Cabo Verde vai ainda pagar um elevado preço por não ter investido na modernização da frota de cabotagem - Carlos Burgo

O antigo governante não poupou críticas à gestão do sector, considerando que a concessão dos transportes marítimos inter ilhas, apesar de poder ter tido boas intenções, pecou na sua conceção, negociação e acompanhamento. "E o Governo continua na ilusão de ter transferido o risco para o sector privado !?!? É desolador o panorama neste sector", lamentou Burgo.

A situação actual da frota concessionária é, para Carlos Burgo, alarmante. Ele aponta que a empresa responsável pela ligação entre as ilhas dispõe de "barcos inadequados e/ou obsoletos". Como exemplo, referiu o barco adquirido com garantia do Governo, que considera inadequado e com permissão de operar apenas entre São Antão e São Vicente. A emblemática embarcação D. Tututa foi descrita como "um barco velho a cair aos bocados".

A crítica estendeu-se aos dois catamarãs cedidos pelo Estado, considerados inadequados para as condições marítimas do arquipélago, além de serem "frágeis, de manutenção exigente e cara". Para Burgo, as frequentes avarias destas embarcações não são coincidência, levantando sérias preocupações sobre a "garantia dos transportes interilhas, uma condição essencial para o funcionamento da economia" cabo-verdiana.

O anúncio da intenção de adquirir mais uma unidade naval num horizonte de dois anos foi considerado por Carlos Burgo como "tardio e insuficiente". A delegação da aquisição à Empresa Nacional de Administração dos Portos (ENAPOR) também mereceu reparos, revelando, na sua opinião, a "impreparação do Governo nesta matéria".

Visivelmente preocupado com as potenciais consequências desta situação, Carlos Burgo apelou para que "alguém se encarregue de sacudir e fazer acordar o Governo perante a ameaça que paira sobre o país !!!". O alerta do antigo Ministro das Finanças e Governador do Banco de Cabo Verde ecoa num momento crucial para a economia cabo-verdiana, fortemente dependente da conectividade entre as suas ilhas. A falta de uma frota de cabotagem moderna e eficiente poderá ter impactos significativos no comércio, no turismo e na mobilidade dos cidadãos.