Governação: Discursos de vamos fazer e campanha para autárquicas
O governo de Ulisses Correia e Silva continua a produzir os discursos de vamos, com anúncio do crescimento económico de 6%, mas cujo efeito é zero em termos da melhoria das condições de vida dos cabo-verdianos. A par disso, desdobra-se em visitas e viagens pelas ilhas, numa clara campanha para as autárquicas de 2020, segundo denunciam os líderes dos partidos da oposição.
O governo de Ulisses Correia e Silva continua a produzir os discursos de vamos, com anúncio do crescimento económico de 6%, mas cujo efeito é zero em termos da melhoria das condições de vida dos cabo-verdianos. A par disso, desdobra-se em visitas e viagens pelas ilhas, numa clara campanha para as autárquicas de 2020, segundo denunciam os líderes dos partidos da oposição.
Cépticos estão os eleitores, que já não acreditam nos discursos do Governo, principalmente do Primeiro-ministro, do vice-primeiro ministro e demais governantes. Em causa estão sobretudo os resultados que tardam a chegar, face às promessas de criar 45 mil postos de trabalho (criou-se ainda um média de mil em três anos da governação) e o crescimento económico de 7% ao ano, que é ainda uma miragem.
Como descreve um analista político ouvido pelo Asemanaonline, o actual ambiente político em Cabo Verde caracteriza-se sobretudo por «uma descrença e desesperança» neste governo, nos políticos e nos partidos, em que se ressaltam:
- - Um governo arrogante que não escuta ninguém, cuja composição deixa muito a desejar – sequer se substitui os membros que certos elementos da base do MpD estão a pedir(Economia Marítima/Turismo/Transportes; Agricultura e Ambiente; Educação e Inclusão Social; Infra-estruturas, Ordenamento do Território e Habitação; Administração Interna; Saúde e Segurança Social, Cultura e Indústrias Criativas, etc).
- - Sinais graves de falta de transparência na gestão de coisa pública, com surgimento de vários casos de suspeitas de corrupção na administração central do Estado – serviços, empresas e unidades autónomas (contratos com CVInterilhas, Binter-cv e Icelandair são os mais criticados).
- - Governantes em visitas e viagens exageradas, gastando 600 mil contos por ano. Algumas das deslocações - caso do PM com o sistema MpD na semana passada ao Fogo - tem contado, na óptica de alguns críticos, com a suposta bênção e participação do chefe do Estado.
- - Disponibilização através do Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidade (PRRA) de avultados recursos às Câmaras Municipais - 20 são do MpD - numa clara estratégia, segundo o PAICV, a UCID e o Partido Popular, de financiar a campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2020 – está-se já em pré-campanha.
- - Sector empresarial privado que está a passar por uma profunda crise, isto diante da baixa na facturação e pouca circulação do dinheiro. Isto apesar do anúncio do vice-primeiro-ministro que «há dinheiro que não acaba».
- - Caos no sector do transporte marítimo entregue à Interilhas – ver o caso da ligação entre São Vicente-São Antão e Brava-Fogo-Praia. A situação é também crítica a nível dos transportes aéreos com a criação do hub aéreo no Sal – São Nicolau, como recentemente denunciou o antigo Primeiro-ministro e ministro da Economia Gualberto do Rosário, nunca esteve tão mal como agora em termos de ligações aéreas - paga-se duas passagens para se chegar a esta ilha via Sal e Praia.
Hegemonia ou Geringonça?
Mas a situação é preocupante em vários outros sectores, que retomaremos em outras edições do ASemanaonline. Já para o Governo do MpD, o país vai bem, com o povo a viver «cheio de felicidades e a economia a crescer em mais 6% por cento este ano». O caricato que é este crescimento – que pode, segundo alertam alguns economistas, tecnicamente ser conseguido nos gabinetes de estatísticas – nada está a contribuir para melhorar o ambiente de negócios no país e o nível de vida dos cabo-verdianos- desemprego continua a disparar, afetando sobretudo jovens qualificados profissionalmente.
Oxalá que cada um saiba reflectir e votar nas próximas autárquicas e legislativas, não colocando todos os ovos no mesmo cesto – saber distribuir poderes para evitar hegemonia política por um partido. Para o analista referido, se calhar Cabo Verde precisa de experimentar o modelo Geringonça à Esquerda ou à Direita, tal como aconteceu em Portugal, São Tomé e Guiné-Bissau. Fica lançado este desafio!