Brexit e falência da Thomas Cook ameaçam crescimento de Cabo Verde
O director do departamento africano na agência de notação financeira Standard & Poor’s disse hoje que o Brexit e a falência da operadora de turismo Thomas Cook podem afectar Cabo Verde devido à dependência do turismo.
O director do departamento africano na agência de notação financeira Standard & Poor’s disse hoje que o Brexit e a falência da operadora de turismo Thomas Cook podem afectar Cabo Verde devido à dependência do turismo.
“Cabo Verde é vulnerável a um abrandamento do crescimento da economia europeia devido à concentração de turistas europeus e, por exemplo, um ataque terrorista ou uma erupção vulcânica pode acabar com o crescimento do PIB” (Produto Interno Bruto), disse Ravi Bhatia, em declarações à Lusa.
Na semana em que a agência Lusa realiza uma conferência sobre o futuro da economia de Cabo Verde, o analista responsável pelo departamento africano explicou que o principal desafio do país é “crescer rapidamente e não ser demasiadamente dependente do turismo, da pesca e de ajuda e financiamento externo”.
O principal desafio é, no entanto, também a principal vantagem, já que Ravi Bhatia elencou à Lusa que a principal mais-valia, do ponto de vista da análise da qualidade do crédito soberano, é a boa oferta turística, com a proximidade à Europa e potencialmente ao Brasil e Estados Unidos, e também os vastos direitos de pesca que o país tem”.
Questionado sobre o elevado nível de dívida pública, cujo rácio ultrapassa os 100% do PIB, Ravi Bhatia desvalorizou a questão, lembrando que a gestão da dívida soberana “tem melhorado e o rácio da dívida sobre o PIB tem vindo a descer, com o Governo e endividar-se menos”, e acrescentou ainda que “a maioria da dívida é concessional”, ou seja, detida por instituições financeiras multilaterais que praticam taxas de juro mais baixas e prazos de amortização mais longos que os praticados na banca comercial.
No último relatório da S&P sobre o país, que resulta da visita dos analistas ao arquipélago em Agosto, a agência de notação financeira, que atribui um ‘rating’ B, ou seja, nível especulativo ou abaixo da recomendação de investimento, com Perspectiva de Evolução Estável, prevê um crescimento de 4,9% até 2022.
“Actualmente, os riscos para o crescimento estão principalmente relacionados com um abrandamento do número de turistas, e o Governo está a trabalhar para reduzir o peso muito alto da dívida, antecipando um progresso modesto até 2022”, lê-se no relatório que sintetiza a opinião da S&P sobre a qualidade do crédito soberano de Cabo Verde.
“Estimamos que a dívida pública seja de 106% do PIB no final deste ano, o que é alto a nível global e uma das maiores entre os países africanos que analisamos”, apontam os peritos da S&P, notando que o grande aumento desde 2015 “reflecte principalmente o extenso programa de investimentos do Governo, que é na maior parte financiado por dívida de longo prazo concessional com taxas de juro muito baixos, de 1 a 2%”.