Carlos Burgo, antigo Deputado, Ex-Ministro e Ex-Governador do BCV conta as peripecias de uma viagem frustada entre Praia e Brava

Hoje foi a minha vez de experimentar a desorganização e o mau serviço da CV Interilhas. Uma vez tomada a decisão de viajar para a minha ilha, a Brava, contactei a concessionária do serviço de transportes marítimos para marcar a viagem. Porque, normalmente, viajo como a minha viatura, só foi possível encontrar lugar para duas semanas mais tarde, o dia 3 de fevereiro, dada a insuficiente frequência de viagens na linha.

Feb 4, 2023 - 10:20
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Carlos Burgo, antigo Deputado, Ex-Ministro e Ex-Governador do BCV conta as peripecias de uma viagem frustada entre Praia e Brava

Hoje foi a minha vez de experimentar a desorganização e o mau serviço da CV Interilhas. Uma vez tomada a decisão de viajar para a minha ilha, a Brava, contactei a concessionária do serviço de transportes marítimos para marcar a viagem. Porque, normalmente, viajo como a minha viatura, só foi possível encontrar lugar para duas semanas mais tarde, o dia 3 de fevereiro, dada a insuficiente frequência de viagens na linha.

No dia 21 de janeiro foram compradas as passagens. Quase uma semana depois, no dia 26 desse mês, inesperadamente, recebo a mensagem SMS seguinte: “Caro passageiro, por razões operacionais a sua viagem Santiago/Brava do dia 03/02 foi alterada para o dia 04/02 às 08 horas, favor comparecer no cais as 06h. Obrigada”. Razões operacionais que não podem ser ultrapassadas numa semana só podem ser um eufemismo para não ter de reconhecer a situação crítica por que passa a concessionária!!! Pouco depois, recebo uma chamada telefónica querendo confirmar se eu tinha recebido a mensagem. Agradeci a atenção e indaguei quando devia estar no cais dado que levava a viatura. Tendo informado que se tratava de uma viatura pessoal, foi-me transmitido que devia estar no cais às 6:00, ou seja, duas horas antes. Hoje, dia da viagem, com a minha habitual pontualidade, apresentei-me nos serviços na ENAPOR ainda antes das 6:00.

Passada meia-hora, como o atendimento continuava fechado, dirigi-me ao barco, “Dona Tututa”, onde o oficial de serviço, para meu espanto, me informou que o carro devia ter sido entregue ontem nos armazéns. Perante a minha insistência em como se tratava provavelmente de um equívoco da companhia, esse oficial de serviço remeteu-me para o agente de serviço que, por sua vez, com desrespeitoso e inaceitável descaso me indicou que devia falar com o oficial de serviço. O oficial de serviço, esse, teve o desplante de me dizer que de qualquer modo tinham carga a mais e nada podia ser feito!!! Nas minhas cinco décadas e meia de viagem entre a Brava e a Praia, passei por inúmeras dificuldades e incontáveis peripécias, muitas vezes ditadas pelas limitações dos meios então existentes.

Confesso, porém, nunca ter vivenciado tamanha desorganização, desconsideração e falta de respeito pelos passageiros. Face ao transtorno de uma viagem frustrada, fui no caminho de regresso para casa invadido por uma profunda tristeza pelo estado das coisas no meu país. Tanto mais que face à escassez de equipamento adequado, com uma briga de comadres entre a concessionária e o Governo, e os responsáveis governamentais a anunciarem a finalização da renegociação da concessão, o projecto das privatizações cujo financiador, o Banco Mundial, vem manifestando sérias reservas em relação às políticas sectoriais do actual Governo em matéria de transportes, ainda acaba de lançar um concurso de consultoria para estudar a situação da concessão e avaliar a necessidade e apresentar propostas de uma eventual renegociação. Lamentavelmente, no actual contexto, não se vislumbram melhorias, antes o contrário, tudo aponta para uma continua degradação do serviço. Dói-me assistir aos danos que a actual situação deficitária da ligação marítima vem causando ao desenvolvimento da minha ilha, que tanto depende da sua comunidade emigrada. A necessidade de lutar para a resolução da situação impede que à minha tristeza e à minha mágoa se junte o desânimo.