Dormindo ao relento - Francisco Coelho
No passado fim-de-semana o PORTO DE ANCIÃO foi nosso rumo. E que fim-de-semana! Há anos que não tenho sentido o confortável prazer de dormir ao relento, mirando estrelas no céu, ouvindo o conversar da mais variada bicharada ou os reboliços da natureza - mãe dançando ao sabor do seu inquieto vento. Sim, há muito que não sentia tudo isso, nem o som rouco que atrás de nós sussurrava ao pulsar de cessantes marés, aquele som que em tempos ninava todo o mundo – humanos, sereias e, até, monstros marinhos.
Pude lembrar, morrendo de saudades, de tempos idos, sobretudo das décadas de setenta e oitenta, em que, com colegas de idade, participei em recreios na sua linda praia de areia, atualmente convertida numa praia de calhaus, em terríveis aventuras nos seus famosos pesqueiros e demais encantos naturais assim como na busca de respostas aos muitos mistérios que seus recantos e entranhas guardam, como velhos pergaminhos, embebidos em histórias que, ainda hoje, mexem com tanta gente. Muitos dos vestígios do rosário de mistérios ainda ali estão e devem merecer toda a nossa consideração. A necessidade de valorização do nosso acervo de factos tal nos aconselha.
Em tempos ele acolhera muitas famílias (em 1942, segundo testemunhos do tempo, em número de treze) que escolheram a força das suas potencialidades em recursos naturais (abundancia e variedade de peixes; agua do poço de Nhô Taméu; abrigos para pescadores; conforto da sua enseada) para, na mais titânica luta pela sobrevivência (“crises cíclicas e fomes”), se esgrimirem da fome.
No passado fim-de-semana ele recebeu uma equipa de amigos que buscaram seus recantos para convívio, lazer e recreação e tudo correu de feição. Uma boa “central elétrica” e um lindo “dormitório”, ambos montados por Marcelino, os grandes mestres em culinária bravense e os exímios animadores de convívios do “Grupo Poli”, o grande zelo e empenho da equipa para que tudo corresse bem, a experiência acumulada do repórter fotográfico e, sobretudo, a mestria da tripulação da pequena, contudo briosa, embarcação que nos levou ao porto, encabeçada pelo grande e sempre disponível capitão Djuta, contribuíram para tal sucesso.
Francisco Coelho