Cerca de 54 por cento das crianças em Cabo Verde crescem em casa sem a figura do pai – presidente VerdeFam

Cerca de 54% das crianças em Cabo Verde crescem em casa num ambiente sem a presença do pai, figura crucial para o desenvolvimento dos filhos, particularmente, na entrada da adolescência, onde existem vários problemas de comportamento.

Apr 6, 2019 - 10:04
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Cerca de 54 por cento das crianças em Cabo Verde crescem em casa sem a figura do pai – presidente VerdeFam

Cerca de 54% das crianças em Cabo Verde crescem em casa num ambiente sem a presença do pai, figura crucial para o desenvolvimento dos filhos, particularmente, na entrada da adolescência, onde existem vários problemas de comportamento.

A afirmação é do presidente da Associação Cabo-verdiana para a Protecção da Família, Francisco Tavares, que falava hoje em declarações à Inforpress sobre o papel que o pai exerce na triangulação pai-mãe-filho na sociedade actualmente que, conforme disse, está cheia de riscos e onde se torna “indispensável” examinar o impacto dessa ausência no desenvolvimento psicológico, intelectual e comportamental de uma criança ou adolescente.

“É um tema que desperta especial interesse nos dias de hoje, devido à modificação da estrutura familiar actual, em que se observa a crescente ausência do pai. As principais teorias do desenvolvimento se baseiam no modelo de família convencional, e, possivelmente, as novas configurações familiares repercutem nas relações interpessoais e intrapsíquicas, tornando este tema relevante”, disse.

De acordo com Francisco Tavares, a autoridade paterna é essencial “para que as crianças saibam que há limites” e para que tenham referências, e quando isso não existe o papel do pai fica por ser exercido e é mitigado em parte pela mãe, mas a parte importante da educação fica para a escola cuidar.

“Ninguém deve substituir a família. As crianças que estão apenas com a mãe em casa ficam mais expostos a problemas na adolescência”, ajuntou.

Neste particular, Francisco Tavares apela à necessidade de se dinamizar um Instituto da Família para cuidar dos problemas da família, já que a sociedade cabo-verdiana tem muita dificuldade de estabilidade no dia-a-dia da vida.

A esse propósito, o sociólogo Artur de Pina defende que a presença de ambos os pais numa família “é que permite a criança viver de forma mais natural os processos de identificação e diferenciação”.

“Faltando a figura do pai, ocorre a sobrecarga no papel do outro, gerando um desequilíbrio que pode causar prejuízos na personalidade do filho. Para a criança, a ausência do pai significa que nada se interpõe entre ele e a mãe, mas quando esta começa a impor limites inicia-se uma guerra que acaba com problemas de reconhecimento dos limites e de aprendizagem de regras de convivência social”, explicou.

De acordo ainda com o sociólogo, o comportamento dos pares e a ausência paterna vêm sendo associados com maiores índices de distúrbios do comportamento em adolescentes.

Por seu turno, a presidente da Associação das Crianças Desfavorecidas (Acrides), Lourença Tavares, considera que Cabo Verde necessita de leis que responsabilizem o pai, assim como existência de serviços e profissionais para fazer a mediação familiar.

Conforme realçou, existindo este serviço, os pais, mesmo não vivendo juntos, teriam um outro olhar sobre a responsabilidade que tem para com os seus filhos.

“A Acrides trabalhou muito essa vertente nos bairros de São Filipe, Achada Grande Trás e Tira Chapéu, pelo que defendemos a necessidade da existência de um serviço social e técnicos para mediação social em vista a trabalharem essa vertente nas comunidades”, disse.

Convidada a comentar o repto lançado por Francisco Tavares quanto a um real funcionamento do Instituto da Família no país, Lourença Tavares diz apoiar as declarações do presidente da VerdeFam, mas realçou ainda que o Ministério da Família e a Direção Geral de Inclusão Social devem ter uma estrutura que vá ao encontro das famílias nas suas comunidades.

“Cabo Verde ratificou uma Convenção de Direitos da Criança que estipula que a fase de criança vai dos 0 aos 18 anos, mas com o regulamento de adolescência, muita coisa se perdeu, quando deveriam ser os pais a encaminhar os filhos a descobrir e a seguir a sua adolescência”, enfatizou.

PC/FP

Inforpress/Fim