Cachaço – uma localidade que vive à mercê da sorte das chuvas e das remessas dos emigrantes
A comunidade de Cachaço fica a cerca de 12 quilómetros da cidade de Nova Sintra, e os moradores vivem exclusivamente da pecuária e da agricultura, mas com a falta de chuva têm dependido mais das remessas enviadas por emigrantes dos EUA.
À Inforpress, João Xavier, morador da localidade, contou que vinte da criação de animais há mais de 20 anos, chegando a ser apelidado de “rei do gado”, uma vez que tinha várias cabeças, cujo número exacto não conseguia precisar.
Mas, com os consecutivos anos de seca, disse que viu obrigado a vender alguns dos seus animais, ou então soltá-los, e como consequência, hoje tem poucos bovinos e muito menos ainda caprinos, pois, uma vez soltos os animais ficaram à solta nas rochas e hoje já não consegue capturá-los para os manter no estábulo.
Não obstante aos anos de seca, acentuou também que o seu gado e de tantos outros pastores têm sofrido ataque de cães bravios, reduzindo assim as cabeças de animais de cada criador.
Neste momento, garantiu que a água para o gado não é problema, graças ao reservatório construído pelo Ministério da Agricultura e Ambiente, mas destacou o preço elevado do milho e da ração, o que o levou a dedicar-se mais à criação de animais herbívoros, pois caso contrário não é visível nenhum rendimento.
Benvinda Pinto é outra moradora da zona que confirmou que a maioria das famílias vive da criação de gado, mas que com o decorrer dos anos a situação tem se ficado um pouco mais difícil, ficando na maioria das vezes dependentes de remessas dos familiares.
Pois, conforme explicou, da parte do Governo ou da Câmara Municipal da Brava não tem tido obras públicas que possam empregar algumas famílias, e aquelas que não se dedicam à criação de gado têm dependido de algumas obras de construção que alguns emigrantes fazem na zona.
Quanto aos investimentos do Governo, recordou que o mais recente foi o arruamento de um troço de estrada feita em 2022, reforçando que ficou a promessa de dar continuidade para uma segunda fase.
Outra reivindicação deste povoado é a melhoria de condições na estrada de acesso à localidade, que, conforme contou Benvinda Pinto, encontra-se em “péssimo estado” e muitos condutores só têm tido prejuízo neste percurso, uma vez que as viaturas exigem manutenções frequentes.
Igualmente, evidenciou que possuem alguma reivindicação sobre o estado de abandono do jardim-de-infância na localidade, mas informou que estão a aguardar pela câmara municipal que se comprometeu a fazer obras de reabilitação e de seguida dar utilidade ao espaço.
Nesta zona, também encontramos Francisco Pinto, emigrante nos EUA, mas que após a reforma decidiu regressar à Brava devido a problemas de saúde, considerando que o ambiente na ilha é “mais propício e favorável” para a sua situação.
Entretanto, pede às autoridades que deem à localidade um pouco mais de atenção, que façam melhorias na estrada de ligação, resolução do problema de água para o consumo humano, mas também que criam melhores condições para os jovens, principalmente no que tange ao trabalho, como forma de desviá-los dos males sociais, pois a comunidade não possui nada a oferecer a não ser agricultura e pecuária, duas actividades que têm sido ameaçadas pela seca.
Já Mónica da Lomba é uma moradora que não se dedica à criação de gado ou pecuária e que considera que a situação da localidade é complicada, pois, assim como muitos na zona, vive das remessas que familiares emigrantes enviam.
A vida nesta comunidade “não é fácil”, conforme a moradora, que lamenta a falta de atenção por parte das entidades competentes.
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Inforpress