Brava: População de Lomba Tantum sensibilizada com os dados apresentados por um estudo diagnóstico

A comunidade de Lomba Tantum conheceu na terça-feira os resultados de um estudo diagnóstico socioeconómico realizado na localidade e mostrou-se sensibilizada com a elevada taxa de abandono escolar detectado no documento.

Dec 12, 2019 - 05:17
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Brava: População de Lomba Tantum sensibilizada com os dados apresentados por um estudo diagnóstico

A comunidade de Lomba Tantum conheceu na terça-feira os resultados de um estudo diagnóstico socioeconómico realizado na localidade e mostrou-se sensibilizada com a elevada taxa de abandono escolar detectado no documento.

Nesta comunidade, a população vive maioritariamente da pesca e este facto foi apontado por alguns moradores presentes na apresentação do documento como um dos factores que leva ao abandono escolar.

Foi denunciado também o caso de alguns pais que “obrigam” os seus filhos a abandonarem a escola, principalmente a partir dos 15 anos, para apoia-los na faina ou na venda do pescado.

Pedro Andrade, um dos moradores e pai nesta localidade, apreciou o documento, fazendo uma análise pela positiva, na medida em que este documento, conforme salientou, vai servir de “suporte” para uma “análise de consciência” e da situação em que vivem, para remedir a “culpa” que a comunidade “carrega” por se encontrar na posição descrita pelo estudo.

Em declarações à Inforpress, este morador explicou que, muitas vezes, na comunidade existe a mentalidade de que as crianças devem ser criadas ou educadas da mesma forma que os pais foram.

Motivo este que leva muitos pais a defender que, a partir de certo momento, os filhos “não precisam” frequentar mais a escola, porque devem apoia-los na faina diária ou na venda do pescado, como faziam os seus progenitores.

Mostrando a sua indignação, este morador acrescentou que, se na altura os pais educavam os seus filhos desta forma, foi porque não havia apoio.

Hoje, reconheceu que hoje existem vários apoios, desde o pagamento da propina, transporte, materiais, passando por equipamentos escolares e que “quem não estuda ou não deixa o seu filho estudar é porque quer”.

Neste sentido, chamou a atenção dos pais que fazem esta prática, alertando-lhes que no mar os filhos correm o risco de perder a vida, recordando que o mar “possui maré” e nunca se sabe quando se vai revoltear, o que pode custar a vida dos pais e dos filhos.

Domingo Lobo é outro morador que parabenizou a realização do diagnóstico da localidade, explicando que anteriormente a zona já passou por “maus bocados” em várias áreas.

Adiantou que actualmente, entretanto, “já existem grandes mudanças”, sublinhando estar consciente de que a “primeira mudança deve-se iniciar pela consciencialização das pessoas, principalmente na questão da educação dos filhos”.

“Vemos que são os próprios pais que cooperam com esta situação. Porque quando um pai coloca um filho de pouca idade no mar somente por ter reprovado um ano, esta não é uma forma de apoio nem de incentivo”, disse este pescador, condenando a atitude de muitos continuarem ainda a prejudicar os filhos com a faina diária.

Segundo relatou este pescador, ele faz-se ao mar logo cedo e não tem hora de voltar.

Durante o período da faina, prosseguiu, enfrenta muitas coisas, o que incentiva-o a entusiasmar os seus filhos a prosseguirem com os estudos, para que a situação, ajuntou, não se repita de geração em geração.

“Para mim, já um castigo e é por isso que não quero ver o meu filho a passar pela mesma situação. Luto para eles possam continuar na escola, de forma a ter um futuro melhor, mesmo que repita um ano, ele contará sempre com o meu incentivo”, disse este pai, prometendo que vai se juntar a outros pais que defendem a mesma causa para sensibilizarem os outros pais, mostrando-lhes o “orgulho” que é ver o filho “bem na vida”, mas sem “perigo e marés do mar”.

MC/JMV

Inforpress/fim