Homem que emigrou de forma clandestina ainda criança regressou 30 anos depois à Brava

José Andrade nasceu na localidade de Fajã D´Água e começou a sua aventura pelo mundo aos 11 anos, quando embarcou de forma clandestina num barco para Dakar, sem informar os familiares, e, décadas depois, regressou ao país.

May 2, 2019 - 05:41
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Homem que emigrou de forma clandestina ainda criança regressou 30 anos depois à Brava

José Andrade nasceu na localidade de Fajã D´Água e começou a sua aventura pelo mundo aos 11 anos, quando embarcou de forma clandestina num barco para Dakar, sem informar os familiares, e, décadas depois, regressou ao país.

Também conhecido por José di Bey, hoje com 67 anos, saiu da ilha em 1963 e regressou definitivamente em 1995/96.

Durante 32 anos andou pelo mundo “ganhando conhecimentos, evoluindo em todos os sentidos”, revelou em entrevista à Inforpress, para depois colocar em prática na ilha que o viu nascer, Brava.

Contou que na altura, a capital do Senegal era uma “porta de saída” para os cabo-verdianos, principalmente antes da Independência Nacional e, como desde criança “pensava como um adulto”, entrou numa embarcação em Fajã D´Água e foi desembarcar em Dakar.

Chegado aí, num meio “totalmente diferente” daquele em que vivia, ficou com os padres que o matricularam numa escola profissional, tendo feito a sua formação na área de solda de alta pressão.

Trabalhou em Dakar no ramo cerca de dois anos e depois foi para a França, de passagem, porque o destino final seria Holanda.

Entretanto, chegado à França deparou-se com um ambiente que o fascinou, tendo por ali ficado por “algum tempo”, e só depois foi visitar os familiares na Holanda, e regressado um tempo depois à França.

Durante o tempo que esteve na Holanda começou a trabalhar num navio na área da cozinha, mas este emprego, como contou, não lhe agradou, porque a vida que tinha em terra “era muito melhor” e no navio sentia-se fechado, pois fazia “carreiras grandes”, que muitas vezes “duravam meses”.

Sendo assim, abandonou este trabalho e regressou à França, onde ficou a trabalhar numa fábrica por conta de outrem, durante 13 anos.

Como a empresa fechou portas, passou a trabalhar em regime de prestação de serviço e, mais tarde, fez uma sociedade com um outro colega, que abriu uma empresa na área de construção civil.

“A empresa teve muito sucesso”, relatou, pois conseguiu trabalhos inclusive na restauração de monumentos históricos antigos da França, o que considerou um processo “muito interessante”.

De soldador passou por mecânico, marinheiro, cozinheiro e construtor civil, mas o que não esperava é que a paixão pela pintura, desde criança, tornasse uma outra profissão e hobbie.

Estando na França, José Andrade contou à Inforpress que frequentou vários ambientes culturais, várias exposições, cinema e muitos meios que o levaram a apreciar a arte.

Ao visitar exposições criou gosto pela pintura e decidiu colocar em prática o pouco que sabia, daí, participando num grupo, começou a pintar na rua, a participar em diversas actividades como convidado, e depois entrou para o curso de Belas Artes.

Estando aí, aperfeiçoou-se e conseguiu fazer várias exposições em França e outros países, “encantando” a todos com o seu traço artístico.

Até porque, como ele mesmo considerou, quando começou a pintar “era uma febre de pintura”, que pintava “noite e dia”.

E foi na França que teve a oportunidade de se apaixonar pela leitura, através de um professor de Filosofia, que lhe permitiu adquirir “um leque de conhecimentos e abertura sobre certos assuntos”, como referiu, e hoje a leitura tornou-se “mais uma paixão”, carregando um livro sempre por onde vai.

No meio de todo o sucesso, o desejo de voltar ao país sempre prevaleceu, e, em 1993, regressou a Cabo Verde para um período de férias.

“Quando cheguei aqui foi um choque, uma emoção, não somente devido às mudanças, mas as diferenças entre o mundo em que vivia”, declarou em alusão ao clima seco que e encontrou.

Regressou de novo à França, mas em 1995/96 voltou definitivamente para Cabo Verde com ideia de fazer algo para “mudar a ilha”, mas não contava com a “situação complicada”, como assinalou, a emigração, em que os jovens bravenses pensam sempre em emigrar.

“Parece que não há confiança e nada que incentive os jovens a permanecerem particularmente na ilha”, considerou.

Aos poucos, na ilha, começou a construir o seu património, investindo em diversos sectores, desde agricultura, produção de aguardente, empreendedorismo, turismo e artesanato.

O objectivo, sintetizou, é “elevar e desenvolver cada vez mais a ilha” e, mais tarde, transformar  sua residência num museu, tendo em conta que tudo o que aí se encontra “possui um toque artístico”.

MC/AA//AA

Inforpress/Fim