“Fazenda de Camarão” perde 580 quilos de pós-larvas: Empresa culpabiliza a TAP pelo prejuízo e critica situação dos voos em S. Vicente

A Fazenda de Camarão perdeu no Sábado um carregamento de 580 quilos de pós-larvas que lhe iria possibilitar arrancar em força a produção comercial da espécie “camarão branco do pacífico” e, conforme Nelson Atanásio, um dos administradores da empresa, a culpa é da companhia aérea TAP-Portugal. Segundo Atanásio, a TAP negou transportar a carga no percurso Lisboa-Mindelo, apesar de ter cobrado o frete, decisão que acabou por provocar a morte dos animais e um prejuízo estimado em 22 mil euros.

Oct 2, 2018 - 13:39
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“Fazenda de Camarão” perde 580 quilos de pós-larvas: Empresa culpabiliza a TAP pelo prejuízo e critica situação dos voos em S. Vicente

A Fazenda de Camarão perdeu no Sábado um carregamento de 580 quilos de pós-larvas que lhe iria possibilitar arrancar em força a produção comercial da espécie “camarão branco do pacífico” e, conforme Nelson Atanásio, um dos administradores da empresa, a culpa é da companhia aérea TAP-Portugal. Segundo Atanásio, a TAP negou transportar a carga no percurso Lisboa-Mindelo, apesar de ter cobrado o frete, decisão que acabou por provocar a morte dos animais e um prejuízo estimado em 22 mil euros.

“As pós-larvas foram enviadas de Miami para Lisboa armazenadas em 22 volumes, onde chegaram por volta das seis da manhã de sexta-feira. Deviam apanhar a ligação para S. Vicente no voo das 9:20, mas, inexplicavelmente, a carga não foi embarcada. Fomos ao aeroporto equipados com comida e oxigénio, mas não chegaram na viagem de sexta. Fomos informados que viriam no Sábado, voltamos a deslocar-nos ao aeroporto, de novo, nada”, conta Nelson Atanásio.

Apenas quatro dos 22 volumes chegaram ontem, entretanto, à cidade do Mindelo, mas, como os donos previram, os animais já estavam mortos. Aliás, o próprio laboratório norte-americano que vendeu as pós-larvas deu indicações para destruírem o produto, devido ao tempo que os animais foram obrigados a passar dentro dos recipientes.

Como explica Atanásio, os animais foram embarcados dos Estados Unidos com água e oxigénio suficientes para um determinado período de tempo. Ultrapassadas as horas previstas, diz, era natural que os animais morressem. Esse contratempo contrariou as contas à empresa, que pretendia povoar um dos viveiros e dispor de uma boa quantidade de camarão quatro meses depois. “Isto significa que a empresa e a própria economia do país acumularam prejuízos. Contudo, há que se tirar ilações deste caso e lembrar a situação que S. Vicente está a viver. S. Vicente era uma ilha organizada, dispunha de voos regulares que davam alguma segurança em termos de planificação às pessoas e empresas. Hoje estamos perante uma confusão total em termos das ligações aéreas com consequências evidentes para a nossa economia local”, comenta esse ex-presidente da Associação dos Armadores de Pesca. Por aquilo que sabe, empresas que antes exportavam peixe fresco e lagosta viva deixaram pura e simplesmente de o fazer por falta de segurança nas ligações aéreas. A própria Fazenda de Camarão, prossegue, pretendia exportar camarão vivo, mas adverte que isso não será possível nas condições actuais.

Para Nelson Atanásio, as entidades têm de tomar medidas urgentes para repor as linhas com S. Vicente. Na sua opinião, é inadmissível viver num país arquipelágico em que a circulação de pessoas e bens está sujeita a caprichos e decisões tomadas sem estudos profundos sobre os impactos.

Este incidente está a ser analisado agora entre a Fazenda do Camarão, a TAP e o laboratório norte-americano que vendeu as pós-larvas. Aliás, Atanásio realça que o caso está a ser discutido directamente entre a empresa norte-americana e a companhia aérea, já que o contacto com a TAP foi estabelecido pelo laboratório. Mesmo assim, a Fazendo de Camarão reagiu e contactou a transportadora aérea, mas, segundo Atanásio, as respostas foram todas evasivas. “Contactamos a TAP via email, mas é uma empresa sem cara, ninguém assume nada e quando alguém reage opta por meias-palavras. Vem nos dizer que a carga não tem prioridade sobre passageiros, mas aqui estamos a falar de animais vivos – que merecem ser respeitados. Além disso a TAP deve ter em devida conta que facturou o frete e pagamos”, salienta esse empresário, que critica ainda o preço “exorbitante” cobrado pela empresa portuguesa. Pelas suas contas, a TAP está a aplicar uma tabela 10 vezes superior àquela que a TACV costumava cobrar pelos mesmos serviços.

Para Atanásio, a situação vivida pela sua empresa é ilustrativa dos problemas que a indústria anda a sofrer na ilha de S. Vicente. Neste caso realça que a sua unidade contratou 45 pessoas, na sua maioria mulheres residentes na localidade de Calhau, e que ficaram numa situação angustiante por causa desse entrave no funcionamento da “fazenda”. De todo o modo, a empresa já iniciou a produção e conta colocar os primeiros produtos no mercado no início de Dezembro. Só que essa “fazenda” pretendia aumentar gradativamente a quantidade de camarão nos viveiros, até atingira sua capacidade de 300 toneladas/ano, e garantir o abastecimento do mercado nacional e exportar para a Europa e Brasil.

Esse incidente já foi comunicado ao Governo pela Fazenda de Camarão e, hoje, segundo o administrador Carlos Santos, a empresa recebeu garantias de que está a ser negociado com a TAP a manutenção de um voo semanal Sal-S.Vicente-Sal até o final do ano, com um avião com mais capacidade de carga. Segundo Santos, a acontecer, a empresa ficaria bem servida, pois poderá colocar os seus produtos na Europa e Brasil.

Além do camarão, a “fazenda” está preparada para produzir tilápia, uma espécie de peixe que será destinado tanto para a mesa como para abastecer os barcos de pesca de atum com isco vivo. Instalada em 24 hectares de um terreno situado junto ao extinto vulcão de Calhau, essa empresa representa um investimento de 600 mil contos, sendo considerada uma das primeiras unidades de aquicultura do mundo a funcionar a cem por cento com energias renováveis. Todo o processo produtivo, conforme Carlos Santos, será alimentado pela energia solar e as forças do mar e do vento, elementos naturais abundantes nessa zona.

Este jornal tentou entrar em contacto com a representante da TAP em S. Vicente, mas as nossas chamadas telefónicas não foram atendidas. Assim sendo, abordou a TAP no Sal e foi informado que a funcionária da operadora aérea no Mindelo estava de folga. Aproveitando a oportunidade, este online explicou o assunto e deixou os seus contactos telefónicos a fim de ouvir a versão da operadora portuguesa, o que não aconteceu até a publicação desta notícia.

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