Embora tenha sido o imigrante cabo-verdiano nos Estados Unidos mais rico e influente do seu tempo - o único a fundar uma Igreja - Marcelino “Sweet Daddy” Grace não é contudo celebrado nem visto com “bons olhos” pela comunidade cabo-verdiana nos EUA que tem um certo receio - ou mesmo vergonha - em evocar seu nome.
Muitos veem neles um charlatão ou um milionário excêntrico que usou a religião e a fé para proveito próprio.
A Igreja que ele fundou é também vista por muitos cabo-verdianos mais como uma seita ou culto obscuro que fere a sensibilidade do “povo cristão “. Mas vamos à história :
Filho de Manuel e Gertrude da Graça , Marcelino nasceu na ilha Brava entre 1881 e 1884 - não há data certa - e terá chegado aos Estados Unidos a bordo do navio “Luísa” em 1903 ou 1904 para se juntar à família que havia chegado uns dois anos antes.
Como tantos outros cabo-verdianos que na altura chegavam aos Estados Unidos, Marcelino "dobrou as costas" apanhando cranberies nos campos de Cape Cod e depois trabalhou como cozinheiro num vagão-restaurante.
Católico como a maioria dos cabo-verdianos, Marcelino terá ainda pertencido à Igreja Nazarena antes de fundar sua própria igreja por volta de 1919.
Com seu forte poder de oratória - Marcelino seria hoje o que se designa por "celebridade religiosa" ou “influencer” espiritual - o nativo da ilha Brava rapidamente conquistou a simpatia de milhões de afro-americanos principalmente nos estados de Massachusetts, Nova Iorque e Carolina do Norte.
Em 1920 pregou ostensivamente no segregado sul dos Estados Unidos, prometendo milagres e vida eterna aos seus seguidores.
CURADOR ESPIRITUAL E MILAGREIRO
Como “Sweet Darry” Grace , líder e fundador da UHOP, Marcelino clamava que através dele Deus continuava a operar milagres, incluindo ressuscitar os mortos. A testemunhar o facto, apresentava nos seus sermões sua irmã Eugenia que alegadamente havia morrido mas que ele teria levantado de entre os mortos. Para seus seguidores ele era o Messias, possuidor de poderes especiais delegados por Deus.
Para além de prometer a cura através da fé, “Sweet Daddy” Grace também perdoava pecados, alegando que a única via de salvação era através dele. Como terá dito em 1940 :
“Salvação é através e só através de Grace. Grace deu férias a Deus, e já que Ele está de ferias, não preocupem com Ele. Se pecares contra Deus, Grace pode te salvar, mas se pecares contra Grace, Deus não pode te salvar “.
E foi então que alguém lhe perguntou se ele era Deus. “Não, eu não diria que eu sou Deus “ - respondeu.
RIQUEZA, ESTILO E VIDA FAMILIAR
Marcelino Manuel da Graça, ou simplesmente “Sweet Daddy”, viveu e morreu “in style”.
O pastor evangélico, de fato brilhante, unhas pintadas e joias caras, tinha secretarias particulares, guarda-costas, assistentes, condutores e andava sempre em carros de luxo.
O seu investimento na imobiliária compreendia mais de 25 mansões de luxo nos Estados Unidos e foi dono de El Dorado, um icónico torres gémeas de complexos apartamentos em pleno centro de Manhattan, na cidade de Nova Iorque, e um palácio de 85 quartos no histórico Beverly Square, em Los Angeles.
Em 1936 também adquiriu uma mansão de 25 quartos em Havana, Cuba. Tudo isso num tempo em em que descriminação na industria da imobiliária reinava nos Estados Unidos.
“Sweet Daddy “ tinha ainda outros negocios que iam desde a venda dos seus produtos de cura - perfume, chocolate, xá, sabão, cremes faciais, produtos de cabelo ate...Grace Magazine.
“Sweet Daddy” casou duas vezes.
Primeiro com a cabo-verdiana Jennie da Lomba , com quem teve uma filha e um filho e de quem se divorciou em 1909. Sua segunda mulher foi Angelina Montano, americana de origem mexicana, com quem casou em 1932. Tiveram um filho em 1935 e se divorciaram em 1937.
Marcelino Manuel da Graça morreu no dia 12 de janeiro de 1960 em Los Angels, California. Tinha 76 ou 78 anos. Seu corpo está sepultado no Pine Grove Cemetery, na cidade de New Bedford, onde tem mausoléu e estátua erguida.