Brava: Moradores das localidades de Garça e Baleia à “mercê da sorte e dos desígnios de Deus”

Os poucos moradores da localidade de Garça e alguns da zona de Baleia dizem-se “abandonados” à sorte de Deus, mas “confortados” com o que a natureza lhes tem oferecido.

May 23, 2019 - 06:47
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Brava: Moradores das localidades de Garça e Baleia à “mercê da sorte e dos desígnios de Deus”

Os poucos moradores da localidade de Garça e alguns da zona de Baleia dizem-se “abandonados” à sorte de Deus, mas “confortados” com o que a natureza lhes tem oferecido.

Ambas as localidades, ficam após a zona de Mato Grande, a única localidade mais próxima das duas com acesso a estrada, pois, ambas ainda se encontram encravadas e aos poucos a população está diminuindo.

Logo ao chegar a Mato Grande, a primeira impressão ao ver para estas zonas, é que as mesmas estão desabitadas, pois, a terra está árida e seca, os poucos animais que ainda os criadores “insistem” em criar, estão andando de monte em monte, “covoada em covoada”, a procura de algum pasto, ou mesmo de um “pingo” de água para matarem a sede e a fome.

Sem um meio de transporte que lhes facilita na deslocação, é o asno, que é utilizado para transportar água, compras, e tudo que for necessário, pois, nestas zonas, os jovens quase não são notáveis, ficando as localidades entregues aos idosos e as crianças.

Antigamente, conforme contou Abel da Graça, um morador que nasceu criou e até hoje, na sua “velhice”, mesmo sozinho, continua vivendo na zona, Garça era uma zona em que toda a espécie de plantação produzia e muito.

“Mandioca, batata-doce e comum, banana, milho, feijão, era o nosso sustento e estes terrenos eram férteis. Mas hoje, podemos criar alguma cabeça de animal por teimosia, porque nestas terras nem pastos há mais”, contou Abel, com as mãos trémulas, mas com lágrimas nos olhos.

Segundo o mesmo, hoje maioria de quem vive nesta zona, sobrevive graças a pensão social e de algum apoio que pessoas de outras zonas lhes oferecem, ou então, os poucos jovens que ainda estão por aí, procuram a vida no mar ou quando há oportunidade de trabalharem para terceiros, embora não tem sido um hábito frequente.

Logo na entrada da Garça, a Inforpress encontrou a senhora Ana da Lomba, mãe de cinco filhos, e um é paraplégico. Naninha, como é também conhecida, contou que o filho sente convulsões e muitas vezes, já viu o filho quase a morrer, enquanto espera apoios de vizinhos, que na verdade são poucos que residem aí, e de apoios de pessoas de Mato Grande, para fazê-lo chegar até o hospital.

No dia-a-dia, segundo Naninha, estão vivendo da pensão social, de um pouco de leite que ainda as suas cabras estão produzindo e da venda de rendas que ela faz.

Questionada sobre a situação da zona, a moradora elencou além da falta de estrada, a falta de água, que já lá vão vários dias que não viram a cor deste líquido nas suas torneiras, como também o problema da iluminação pública que a noite não funciona, mesmo pagando por este serviço, a rede móvel que é precária e mesmo as estações de rádio e da televisão pública que não funcionam muito bem na zona.

Na zona existem muitas casas fechadas, de pessoas que conforme os poucos moradores que ainda estão na Garça contaram, por “desânimo” da situação em que viviam, procuraram outras zonas da ilha ou então com apoio das famílias emigraram.

Há cerca de dez minutos da Garça, encontra-se o povoado de Baleia. Pessoas simples, que enfrentam muitas dificuldades, idênticas aos da população da Graça, mas a esperança, o brilho no olhar e o sorriso nos lábios, é algo que não falta a estas pessoas.

A semelhança da outra zona, vivem da criação de gado e da pesca, assim também, de alguns apoios dos emigrantes, pois, na Baleia também, a emigração é constante e sempre que emigram, não fica nenhum membro da família, tem sido prática, todos emigrarem de uma só vez, família por família.

Entretanto, das poucas pessoas que vivem nestas duas zonas, o “desespero” é algo que nunca tomou conta deles, pois acreditam que “dias melhores virão e tudo que está acontecendo é desígnio de Deus”, por isso, movidos pela fé, a persistência é continuar nas localidades, independentemente das dificuldades que enfrentam, “até a morte”.