Café do Fogo chega ao gigante Starbucks
Uma parceria estabelecida entre empresários holandeses e cabo-verdianos está a levar o café da ilha do Fogo, produzido biologicamente junto ao vulcão, à gigante norte-americana Starbucks, a maior rede de cafés do mundo.
Uma parceria estabelecida entre empresários holandeses e cabo-verdianos está a levar o café da ilha do Fogo, produzido biologicamente junto ao vulcão, à gigante norte-americana Starbucks, a maior rede de cafés do mundo.
"Para nós, obviamente, é um orgulho ter o nosso café num mercado de alta qualidade como a Starbucks”, conta à Lusa Amarildo Baessa, administrador da Fogo Coffee Spirit, uma parceria estabelecida em 2011 entre a holandesa Trabocca (51%) e a cabo-verdiana Capital Consulting (49%).
Do fogo para a reserva da Starbucks, que até tem direito ao saco personalizado, cada um com 30 quilos, do café do Fogo, já seguiram desde a campanha de 2015, com o apoio do parceiro holandês - especialista na comercialização de café orgânico -, três cargas, de quantidades que a empresa não revela, por questões comerciais.
“São clientes bastante exigentes, para um mercado também bastante exigente (…) E obviamente que é por causa da qualidade. Nós apostamos neste momento na qualidade, porque não temos quantidade”, explica o administrador, sobre o desafio que tem sido colocar o café cabo-verdiano na rede da Starbucks, algo que espera repetir na campanha de 2020.
A actual plantação de café na ilha do Fogo, na encosta de um vulcão activo cujo pico mais alto chega quase a 2.900 metros, tem cerca de 200 anos.
Um dos anos de glória foi o de 1934, quando o café do Fogo foi considerado o melhor, dos produzidos no então império português (competindo por exemplo com Angola ou Timor-Leste), mas a produção tem vindo a cair. Passou de 500 toneladas em 1900 para cerca de 100 toneladas anuais um século depois, e menos ainda nos últimos anos, devido à seca prolongada.
“Beneficia do clima, da altitude e todo o cultivo, que é de sequeiro, não fertilizado com produtos químicos. É tudo natural, biológico”, refere Amarildo Baessa, sublinhando que estes são os argumentos da qualidade do café do Fogo fora de portas.
Um dos objetivos da Fogo Coffee Spirit passa precisamente pela exportação do café do Fogo, ganhando escala numa produção distribuída essencialmente por dezenas de pequenos agricultores no município dos Mosteiros, a altitudes que vão dos 350 aos 1.300 metros, aproveitando os solos vulcânicos e o microclima da área envolvente ao vulcão.
“Começámos por melhorar a qualidade do café para o mercado externo, organizando a exportação. A quantidade é pouca, apostamos na qualidade do processamento”, explica o administrador da Fogo Coffee Spirit, cuja fábrica que processa, trata e embala o café está instalada no centro da localidade de Mosteiros.
A primeira tarefa da empresa foi precisamente garantir a compra do café, ainda em bago, para ganhar escala, terminando com um processo de exportação que era – e em parte ainda é - feito individualmente por cada produtor e pelos emigrantes cabo-verdianos.
“Os primeiros anos foram de muitas dificuldades logísticas e para convencermos os produtores a aderirem”, confessa, apontando que a adesão acabou por disparar, até aos 35 fornecedores num ano.
Entretanto, a empresa apostou em dois modelos de processamento de café, a seco, que é a tradicional, e molhado, feito na instalação do grupo em plena montanha.
“O problema é que nos últimos três anos a pouca chuva tem feito diminuir a quantidade”, aponta Baessa, explicando com números a preocupação que não esconde.
Em 2018 processaram 11 toneladas de café na fábrica de Mosteiros, enquanto este ano, na apanha que decorreu em março, foi apenas 11% desse valor, equivalente a pouco mais de uma tonelada, para transformar no café que vai para o consumidor, no exterior.
“Este ano foi muito baixo”, conta, admitindo que a atividade está a ser comprometida pelas consecutivas quebras na produção devido à seca que há três anos afecta Cabo Verde.
E quando a produção baixa, diz, os produtores preferem armazenar o café, dado o preço que pode atingir, ficando a exportação em conjunto e grande quantidade comprometida.
“Esta quantidade não dá para fazer exportação, não dá para encher um contentor”, sublinha Amarildo Baessa.
Entretanto, o grupo já prepara a introdução do cultivo de chá de hibisco (ou bissap) na zona dos Mosteiros, através da empresa própria Profood. Em simultâneo, será feita também a produção de chá de casca de café, até agora rudimentar na ilha do Fogo e à qual a empresa pretende dar escala para exportar.
O objectivo é aproveitar “toda a cadeia do café do Fogo”, remata.