Iha do Fogo: Mais de dois terços da água disponível na ilha escorrem para o mar
Mais de dois terços (68.75 por cento) da água disponível nos lençóis freáticos da ilha do Fogo não são aproveitados e escorrem para o mar, revela um estudo sobre a disponibilidade da água nessa ilha.
Mais de dois terços (68.75 por cento) da água disponível nos lençóis freáticos da ilha do Fogo não são aproveitados e escorrem para o mar, revela um estudo sobre a disponibilidade da água nessa ilha.
José Rodrigues, administrador/delegado da empresa intermunicipal de águas, Águabrava, que faz a exploração de água nas ilhas do Fogo e da Brava, disse no encontro promovido com a classe empresarial, realizada esta semana, na Cidade de São Filipe, que a quantidade anual de água disponibilizada está calculada em cerca de oito hectómetros cúbicos, correspondente a oito milhões de metros cúbicos de água/ano.
Neste momento, refere-se, são explorados 2.5 hectómetros cúbicos, correspondendo a 31.25 por cento (%) e os demais 5.5 hectómetros cúbicos, 68.75%, escorrem para o mar todos os anos, sem que seja aproveitada
Durante o encontro, José Rodrigues disse que uma das vocações primeiras da ilha do Fogo é a agricultura, sector onde dispõe de grande potencial.
Explicou que se forem criados mecanismos e meios para explorar toda a água disponível no subsolo e a sua elevação para as zonas mais altas, isto poderá transformar e revolucionar a ilha.
Segundo o responsável, a empresa está a montar e a ensaiar um sistema de produção de energia renovável (solar) para as estações de bombagem e que por aquilo que se verificou no furo de Benecha, nas proximidades do aeródromo de São Filipe, é possível produzir energia solar para exploração e elevação de água de furos.
José Rodrigues acredita que a experiência possa vir a reduzir os custos de forma significativa e permitir o aproveitamento da água para potencializar o desenvolvimento do sector agrícola mas também do turismo.
Este refere que o estudo realizado e que foi apresentado no início deste ano aponta que a partir das cartas de precipitação anual, estima-se que a media anual de recarga do lençol freático em toda a ilha é de 24.6 hectómetros cúbicos (cada hectómetro cúbico corresponde a 1.000.000 metros cúbicos) volumes que não são explorados na sua totalidade.
As necessidades de água para a ilha, segundo estimativa do Plano Estratégico de Água e Saneamento (PLENAS) para 2010 e 2030, são de 1.6 hectómetros cúbicos/ano (2010) e 2.9 hectómetros cúbicos/ano (2030), o que significa que em 2030, segundo a projecção, apenas 36.25% da água disponível será explorada e consumida na ilha.
O estudo técnico indica que a nível da ilha do Fogo existem nove grandes bacias hidrográficas com áreas entre os 27 a 97 quilómetros quadrados que se subdividem em 320 bacias hidrográficas, das quais quatro têm mais de 10 quilómetros quadrados, nomeadamente Chã das Caldeiras, Ribeira Montinho, Ribeira trindade e Ribeira de Patim.
Chã das Caldeiras é a principal zona de recarga de toda a ilha do Fogo, sendo que o valor de precipitação nesta área influencia decisivamente o valor de disponibilidade de água subterrânea.
Parte dos valores de recarga não é passível de ser explorada, seja devido à descarga directa no mar, nas linhas de água ou perdas por evaporação.
Este valor deve ser considerado como ponto de partida para a gestão dos recursos, que devem ser calibrados através da continuação e intensificação da monitorização.
Neste momento, um dos grandes constrangimentos continuam a ser o preço de água praticado para agricultura, que é calculado em função dos custos de bombagem através de energia convencional.
No encontro com os empresários, em que participou o vice primeiro-ministro e ministro das Finanças, o edil de São Filipe, Jorge Nogueira, disse que existem três tarifas de água na ilha, sendo uma de 55 escudos por tonelada, que é cobrada aos agricultores que estão ligadas à rede gerida pelo Ministério da Agricultura, uma outra de 110 escudos/tonelada, aos que recebem a água da empresa Águabrava, e uma terceira tarifa de 35 escudos, que é praticada nos Mosteiros.
Segundo o mesmo, a ideia é ter uma gestão única da água para agricultura, unificando a tarifa que não deverá ultrapassar os 55 escudos por tonelada.
Com a introdução de energias renováveis, acredita-se que seja possível que o preço venha a ser inferior. C/ Inforpress