Brava mais uma vez isolada, num crescendo de indignação face à falta de ligações marítimas

Cidade de Nova de Sintra, 22 de Abril de 2025 (Bravanews) – A Ilha Brava enfrenta mais um período de isolamento preocupante, levantando uma onda de indignação entre os seus residentes e figuras públicas. A Cabo Verde Interilhas (CVI), empresa concessionária das ligações marítimas interilhas, admitiu, através de um alto quadro visivelmente constrangido, depois do acidente com o navio Liberdadi que a “ilha das flores” e os seus habitantes permanecerão isolados por alguns dias, enquanto se procura uma solução para restabelecer as ligações.

Apr 22, 2025 - 16:10
 0  117
Brava mais uma vez isolada, num crescendo de indignação face à falta de ligações marítimas

Este novo isolamento reacendeu a antiga frustração da população bravense, que se sente repetidamente negligenciada e desconectada do resto do país. A frequência com que a ilha é deixada sem ligações marítimas confiáveis levou alguns a expressarem, em tom de desespero, a sensação de que a Brava poderia, um dia, transformar-se numa “Jangada de Pedra”, numa alusão à obra de José Saramago, navegando rumo à costa leste dos Estados Unidos como forma de protesto contra o tratamento recebido.

Sara Lopes, antiga deputada nacional, manifestou a sua veemente discordância com a situação. “Não devia ser assim. Num contexto em que as ligações entre as ilhas estão concessionadas a uma empresa, o Estado Concedente deve determinar as prioridades. E as prioridades devem ser sempre as ilhas sem outras alternativas de mobilidade. Eis uma das falhas desse contrato de concessão. Não tendo aeroporto e sendo demasiado periférica para interessar ao mercado, por isso sem outras alternativas, deve ser uma das principais prioridades do contrato de concessão”, defendeu a antiga parlamentar.

Carlos Burgo, antigo Ministro das Finanças, também se pronunciou sobre o assunto, responsabilizando diretamente o Governo de Cabo Verde pela situação. “Quem em última instância responde pela ligação da Brava ao resto do país é o Governo de Cabo Verde. Numa situação como esta em que a concessionária revela-se incapaz de garantir o serviço, cabe ao Governo – que até tem um Ministro dos Transportes – intervir. Que o barco da POLAR tenha vindo ao Fogo sem que as autoridades nada tenham feito para que também se deslocasse à Brava traduz um inaceitável descaso e merece o maior protesto”, afirmou o antigo governante.

A indignação também se fez sentir por parte de empresários do setor marítimo. Andy Andrade, fundador da Cabo Verde Fast Ferry, lamentou a falta de consideração da CVI para com os passageiros retidos na Brava. “O barco Interilhas da agência Polaris fez ligação Praia/Fogo/Praia hoje, mas a CVI não teve consideração com os retidos na ilha para fretar o mesmo na ligação Fogo/Brava/Fogo. O barco já está em viagem de regresso à Praia. Sempre existem alternativas quando existe interesse e respeito”, criticou o empresário.

A ausência de um aeroporto na Brava torna a ilha particularmente dependente das ligações marítimas, e a recorrência de interrupções no serviço tem sérias implicações para a economia local, o acesso a serviços essenciais e a vida quotidiana dos seus habitantes. A população clama por uma solução urgente e por uma maior atenção por parte das autoridades competentes, de forma a garantir que a Brava não continue a ser a “última” das prioridades de conectividade do arquipélago. A questão do contrato de concessão e a necessidade de o Estado intervir para salvaguardar os interesses das ilhas mais isoladas ganham, assim, renovada urgência.