Brava: Moradores de Fajã d´Água “conformados” com isolamento fruto da realidade que sempre esteve confinada a ilha

Os moradores da localidade de Fajã d’Água dizem estar a viver “momentos conturbados”, mas que se encontram “conformados” com o isolamento, devido à realidade que a Brava sempre viveu.

Feb 8, 2023 - 03:07
 0  64
Brava: Moradores de Fajã d´Água “conformados” com isolamento fruto da realidade que sempre esteve confinada a ilha

Os moradores da localidade de Fajã d’Água dizem estar a viver “momentos conturbados”, mas que se encontram “conformados” com o isolamento, devido à realidade que a Brava sempre viveu.

A localidade ficou isolada desde 21 de Janeiro, após uma derrocada que além de rocha e terra levou consigo um troço de estrada e desde então, estão a ser estudadas algumas alternativas para uma via automóvel, enquanto se constrói uma via pedonal que já se encontra na sua recta final.

A Inforpress foi constatar a situação vivida localmente e inteirar-se das dificuldades que os moradores estão a enfrentar, tendo em conta que quase tudo o que necessitam tem de ser transportado e encontrado na cidade de Nova Sintra, começando pelo acesso à saúde, escola, produtos alimentícios, combustível para os botes, entre outros.

Em conversa com a Inforpress, José Andrade, posicionando-se como porta-voz dos moradores e de um grupo de empreendedores na localidade, considerou que a situação de isolamento que Fajã d’Água está a vivenciar agora devido à derrocada é “complicada”, mas a comunidade encontra-se “conformada” fruto da situação a que a Brava sempre esteve habituada, no que tange a questão do isolamento.

Nesse momento, a mesma fonte sublinhou que estão a finalizar a via pedonal que acredita que vai ser uma “mais-valia” para a zona nessa fase, explicando que estão a trabalhar nela de forma a permitir mais e melhor facilidade na locomoção das pessoas, principalmente crianças e pessoas adultas.

Entretanto, mesmo com o “conformismo” da comunidade e com a alternativa pedonal, diz não descartar a necessidade de se pensar numa alternativa automóvel para desencravar a localidade, reforçando que pelo facto das pessoas estarem a adaptar a “realidade do isolamento” não quer dizer que o Governo não deve ter pressa para reverter esta situação.

“As autoridades não estão a se pronunciar muito, as informações que temos são escassas, mas penso que se deve agilizar com o processo porque as consequências após a derrocada e o tempo de isolamento somente surgirão mais tarde”, indicou.

Igualmente, relembrou que na localidade existem alguns investimentos, sendo alguns antigos e outros recentes que estão todos estagnados, considerando que esta situação para o sector turístico e para a classe dos empreendedores na zona foi praticamente uma “morte”, sem condições para clientes, sem condições para dar continuidade às obras e com responsabilidades a serem liquidadas no final do mês.

Além disso, alertou para a necessidade de se pensar numa via alternativa, apoiando a hipótese de fazer a ligação através de Palhal-Portete-Esparadinha, sublinhando que a zona de Fajã d´Água é uma zona de risco e a cada dia o risco está a aumentar e com o nível de gravidade, caso não forem equacionadas algumas medidas em condições pode haver tragédias mais adiante.

“Não é a primeira vez que estamos a presenciar derrocadas na via de ligação para a zona, nos 20 anos que já tenho na localidade esta é a quinta vez que ficamos isolados”, recordou a mesma fonte, indicando que sempre foram equacionadas soluções pontuais que no final sempre apresentam “fracassos”.

“Na Brava temos sempre problemas de transporte e sempre somos confrontados com a situação do isolamento e na localidade as coisas estão a complicar cada vez mais”, disse, solicitando ao Governo um olhar diferente para a Brava, principalmente na criação de condições para que as pessoas possam viver de uma melhor forma no que tange ao desenvolvimento e melhores condições de vida.

Ainda, no seio dos moradores, Sónia Baptista, presidente da associação local, também demonstrou a sua preocupação, não divergindo dos apontados acima, mas explicando principalmente as dificuldades que as crianças de Esparadinha, povoado mais distante da zona de Fajã d´Água estão a enfrentar para assistir às aulas.

Segundo a mesma fonte, estas crianças têm de se levantar antes das 06:00 para saírem de casa bem cedo, trazer água e sapatos numa bolsa para lavar os pés ao alcançarem a estrada e depois apanhar o carro que lhes transportam até às referidas escolas onde estudam.

“Não é uma zona grande, mas a preocupação é com as crianças e os idosos”, enfatizou.

Por ser uma zona piscatória, contou que têm de se reunirem em grupos e solicitar o combustível na cidade de Nova Sintra recorrendo ao aluguer de um carro, a mesma forma que acontece quando estão a deslocar-se para Nova Sintra para as compras ou outros afazeres, onde têm de se juntar em grupo para chamarem um carro porque agora não há fretes frequentes para a zona.

Já em relação ao peixe, caso o bote for ao mar conseguir alguma quantidade que não compensa deslocar um carro, guardam-no na arca para um outro dia que houver maior quantidade.

Mesmo assim, Sónia Baptista avançou que estão a passar por esta situação com serenidade, justificando que “entrar em desespero é pior e sempre aceitaram e foram confrontados com o isolamento da própria Brava”, mas espera que algo possa mudar esta situação para assim superar e vencer este momento menos bom que está a afectá-los em todos os sentidos.

Sobre a construção ou a solução para uma via automóvel, diz ser necessário, relembrando que estão cerca de nove viaturas de pessoas de outras localidades presas em Fajã d´Água.

Na página do Facebook da Câmara Municipal da Brava, o presidente, Francisco Tavares, fez uma publicação descrevendo que após duas semanas da derrocada, “tudo está se revelando mais difícil, necessitando de mais esforços, muito mais tempo e um grande trabalho, e para se chegar ao topo da rocha que desabou a máquina está fazendo um trabalho de abrir uma via de acesso, por cima, a partir de num ponto da estrada distante do local que necessita intervenção”.

Nesse mesmo post referiu que “o Governo de Cabo Verde já solicitou o trabalho de uma empresa que já iniciou as intervenções”.