Debate EUA. Donald Trump e Kamala Harris chocam na economia, nas migrações e no direito ao aborto
O debate começou à hora certa com um aperto de mão entre os dois candidatos, que discordaram em temas como economia, migrações e direito ao aborto. Kamala Harris disse que baixará os impostos para a classe média e acusou o opositor republicano de não ter plano para a economia. Já Donald Trump culpou os imigrantes de serem "terroristas", de roubarem empregos dos norte-americanos, de comerem animais de estimação e de destruírem o país. O antigo presidente - que nega ter estado envolvido na invasão ao Capitólio ou ter perdido as eleições de 2020 - considerou os democratas "radicais", equiparando as suas leis de aborto à "execução" de bebés.
O debate histórico de terça-feira foi o primeiro entre Donald Trump e Kamala Harris e começou com um raro aperto de mãos, iniciado pela vice-presidente, que se apresentou pelo nome, num lembrete de que esta é a primeira vez que os dois políticos se encontram pessoalmente. A primeira a falar, durante dois minutos, foi a candidata democrata, abrindo o debate com o tema da economia e custo de vida.
O candidato republicano desmentiu a opositora sobre a economia e lembrou que aplicou tarifas a “vários países do mundo”. “Mil milhões de dólares vieram da China.”
Donald Trump criticou ainda a inflação: “No meu caso, houve tarifas. Não houve inflação”.
“São estas pessoas que esta senhora e o presidente Biden deixaram entrar no nosso país e o estão a destruir”, atacou. “Pessoas perigosas. Estão ao mais alto nível de criminalidade. Temos de as retirar do país”.
“O que fizemos foi limpar o que ele fez. O que eu pretendo fazer é construir naquilo que sabemos que são as aspirações e as esperanças do povo americano”.
Trump, por sua vez, nega qualquer envolvimento.
“Não tenho absolutamente nada a ver com o Projeto 2025, nem se quer o li, nem o vou ler”.
“Fizemos um trabalho fabuloso na pandemia”.
O candidato presidencial republicano classificou a vice-presidente de ser "marxista" e acusou-a de não ter planos económicos próprios, copiando políticas do atual presidente, Joe Biden.
Donald Trump voltou depois a acenar com o tema de migrações.
E acusou novamente os democratas de “destruírem o país” com “políticas loucas”.
Questionada sobre a sua mudança de opinião quanto ao ‘fracking’, método de extração e hidrocarbonetos do solo, Harris garantiu que não irá bani-lo e que não o baniu enquanto vice-presidente. Esta é uma questão crucial na Pensilvânia, um Estado decisivo onde os candidatos estão empatados.
“Tenho um plano para a economia de oportunidades”, declarou, contrastando com o plano de Donald Trump de voltar a cortar os impostos às empresas e milionários.
“Eles têm o aborto no nono mês”, apontou Donald Trump, acusando o anterior governador de Virginia Oeste de dizer que “os bebés nascem e depois vê-se o que se vai fazer”.
“O vice-presidente, Tim Walz, é uma escolha terrível”, afirmou ainda, dizendo que o democrata defende as “execuções” de bebés.
“Eu não concordo com nada disso”, assegurou o ex-presidente. “Eu acredito nas exceções para violações, incesto, perigo de vida da mãe”.
“Os Estados estão a votar pela primeira vez. Foi um assunto que dividiu o nosso país. Todos os especialistas, democratas, republicanos, liberais eles podem votar”, disse. “Fiz um serviço incrível".
Em resposta às "execuções de bebés", Kamala repetiu: "vão ouvir muitas mentiras”.
De acordo com Kamala, na nomeação de vários juízes do Supremo Tribunal por parte de Trump teve “a intenção de que acabassem com a proteção do Roe v. Wade e foi isso que eles fizeram”.
“A decisão do que uma mulher faz com o seu corpo não pode ser tomada pelo Governo”, rematou Kamala Harris.
“Apoio completamente que sejam reaplicadas as proteções do Roe v. Wade“, disse claramente a candidata democrata.
De seguida, quis clarificar que “não há qualquer lugar na América onde uma mulher leve uma gravidez até ao final do termo e depois peça um aborto” — referindo-se à questão das “execuções” levantadas por Trump.
“Isso é insultuoso para qualquer mulher na América”, lamentou.
Donald Trump, repetiu no debate de terça-feira as alegações feitas em círculos republicanos de que imigrantes ilegais estão a "comer animais de estimação" de cidadãos norte-americanos.
“O nosso país está a perder. Somos uma nação que continua a falhar. O nosso país está a perder-se. Vamos ter uma terceira guerra mundial, porque milhões de pessoas estão a entrar no nosso país”.
“E se quiserem saber quem o antigo Presidente é mesmo, perguntem a quem trabalhou com ele”, diz, citando as críticas de membros da administração Trump como John Kelly e o general Mattis.
"Eles destruíram o tecido do nosso país", acusou.
O político republicano afirmou ainda que os Estados Unidos se tornarão uma "Venezuela em esteróides" se a sua rival democrata, a vice-presidente Kamala Harris, se tornar Presidente.
“Teria permitido que estancássemos o fluxo de fentanil a entrar pelas nossas fronteiras”, disse. “Mas Trump ligou a algumas pessoas do Congresso e disse ‘Matem essa proposta de lei’”.
“Ele vai falar muito sobre imigração esta noite”, acrescentou a candidata. “Convido-vos a assistir a um comício de Donald Trump, porque é muito interessante. Ele fala de personagens fictícias como Hannibal Lecter. Ele fala de moinhos que provocam cancro. E as pessoas saem mais cedo, exaustas e aborrecidas. Aquilo de que ele não fala é de vocês e das vossas necessidades, sonhos e esperanças.”
Quando questionado sobre a invasão do Capitólio, Donald Trump assegurou que “não tem nada a ver” com o incidente, vincando que apoiou protestos “pacíficos e patrióticos” e que foi convidado a discursar nesse dia.
Atirando contra a polícia que abateu manifestantes pró-Trump, o antigo presidente voltou a insistir na questão nas migrações.
“E as pessoas que entram no nosso país quando é que vão ser julgadas e condenadas? Ela [Kamala] é a czar das fronteiras”.
De seguida, Harris lembrou que esta não era uma situação “isolada” e relembrou as manifestações de Charlotesville, “onde havia gente com tochas a cuspir ódio antissemita”. “E o que disse Trump? Que havia ‘boas pessoas nos dois lados’”.
“Se não concordarem com isto, há um lugar para vocês nesta campanha”.
“Quando chega a este debate e nega que tenha perdido esses casos judiciais [sobre as eleições] leva-nos a pensar que talvez este candidato não tenha o feitio ou a capacidade de não se confundir sobre os factos. Isso é preocupante”, afirma, pondo em causa a acuidade mental do antigo chefe de Estado.
"É bem sabido que Donald Trump é fraco e está equivocado em segurança nacional e política externa", atirou Kamala Harris, dizendo que o oponente "admira ditadores" e quer ele próprio ser um.
"Se Donald Trump fosse presidente, Putin estaria sentado em Kiev neste momento", atirou Harris, argumentando que o plano do republicano para resolver a invasão da Ucrânia é ceder o país à Rússia.
"Eles [ditadores] podem manipulá-lo com lisonja e favores", disse, afirmando que os líderes militares chamam Trump de "desgraça".
Trump admitiu ter uma “boa relação” com Zelensky e Putin e que pretende falar com os dois para terminar a guerra brevemente. Na sua opinião os líderes russo e ucraniano “não respeitam” Biden, criticando ainda o facto de o atual Chefe de Estado não entrar em contacto com o líder russo.
“Vou resolver a guerra antes de ser presidente. Vou falar com um, vou falar com outro, vou juntá-los”, assegurou Donald Trump, referindo-se a Zelensky e Putin.
“Israel tem direito a defender-se, nós também o faríamos”, afirmou. Mas a seguir a candidata frisou que “demasiados inocentes estão a ser mortos” em Gaza.
“Temos de ter uma solução de dois Estados”. Procurando agitar Trump, responsabilizou-o pelo mau acordo de retirada do Afeganistão, que foi negociado ainda durante a administração anterior, mas aconteceu durante a administração Joe Biden com resultados desastrosos.
“Mas não vamos voltar atrás”, declarou, soblinhando que o seu foco é ajudar a concretizar “os sonhos, as esperanças e as ambições do povo americano.”
“Somos uma nação falhada. Estamos em sério declínio. Estão a rir-se de nós. Líderes estrangeiros ligam-me e não entendem o que se passa. Não somos um líder. Não temos ideia”, afirmou.
Os jornalistas da ABC News David Muir e Linsey Davis moderaram o debate, o único agendado até ao momento entre Donald Trump e Kamala Harris, pelo que poderá ser a primeira e única vez que os eleitores verão os dois políticos num frente-a-frente antes da eleição.