Cansaço dos partidos leva ao surgimento de movimentos populistas – José Maria Neves
Dando vários exemplos de antigamente e à atualidade, como na Turquia, EUA, Polónia, Bolívia, Hungria, José Maria Neves notou que, normalmente, os movimentos populistas propõem referendos
O ex-primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves defendeu hoje que cansaço e crise dos partidos políticos tradicionais têm levado ao surgimento de movimentos populistas, considerando que para inverter o cenário é preciso outra relação com a sociedade.
“Hoje, os partidos e os sistemas partidários estão em crise. Também temos algum esgotamento dos partidos tradicionais”, afirmou José Maria Neves, numa conferência, na cidade da Praia, sobre democracia e governança, que contou com a presença do ex-chefe de Governo português e presidente do grupo Impresa, Pinto Balsemão.
José Maria Neves sublinhou a importância dos partidos na intermediação entre a sociedade e a classe política, mas salientou que os novos espaços e mecanismos de intermediação do poder levam ao enfraquecimento de algumas instituições, entre elas os partidos políticos.
“O cansaço dos partidos tradicionais tem levado ao surgimento de movimentos populistas”, prosseguiu o ex-chefe do Governo, dizendo que esses movimentos são personalizados em determinadas pessoas, numa perspetiva ´antielitistas´, contra a corrupção e de representação.
Dando vários exemplos de antigamente e à atualidade, como na Turquia, EUA, Polónia, Bolívia, Hungria, José Maria Neves notou que, normalmente, os movimentos populistas propõem referendos, não para suscitar a participação popular, mas para publicitar as suas ideias.
“E assim que cheguem ao poder é a colonização total da Administração Pública, a manipulação das massas e uma inimizade enorme em relação à sociedade civil e aos espaços de dissenso, designadamente a comunicação social”, analisou.
Para o conferencista, os movimentos populistas têm ´profundos reflexos´ na governança, mas lembrou que são ´fenómenos transitórios´ que revelam o desgaste do sistema democrático.
Considerando que os movimentos populistas são ´preocupantes´, José Maria Neves defendeu que para rever o cenário é preciso outra relação entre os partidos e a sociedade civil, novos mecanismos de escolha e novos canais para se exercer o poder.
“É preciso começarmos a refletir sobre as saídas da crise dos partidos e dos sistemas políticos”, sugeriu José Maria Neves, que além de ser primeiro-ministro foi também presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, agora na oposição) durante 15 anos.
Muitas das ideias do ex-chefe de Governo cabo-verdiano foram defendidas por Francisco Pinto Balsemão, que sublinhou que os partidos e muitas outras instituições clássicas, como sindicatos, forças armadas e igrejas, já não têm o poder nem a importância que tiveram.
A isso disse que se deve ao surgimento de uma sociedade em rede, através das redes sociais, que são novas formas de poder e de governança e de praticar a democracia.
Lusa