Brava: Mulher é capaz de fazer tudo desde que o faça com amor e dedicação – Adelina Lopes

A septuagenária, Adelina Lopes, que se dedica a rendas, bordados, costura, artesanato e outras valências garantiu hoje que a mulher é capaz de fazer tudo desde que o faça com amor e dedicação.

Mar 29, 2023 - 02:51
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Brava: Mulher é capaz de fazer tudo desde que o faça com amor e dedicação – Adelina Lopes

A septuagenária, Adelina Lopes, que se dedica a rendas, bordados, costura, artesanato e outras valências garantiu hoje que a mulher é capaz de fazer tudo desde que o faça com amor e dedicação.

Dona Adelina, como é carinhosamente chamada por todos na Brava e pelos que a conhecem, tem hoje 72 anos e desde criança alimentou a sua paixão pela área de confecções e produção de rendas, bordados, costura e artesanato que foi uma “mais-valia” num período “menos favorável da sua vida”.

A Inforpress foi conhecer a história dessa mulher que tem as suas peças em todos os cantos da ilha, mas também por várias partes do mundo, neste dia que se comemora o Dia da Mulher Cabo-verdiana.

Natural e residente em Nova Sintra, Dona Adelina contou que desde criança conviveu com pessoas que trabalhavam nessas áreas e com a sua curiosidade ia seguindo com os olhos os passos que davam para manusear os tecidos, as agulhas e as linhas.

Com 14 anos começou a exprimir, com trabalhos práticos, a paixão que vinha nutrindo desde muito cedo. E sem a possibilidade de adquirir materiais, na altura, aproveitou alguns sacos de nylon e com esta linha aprendeu a fazer o ponto matiz e com os poucos materiais que conseguiu, foi praticando e aperfeiçoando-se aos poucos.

Mas, o tempo foi passando, cresceu, constituiu a sua família. Um dia a sua casa pegou fogo.

“Com filhos, sem casa, sem nada, era necessário renascer das cinzas e reconstruir a vida”, destacou esta costureira.

Foi nesta altura que começou a produzir calcinhas e sutiãs, além dos bordados e das rendas para vender e conquistar tudo que tinha perdido nessa “tragédia”.

Com o empenho e a dedicação, realçou que conseguiu e dessa data em diante, dedicou-se a tudo aquilo que teve chance de aprender, sem deixar de lado aquilo que sempre foi a sua paixão, a renda e o bordado.

Na costura, sublinhou que já produziu peças de todos os tipos e qualidades, desde calcinhas e sutiãs que chegou a exportar para o exterior, a conjuntos para crianças, enxovais, roupas para diferentes ocasiões, buquês de noivas, entre outras.

Mas também, na sua veia corre o sangue que lhe incentiva ao artesanato, seja com papel ou tecido, plástico ou cartões, dependendo do desejo dos clientes.

É nesta área de confecções que diz com toda a alegria que foi mulher no passado, é mulher hoje e sempre teve uma profissão como uma prova de que as mulheres “podem e conseguem” fazer qualquer coisa, desde que façam com amor e dedicação.

Além disso, enfatizou que sempre defendeu que a mulher tem de trabalhar para ter um troco nem que seja pouco, mas que sabe que é o seu suor, que é algo conquistado com as suas mãos sem depender do marido ou quem quer que seja.

Hoje, com a idade que possui, para mostrar que o saber também não tem idade nem fronteiras, entrou para o projecto Renda Brava, onde tem aprendido técnicas novas de produção de rendas, que segundo a mesma, em mais de 50 anos a trabalhar nesta área, nunca tinha visto algo idêntico.

“É algo bonito e estranho. Sou a mais velha do grupo e nunca na minha vida tinha presenciado algo igual”, proferiu, reforçando que a mulher tem de desafiar a sua capacidade e sair da sua zona de conforto, procurando aprender sempre que houver oportunidades.

E, falando em aprendizagem, lamenta o facto de não ter a chance de passar o seu legado de geração em geração, uma vez que nem filhos e nem netos demonstram interesse em aprender, uma prática que conforme assumiu, está a cair em desuso porque a camada mais jovem não está interessada em aprender rendas e bordados, muito menos a costura.

Mas, Dona Adelina diz que se sente feliz em ensinar e não perdeu as esperanças de que ainda vai aparecer alguém com coragem para aprender e mais tarde vai ser um orgulho para ela ver esta outra pessoa a brilhar com aquilo que ela conseguiu transmitir.

Quanto ao seu trabalho, informou que já fez a sua apresentação nos Estados Unidos da América, exposições na Cidade da Praia, em São Vicente, mas sabe que as suas peças já rodaram o mundo.

“Enquanto houver vida e saúde vou continuar a trabalhar e a presentear as pessoas com o meu trabalho, as minhas produções”, finalizou, relembrando a todas as mulheres que elas podem e conseguem sair da zona do conforto e fazer tudo o que desejarem, desde que seja com amor para que tudo possa dar certo, sem esquecer que “o saber não ocupa espaço”.