Cabo Verde não é só turismo

Há no país um debate que consecutivamente não tem sido feito e que tem gerado uma enorme desigualdade de desenvolvimento no país: A centralização do desenvolvimento no turismo tem tido o efeito de polarizar o desenvolvimento na capital e nos centros urbanos turísticos, deixando as outras ilhas num enorme marasmo.

Sep 10, 2017 - 11:05
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Cabo Verde não é só turismo

 

Há no país um debate que consecutivamente não tem sido feito e que tem gerado uma enorme desigualdade de desenvolvimento no país: A centralização do desenvolvimento no turismo tem tido o efeito de polarizar o desenvolvimento na capital e nos centros urbanos turísticos, deixando as outras ilhas num enorme marasmo.

Quem conhece minimamente o país apercebesse facilmente que Cabo Verde não é só turismo. Na verdade as ilhas têm um enorme potencial de crescimento em áreas como a pesca, a agricultura, as energias renováveis, recursos que não têm tido devidamente explorados e que representam uma perda inestimável para o país. 

A centralização do desenvolvimento no turismo tem contribuído para a perda de identidades culturais na ilha devido à uma emigração massificadora que em alguns casos toma dimensão deveras preocupante. A ideia que, apenas com o turismo, o país irá desenvolver tem sido dramático quando percebemos que outras áreas têm sido sucessivamente negligenciadas ou o seu avanço tem sido muito aquém do desejável.

O turismo tem contribuído de forma decisiva para o crescimento económico do país. Todavia, o turismo é um recurso económico altamente volátil o que torna economias como a nossa muito dependente de fatores externos. Mas também, devemos ter em conta que o turismo gera empregos pouco qualificados e mal remunerados, o que para um país que quer crescer e desenvolver, poderá se revelar dramático no futuro.

Quanto à mim, é um erro, utilizar os recursos proveniente do turismo para fomentar mais turismo. É imprescindível que nos próximos anos Cabo Verde possa garantir a sustentabilidade económica e isso só será feito se compreendermos que, sendo altamente volátil, o turismo não nos garante a estabilidade económica necessária para garantirmos um crescimento equitativo do país.

Ilhas como São Vicente, São Nicolau, Fogo, Brava, Santo antão e Maio não têm tido um crescimento económico que garanta o desenvolvimento equilibrado do país o que nos torna altamente dependente do desenvolvimento de Santiago, a capital do país, Boa Vista e Sal, que são ilhas completamente dependentes do turismo e que contribuem decisivamente para o crescimento económico do país.

Conscientemente não podemos ser contra o turismo nessas ilhas, pois, elas têm sido para o Estado de Cabo Verde uma fonte importantíssimo de receitas. Porém, as outras ilhas têm de reclamar para si, investimentos do Estado, com recursos provenientes do turismo, em outras áreas, que garantam o equilíbrio necessário no desenvolvimento do país.

As ilhas têm de fazer valer os preceitos constitucionais de solidariedade e equidade na distribuição dos recursos para que de facto “cada criston tem direito a sê gota d’agua”, neste Cabo Verde que é de todos e deve ser para todos em igualdade de circunstância. 

Jonathan Vieira