Bravenses no mundo:Adilson Rodrigues conta-nos sua historia na primeira pessoa

Em setembro faz precisamente 12 anos que, na companhia dos meus primos, deixámos a nossa querida ilha Brava para ingressar num curso médio em Portugal, mas precisamente na cidade do Porto.

Jul 31, 2017 - 14:47
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Bravenses no mundo:Adilson Rodrigues conta-nos sua historia na primeira pessoa




NA VIDA TUDO TEM O SEU TEMPO



Em setembro faz precisamente 12 anos que, na companhia dos meus primos, deixámos a nossa querida ilha Brava para ingressar num curso médio em Portugal, mas precisamente na cidade do Porto.


Apresentei na Escola Profissional de Economia Social – Academia José Moreira da Silva no dia 26 de Setembro de 2005, para frequentar o Curso Profissional de Técnico de Secretariado. No início foi tudo muito estranho para mim, o clima, a comida, o horário e sobretudo à língua portuguesa eram os principais obstáculos que tinha pela frente. Por outro lado, o facto de ter duas tias no Porto contribuiu imenso para a minha integração num meio que era totalmente diferente da nossa cultura cabo verdiana.


A verdade é que com o passar dos meses sentia-me cada vez melhor e como se vivesse naquela cidade há muitos anos.


Sabia que vim com um foco e um único objetivo que era estudar e estudar. Ao longo dos três anos desempenhei inúmeras funções naquela escola e a verdade é que fui sempre um dos melhores alunos da mesma. Aprendi a ser homem, aprendi a saber ser e saber estar, aprendi o que é ser uma pessoa autónoma, aprendi a respeitar e dar ao respeito, aprendi que a vida não é fácil e no fim de tantas aprendizagens, eis que em 2008 fui reconhecido pelo Ministério de Educação Portuguesa com o prémio de mérito de melhor aluno da Escola Profissional de Economia Social – Academia José Moreira da Silva com uma média de 18 valores, depois de ser atribuído a nota de 20 valores na apresentação e defesa ao Júri da minha Prova de Aptidão Profissional.


Como a vontade era estudar, estudar e só estudar, não parei por aí e candidatei-me ao Ensino Superior para ingressar no Curso de Gestão de Recursos Humanos. Na altura, a minha primeira opção foi para entrar numa universidade no Porto e infelizmente (hoje só posso dizer felizmente) não consegui o ingresso e em Outubro de 2008, acabei por entrar no Instituto Politécnico de Setúbal – Escola Superior de Ciências Empresarias.


Se aprendi muito no curso médio que fiz no Porto, posso afirmar que consegui solidificar esta aprendizagem ao longo da minha formação académica no Curso de Gestão de Recursos Humanos. Aconteceu de tudo um pouco nesse período 2008/2011. Foram três anos de muitas dificuldades sobretudo ao nível financeiro. Não tinha bolsa de estudo e apesar de viver em casa dos meus primos (a quem agradeço por tudo que fizeram por mim), tinha inúmeras despesas, designadamente com o transporte e a alimentação na faculdade. Apesar disso tudo, não desisti e com apoio moral e não só de muitos amigos e principalmente dos meus pais que sempre que podiam faziam chegar uma pequena remessa, consegui fazer o primeiro ano do curso com sucesso. E como vim do Porto e já tinha vivido aí 3 anos, aproveitava as férias para ir ao Porto e trabalhar ao longo desse período para poder economizar algum dinheiro.


No segundo ano do curso, com a ajuda de um artigo que publiquei no Portal Bravanews, tive imensos contactos de apoio moral e financeiro. Um dos quais foi a Bolsa de Estudos que passei a receber da parte de uma Entidade Cabo Verdiana e que era paga através da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa. A partir daí as coisas começaram a correr muito melhor e os resultados começaram a surgir, tendo aprovado para o terceiro e último ano de curso sem grandes dificuldades. Já no último ano do curso, a motivação para terminar este objetivo o mais rápido possível era maior. Isto porque ia ser pai pela primeira vez e só pensava em terminar a minha formação académica e arranjar um trabalho para poder sustentar a minha família.


O meu curso incluía 3 meses de estágio curricular que era obrigatório e tinha um peso significativo na nota final. Eu queria fazer o meu estágio numa boa organização que me permitisse colocar em prática a maior parte dos conceitos que adquiri na minha formação. Por isso aproveitei uma simples visita de estudo que fizemos à Câmara Municipal de Lisboa, designadamente ao Departamento de Recursos Humanos e falei com a respetiva Diretora sobre a possibilidade de fazer o meu estágio na Câmara Municipal. Depois de fazer a ponte entre as duas entidades, desempenhei o meu estágio no Departamento de Desenvolvimento e Formação da CML durante três meses com o maior profissionalismo e sob a orientação de excelentes profissionais e daí ter feito um fantástico relatório de estágio cujo sua apresentação e defesa não poderia ser melhor visto que consegui obter uma das melhoras notas da faculdade (18 valores).


Concluído os meus estudos, infelizmente a vida profissional não começou a correr da forma que ambicionava e desejava. Ainda por cima tinha uma família para sustentar e foi quando comecei a ficar desmotivado e a pensar inúmeras coisas negativas, como por exemplo, se tinha feito o curso certo, pois fiquei cerca de 6 meses sem trabalho.


Depois de refletir e mentalizar que não posso procurar apenas trabalhos que exigissem uma qualificação, eis que fui trabalhar numa empresa de limpeza no Centro Comercial das Amoreiras, onde curiosamente a minha mulher já trabalhava a cerca de 5 meses.


Foram quase três anos de muito sacrifício, desta vez no âmbito profissional, porque nunca pensei fazer um curso superior e depois desempenhar uma função no ramo de limpeza onde lidava com colegas que não tinham qualquer qualificação e por vezes sentia-me triste e desesperado por não poder sequer colocar nada do que aprendi nos meus cursos em prática, sem ser a humildade, que felizmente faz parte da minha pessoa.


Mas como na vida tudo tem o seu tempo, hoje só posso agradecer à Deus por tudo o que tenho e sou. Tenho uma família maravilhosa, vivo na minha casa com a minha mulher Nininha e o meu filho Rafael, tenho um bom trabalho, sou feliz e gosto de viver em Portugal apesar de querer voltar para a minha querida Djabraba todos os dias.


Adilson Rodrigues