ENTREVISTA: Miguel Rosa reclama "uma atenção especial" do Governo para a ilha do Maio
O presidente da Câmara Municipal do Maio, Miguel Rosa, reconheceu hoje que a ilha necessita de “uma atenção especial” do Governo rumo ao desenvolvimento, a começar por resolver os problemas de transportes marítimos, que condiciona a vida dos maienses.
Em entrevista à Inforpress, por ocasião do Dia do Município do Maio, celebrado a 08 de Setembro, o autarca admitiu que o problema de transportes marítimos de e para a ilha do Maio tem assombrado o seu desenvolvimento, numa situação actual que classificou de “emergencial”.
“Do mês de Maio a esta parte, todo o processo de desenvolvimento da ilha, utilizando uma expressão que não é minha, tem sido assombrada por esta questão da ligação marítima que até o mês de Maio estava a funcionar muito bem. Atualmente, a situação da ilha é emergencial”, admitiu.
Miguel Rosa referiu-se, por exemplo, a dificuldade de se abastecer a ilha com bens de primeira necessidade, bem como de escoamento de mercadorias, além de constrangimentos de pessoas retidas que, admitiu, tem criado “constrangimentos enormes”.
“Isso é inconcebível, repito, é inconcebível”, reforçou.
O problema do Maio, neste momento, continuou, não se prende com o assoreamento da rampa metálica, mas sim um problema com o navio que percorre a linha Praia-Maio, pelo que, sintetizou, “não satisfaz” a solução anunciada na semana passada pelo ministro do Mar de alocar o navio Praia d’Aguada.
“A solução Praia d’Aguada não é uma solução má, mas não satisfaz neste momento, porque não tem ró-ró. Para quando vamos ter uma Praia d’Aguada ró-ró? Não há previsão. O ministro tem uma visão muito interessante, até que concordamos, mas nós precisamos de medidas urgentes. Não podemos esperar três, quatro, cinco meses para que o Praia d’ Aguada seja transformada num navio ró-ró”, reagiu Miguel Rosa.
É por isso que o autarca pede “uma atenção especial” do Governo à ilha do Maio para a “resolução urgente” do problema que, como sugeriu, se prende com a “introdução imediata” de um navio ró-ró, já que a previsibilidade, regularidade e segurança “não estão garantidos” com a situação atual.
“Precisamos de um barco na rota Maio-Praia, não exclusivo, mas um barco dedicado a esta linha. E com o porto que temos, com as opções que temos de navios a nível nacional, não faz sentido o Maio estar a sofrer neste momento”, avançou, destacando que a ilha deve ser “tida e achada no processo de aquisição” de novos barcos que o Governo tem em andamento.
Apesar dos constrangimentos nos transportes marítimos, Miguel Rosa considerou que a ilha do Maio tem dado “saltos qualitativos” em vários setores de desenvolvimento, afiançando que “o Maio de hoje é completamente diferente do de 2016” e que os últimos anos tem sido de “transformação profunda” na ilha.
A mesma fonte destacou infraestruturas de requalificação urbana e ambiental, bem como aposta em infraestruturas desportivas que ultrapassam 200 mil contos, além de investimentos na habitação, através da reabilitação de casas.
No entanto, Miguel Rosa volta a destacar que a ilha precisa de “um clique do investimento privado” e da “atenção especial” do Governo para rumar ao desenvolvimento, destacando, por exemplo, o investimento Little África que, como avançou, vai inverter totalmente a dinâmica da ilha.
Segundo o autarca, das ilhas rasas, a ilha do Maio é a única que ainda “não deu o salto”, mas acredita que este salto vai acontecer a todo o momento.
Apesar da pouca representatividade nacional dos dados do turismo, Miguel Rosa admitiu a ambição de fazer da ilha um “destino turístico de excelência”, capaz de competir com destinos turísticos nacionais.
“O Maio tem todas as condições para ambicionarmos ter aqui quer a nível de índice de desenvolvimento humano, quer a nível de qualidade de vida das Seychelles, de Singapura, e de outros destinos internacionais. O problema é criar as condições para que um francês, por exemplo, que venha com o objetivo de conhecer a Ilha do Maio não fique na Praia quatro/cinco dias e depois regressar”, reiterou.
Aliás, Miguel Rosa considerou que na esteira do investimento privado que vai acontecer e tendo em conta as ambições da ilha, já há condições para se ter um aeroporto internacional, de modo a atrair ainda mais investimentos e colmatar a perda da população, “um problema” para a ilha.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), de 2010 a 2021 a ilha do Maio perdeu 8,9 por cento (%) da sua população e a expectativa é de que, até 2040, a ilha perca 22,6 % da sua população jovem.
Miguel Rosa, entretanto, desdramatiza a saída de jovens da ilha, justificando que o fenómeno é global.
“Pessoas com emprego e com estabilidade laboral também têm estado a sair da Ilha do Maio. É um fenómeno global da mobilidade de pessoas”, apontou.
Entretanto, o autarca assumiu que o maior problema, mais do que “estancar a saída” das pessoas, é a capacidade de atrair “investimentos “estruturantes, impactantes e indutores” que possam gerar empregos.
Para os que estão a sair, Miguel Rosa pediu que não percam a ilha do Maio de vista e que continuem a acreditar na ilha porque, como disse, “todas as condições estão criadas” para “dar o clique e transformar o Maio” numa ilha em que se possa viver bem, ter acesso a financiamento, ao emprego e com capacidade de gerar seus próprios empregos.
Inforpress/Fim