Corte de ajuda externa dos EUA afeta África — Cabo Verde entre os países menos beneficiados

A suspensão parcial da ajuda externa dos EUA sob Trump afetou setores críticos na África, como a agricultura. Cabo Verde está entre os países africanos que menos receberam ajuda em 2024, com apenas 1,3 milhão de dólares prometidos, reforçando a necessidade de alternativas regionais e multilaterais.

Apr 22, 2025 - 09:09
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Corte de ajuda externa dos EUA afeta África — Cabo Verde entre os países menos beneficiados

Uma das primeiras medidas do ex-presidente Donald Trump após assumir o cargo foi suspender quase todos os gastos dos Estados Unidos no exterior por 90 dias. A medida, justificada por seu governo como uma resposta à suposta ineficiência da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), teve impactos significativos em várias regiões do mundo — especialmente na África.

Com um orçamento de 50 bilhões de dólares, a USAID é o maior organismo de ajuda civil do mundo. Em 2023, os EUA destinaram 68 bilhões de dólares em ajuda externa, sendo cerca de 40 bilhões oriundos da agência. A maior parte foi direcionada para áreas como saúde (16 bilhões), ajuda humanitária (15,6 bilhões) e desenvolvimento econômico (19 bilhões), incluindo programas de vacinação e prevenção de pandemias em países menos desenvolvidos.

A suspensão dos fundos afetou setores essenciais, como a agricultura, base econômica de muitos países africanos. Com mais de 60% da força de trabalho empregada no setor, a agricultura é vital para o crescimento econômico, combate à pobreza e segurança alimentar no continente. Cabo Verde, embora menos dependente da USAID do que outras nações, também sente os efeitos indiretos desses cortes.

Segundo dados mais recentes do portal de assistência externa dos EUA, Cabo Verde está entre os dez países africanos que menos receberam ajuda dos Estados Unidos em 2024. O arquipélago foi prometido um total de 1.304.536 dólares, valor maior ao destinado a outros países lusófonos como São Tomé e Príncipe (880 mil) mas muito abaixo de Comores (8,7 milhões) ou República do Congo (9,5 milhões).

Ainda que programas como o Feed the Future, criado em 2010, tenham contribuído para a melhoria da produtividade agrícola e acesso a mercados, analistas alertam que muitos países africanos não dependem exclusivamente da ajuda americana — e que há uma supervalorização dessa dependência no discurso político.

Enquanto isso, especialistas sugerem que países como Cabo Verde busquem diversificar suas fontes de apoio e fortalecer parcerias regionais e multilaterais para garantir avanços sustentáveis, especialmente em setores como saúde e agricultura.