Brava: Penúria de água coloca em “desespero” povo bravense que se vê obrigado a procurar outras soluções mais onerosas
A penúria de água vivida pelos bravenses estes últimos tempos tem desanimado os agricultores e qualquer um que reside na ilha que tem de procurar outras soluções para driblar esta situação, independentemente do custo.
Já lá vão alguns meses que quem tem tanques em cima da casa e que queira algum pingo de água vai ficar somente com o desejo, pois são poucas as zonas e os moradores de sorte que conseguem que o precioso líquido alcance os tanques.
Além da água disponibilizada ser em pouca quantidade, pois o caudal de água tem vindo a diminuir anos após anos, principalmente com a escassez das chuvas, o tempo que dura na rede é muito pouco, tendo várias vezes sido contabilizado 30 minutos de água disponível na rede em algumas localidades e os moradores conseguem encher nada mais nada menos do que 15 garrafas com a capacidade de 5 litros cada uma, de tanto fraca que esta vem na rede, que nem mesmo quem tenta usar motobomba para bombear a água para o terraço esta não vem com força suficiente.
A Inforpress saiu às ruas de Nova Sintra e conversou com alguns moradores, alguns quiseram tornar público esta situação, outros simplesmente lamentaram e disseram que de nada vale reclamar porque não vai se resolver nada, tendo em conta que esta problemática sempre foi um dos calcanhares de Aquiles da ilha.
Cátia Barros é uma moradora na Vila de Nova Sintra e proprietária de um restaurante, que conta ter passado por momentos difíceis, e a cada dia só vê piorar a situação.
Segundo a mesma fonte, a água é disponibilizada duas vezes por semana, mas em cada um destes dias só consegue meio bidão de água, correspondente a três latas de 20 litros.
“A água não tem força para alcançar o tanque, mesmo com a solução do bidão não conseguem uma quantidade de água razoável”, evidenciou esta proprietária, realçando que semanalmente tem de comprar uma tonelada de água que custa 2500 escudos e a resposta nem sempre é de imediato devido à tanta procura a este particular.
Nesta mesma luta encontramos o Luís Mendes, um agricultor de renome na ilha que diz ter épocas em que teve na sua horta mais de cinco mil pés de bananeira, mas hoje nem dois mil tem, além das outras plantas que tem visto padecer por falta de água.
Segundo este agricultor a situação é cada dia “mais grave” e a tendência é para piorar.
Contou que na localidade onde reside, além da água ser disponibilizada na maior parte das vezes à noite, muitas vezes não conseguem o precioso líquido nem para o consumo quanto mais para regar uma planta.
E como ainda tem algumas verduras na sua horta, ao ser questionado como tem mantido este espaço, disse nem ter coragem para dizer que tipo de água tem utilizado, mas que tem tentado driblar a situação de diversas formas, pois é disso que depende o seu e o sustento da família.
Neste quesito, culpa o Governo por não ter procurado soluções atempadamente e de não ter agilizado as obras da dessalinizadora, realçando que o mal do país é que “deixam tudo para a época das campanhas eleitorais” e esquecem que o povo é quem sofre todo o tempo que antecede este período.
O que mais lhe indignou, conforme apontou, é a deputada nacional pelo círculo do MpD, da Brava, Fernanda Burgo ter dito no parlamento que “a Brava não está isolada”, pelo que questiou se existe mais isolamento do que sofrer por falta de água e não ter soluções práticas.
Aliás, disse que na Brava existem localidades com água que poderia ser aproveitada da melhor forma, como Ferreiros e Sorno, voltando a acusar o Governo de “pouca gestão” e a Empresa Intermunicipal de Água do Fogo e da Brava (Águabrava) de “não fazer nada na ilha”.
Manuel Cecílio é um outro morador de Nova Sintra que usou de poucas palavras para descrever a situação vivida na ilha, considerando-a de “precária”, pois, segundo o mesmo, não é preciso dizer mais nada já que é do conhecimento de todos.
Um outro morador que diz estar a sofrer muito com esta situação é John Fernandes, um ex-emigrante que tem na sua residência e ao redor um jardim que anteriormente era muito visitado por bravenses e visitantes, mas que hoje encontra-se praticamente degradada e seca, perdendo assim todo o seu brilho.
Não obstante ao jardim, este morador contou que trouxe várias plantas e sementes de árvores frutíferas de outros países, como semente de cacau, coqueiro, entre outras que na Brava somente no seu espaço era possível encontrar, mas hoje ao ver para o seu quintal sente “mágoa e dor” por não conseguir e não ter nenhuma solução para salvar as suas plantas.
Além disso, o que mais o indigna é que, apesar da Brava não ter água, a Águabrava lhe enviar faturas “exageradas”, pois, conforme o mesmo, é visível que na Brava nenhum morador ou utente tem água disponível para conseguir gastar neste momento 24 a 30 toneladas de água, o que considerou como sendo um “absurdo”.
“A questão nem é pagar, mas sim não usufruir de um produto, ver as plantas padecer e depois ser confrontado com tamanha conta”, revelou, realçando que resolver o problema de água na Brava é crucial, mas também pede um dirigente da empresa responsável por este setor que entende do assunto.
Sobre esta situação, Rui Évora, administrador/delegado da Empresa Intermunicipal de Águas (Águabrava), avançara em entrevista à Inforpress que já foi iniciado desde 17 de Abril a empreitada de execução da estação da dessalinização da água do mar na Brava, com um prazo de execução de 14 meses, o que significa que o projeto pode estar concluído no final de Junho de 2024.
A empreitada é executada por um consórcio francês, consentido por três empresas, e o projeto prevê instalar uma capacidade de produção de cerca de 1100 metros cúbicos dia, projetado para trabalhar alimentado por energia solar e energia convencional, considerando que com a conclusão deste projeto para a Brava é possível conseguir ultrapassar definitivamente a situação precária de abastecimento de água na ilha.
A situação da precaridade de abastecimento de água na Brava já é do conhecimento de todos e mesmo o presidente da Câmara Municipal da Brava, em quase todos os discursos, revela que a solução para este problema estruturante é a construção da dessalinizadora.