Brava/Nha Santana de Mato: “Pilon não é nada mais, nada menos do que um retrato da nossa vivência” – organização

João Louro, membro da organização das festas de Nha Santana de Mato explicou que o tradicional “pilon”, não é nada mais, nada menos, do que um retrato da vivência do povo cabo-verdiano.

Jul 26, 2019 - 04:10
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Brava/Nha Santana de Mato: “Pilon não é nada mais, nada menos do que um retrato da nossa vivência” – organização

João Louro, membro da organização das festas de Nha Santana de Mato explicou que o tradicional “pilon”, não é nada mais, nada menos, do que um retrato da vivência do povo cabo-verdiano.

“Pilon é uma tradição, porque na ilha e em várias outras do país, praticamente, vivemos da agricultura e da pecuária e um pouco da pesca. Daí, na antevéspera das festas é feito o “pilon”, onde as pessoas preparam o milho para uma parte das comidas que são servidas na véspera e no dia da Santa Padroeira”, explicou João Louro.

De acordo com o mesmo, este milho é aproveitado para fazer a cachupa, o xerém, batanca, cuscuz e, por isso, chamam isso de “pilon”, porque muitos dependem das comidas provenientes do milho para se alimentarem no dia-a-dia.

E, segundo o mesmo, não importa se o ano agrícola foi bom ou não. Pois, realçou, mesmo que seja com um litro de milho, “pilon” tem de ter nas festas, porque, já é hábito, desde os seus antepassados, na antevéspera, principalmente na zona, ao fechar da noite, os tamboreiros se reunirem e começarem a tocar, e isto, é um chamariz para as pessoas que vivem ao redor da localidade que há “pilon”.

Logo por volta das 20:45, começaram a toca, a cantar o colá, a cochir e aos poucos, o “barco” onde é feito este ritual, encontrava-se lotado de pessoas da zona e que vieram de localidades próximas para entrarem no ritmo do colá.

Questionado sobre o porquê do barco e de tantos outros que existem na ilha, e que normalmente são utilizados somente na época das festas de bandeira, a mesma fonte explicou que é a representação da emigração.

“Esta embarcação é tipo uma homenagem que fazemos às embarcações. Aliás, como contam, a primeira viagem feita para o exterior foi a partir da ilha Brava, nos barcos de Baleia. E é por isso, que temos pessoas que trajem com trajes de marinheiros, capitão e a tripulação dos navios”, realçou o organizador.

Aida Cardoso, uma outra organizadora, disse à Inforpress que esta festa, esta tradição, para ela, é um ponto alto, algo que já se encontra no sangue, porque nasceu e criou nisso, numa época em que não havia luz e deslocavam ao local com luz de “lampião”.

Tanto é que, conforme contou, está de luto há oito meses, mas ao seu entender e pela fé que tem, não poderia deixar de festejar Nha Santana.

“Quando começam a bater o pau no tambor, tenho um brio enorme e é isso que presenciamos em quase todos os participantes, até as crianças já entoam partes dos cânticos entoados neste ritual”, mostrou, salientando que o que é “terra terra”, não pode ser perdido.

João Louro até comparou esta festa com a Bandeirona de São Filipe, porque, salientou, fazem a matança de porcos, bois, caprinos e tudo o que é animal e que serve para confeccionar pratos.

Além disso, realçou que hoje será feito um ritual em que andam de casa em casa, tocando tambor, cantando, colando, e em todas as casas, dão comida, dinheiro, bebidas, entre outras coisas, que são colocadas no mastro no dia 26.

Mas, salientou que é algo que fica um pouco escondido da história do país, porque “nem sempre foi dado a devida atenção pelos meios de comunicação social”, sendo assim, uma passagem somente boca a boca e de geração em geração, mas que aos poucos, vai perdendo o seu brilho.

Os festeiros de Nha Santana de Mato 2019 é uma família residente nos Estados Unidos da América, embora, a associação de Mato, está apoiando na organização, pois, conforme os membros, esta é uma festa de “todos e para todos”.

MC/ZS

Inforpress/Fim