, se for uma caixa de fósforos que seja, também “é bem-vinda”, e que para este ano prevê “alguma surpresa” para os visitantes, sem adiantar mais detalhes.
Entretanto, Barbinha lembrou que fazer esta festa não é só comida e os outros rituais, mas que é necessário “colocar no pensamento e na memória o que realmente significa a Cruz que é festejada”.
Segundo a mesma fonte, este ano calhou numa “época especial”, tendo em conta que há pouco tempo celebrou-se a Paixão de Cristo e a Páscoa, e a Cruz é a celebração da morte e Paixão de Cristo.
Barbinha explicou que a festa normalmente inicia-se no dia 02 com o “pilon” e, no dia 03, na parte da manhã, vão à igreja assistir a missa, vestem a Cruz de capa vermelha, colocam flor, e andam nas ruas de casa em casa, tocando trombeta e tambor, com as coladeiras, e há bailarinas que dançam a “colinha”, uma dança especial em que trajam saia e calça preta, com camisas vermelhas.
Sobre a tradição em si, o “pilon” na Brava é onde as pessoas preparam o milho para uma parte das comidas que são servidas na véspera e no dia do santo padroeiro.
Esta festeira contou que habitualmente tem mais de 200 pessoas para dar de comer, pois a festa já não é somente da ilha, mas vêm pessoas de outras paragens do arquipélago, para além de turistas e emigrantes, que participam neste ritual.
E mesmo com a situação vivida durante a pandemia garantiu que a tradição não morreu devido à sua fé e a fé que as pessoas que lhe têm apoiado depositam na Santa Cruz, prometendo ter “festa rija” este ano.
“Tenho povo mais do que comida e é assim que espero contar este ano. E que o pouco que tiver possa chegar a todos como em todos os anos anteriores”, finalizou a festeira, salientando que todos os anos, na altura de suspender a cruz, são muitos que colocam a mão, mas não dá a ninguém para levar e festejar na sua casa ou na sua zona.