Brava: Maria Marcelina “Sãozinha” é uma mulher de muito aprendizado e apaixonada pela pesca

Maria Marcelina, conhecida por Sãozinha, 39 anos, é residente na zona piscatória de Lomba e a sua paixão pelo mar sempre falou mais alto do que as outras “voltas” que ela dá para sustentar a família.

Jul 15, 2019 - 04:48
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Brava: Maria Marcelina “Sãozinha” é uma mulher de muito aprendizado e apaixonada pela pesca

Maria Marcelina, conhecida por Sãozinha, 39 anos, é residente na zona piscatória de Lomba e a sua paixão pelo mar sempre falou mais alto do que as outras “voltas” que ela dá para sustentar a família.

A Inforpress foi até Lomba conversar com esta mulher que sai de casa muitas vezes de madrugada ou ao anoitecer e só regressa na manhã do dia seguinte, mediante a quantidade de peixe pescado.

Maria Marcelina contou à Inforpress que estudou até o terceiro ano, porque, quando iniciou a quarta classe, três dias depois, os pais tiraram-na da escola para ajudar na criação dos irmãos mais novos.

E neste momento, conforme realçou, o seu maior desejo era ter estudado, porque, diagnostica, talvez se tivesse estudado um pouco mais, principalmente alguns problemas de saúde que tem agora não seriam tão frequentes.

“Tenho uma hérnia discal, que foi originado da grande quantidade de cargas que carregava na altura com nove anos de idade e hoje, não consigo nem carregar 15kg de peixe para vender, mas mesmo assim, devido às complicações da vida, tenho de carregar nem que seja aos poucos, procurando o sustento da família”, salientou a pescadora.

Segundo a mesma, hoje com a idade que possui, ainda não tem um emprego fixo. Mas dedica-se a um pouco de tudo, desde a venda de peixe e verduras, à confecção de doces e salgados e à pesca.

De acordo com a mesma fonte, tudo o que faz, faz com paixão e dedicação. Mas, a sua paixão pela pesca é maior, mesmo sabendo das “complicações e das adversidades” do mar.

Sãozinha contou que nasceu à beira do mar, filha de pescador e passavam muito tempo numa zona chamada Portete, onde a pesca era 24 sobre 24 horas.

Conforme a mesma, o seu pai saía para a faina, ela ficava na terra aguardando-o para depois sair na venda, coisa que fazia duas vezes ao dia, a pé e com os pés descalços porque não havia carro e nem sapatos.

E enquanto o pai estava no mar, ela arranjava os seus materiais de pesca e armava alguns materiais para outros pescadores, onde era compensada com anzol, entre outros, e assim poderia ir ao mar, pescar em cima das pedras e quando o pai regressava, ela já tinha pescado alguma quantidade de peixe e de lapas, embora, conforme realçou, na época, o peixe era barato e não tiravam grandes lucros.

“Daí começou a crescer esta paixão pelo mar, pela pesca, e quando não havia nada em casa para o jantar, corria até o mar e voltava sempre com algum peixe”, contou a mesma fonte.

Foi crescendo e aos poucos começou a sair com o pai no bote, e depois que cresceu, mesmo tendo que cuidar dos filhos, sempre que podia ia à pesca com o seu companheiro.

E agora que estão exigindo cédulas, ela garantiu que vai adquirir a sua, para assim poder ir à faina sempre que lhe der vontade.

Questionada como é o processo, a mesma fonte disse que há dias em que saem por volta das quatro da madrugada, outras em que vão à noite e regressam ao amanhecer, conforme for a necessidade e a intenção daquilo que querem pescar e, na pesca, garante, faz tudo o que um pescador faz.

Sãozinha é mãe de quatro filhos e três ainda estão na escola. O primeiro, conforme contou, não está a estudar, porque repetiu por duas vezes no 9º ano e a solução que encontrou foi tirar-lhe da escola. Decisão que lamenta ter tomado porque, de acordo com a mesma, após a sua saída da escola, o filho saiu de casa e a vida desde então tem lhe sido “ingrata”.

Quanto aos outros, insiste com eles porque até hoje ela possui mágoas por não ter mais estudos e a escola, assegurou, é a “única riqueza” que pode dar aos filhos.

Em termos de trabalho, Sãozinha apela aos jovens e à sociedade em geral que “não se dediquem apenas a uma profissão, explorem diversas outras áreas porque só assim é possível driblar o desemprego e se auto-sustentar”, finalizou Maria Marcelina.