Ilha Brava: O sonho da mãe que quer ver sua filha surda-muda a falar e ouvir para poder ir à escola

Domingas Martins é doméstica e mãe de três filhos, mas a primogénita, Kellyane, é surda-muda e devido à sua dificuldade, este ano não está a frequentar as aulas, por não ter companheiro e residir numa zona muito distante.

Dec 8, 2018 - 12:20
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Ilha Brava: O sonho da mãe que quer ver sua filha surda-muda a falar e ouvir para poder ir à escola

Domingas Martins é doméstica e mãe de três filhos, mas a primogénita, Kellyane, é surda-muda e devido à sua dificuldade, este ano não está a frequentar as aulas, por não ter companheiro e residir numa zona muito distante.

Segundo a mãe, a Kellyane leva o seu dia-a-dia normal, mas quando estava na escola era “muito mais alegre, mais desinibida e entendia melhor”.

Daí, o sonho desta mãe é conseguir um tratamento para a filha, o que, conforme diz, infelizmente até agora não conseguiu concretizar porque isso implica sair para o exterior e ela não possui condições.

Domingas Martins contou à Inforpress que a filha “não nasceu com esta deficiência”, conforme lhe revelou um especialista que ela consultou há cerca de dois anos, mas sim, “perdeu a audição durante o seu crescimento”.

Assim, ela lamenta o facto de antes não ter tido a oportunidade de fazer nada pela filha, porque, sublinha, desde pequena a mesma sentia muita febre confinada à zona da cabeça, mas sempre que ia ao hospital receitavam-na paracetamol e outros medicamentos que minimizavam os sintomas.

“Infelizmente, aqui na Brava a medicina ainda está muito aquém, não temos um especialista e muitas vezes alguns sintomas passam despercebidos para os clínicos gerais”, lamentou.

Domingas Martins se apercebeu da dificuldade da filha em falar e ouvir quando ela tinha apenas dois anos, mas mesmo assim “não conseguiu fazer nada por ela em termos de procurar especialistas porque não tinha como…”, desabafou.

Ao completar os quatro anos, Kellyane passou a frequentar o jardim-de-infância, e aos sete foi para a escola primária, época em que um grupo de turistas conheceram a menina e apoiaram a mãe com alguma quantia monetária, o que lhe permitiu levar a filha a um especialista na Cidade da Praia.

Conforme Domingas, o especialista disse que Kellyane pode voltar a ouvir, mas tem de ser tratada enquanto criança, para ser colocada um aparelho no interior dos dois ouvidos, porque se o aparelho for colocado de fora não faz a mínima diferença no problema dela.

Entretanto, ajuntou, desde aquela época não teve a oportunidade de consultar mais nenhum especialista, por “falta de condições financeiras e apoios”.

Questionada o porquê da filha não estar a frequentar a escola e nem a sala de recursos, Domingas Martins disse, lamentando, que ela não tem como mandá-la à escola, visto que Braga, a zona onde residem, fica cerca de 3kms afastada da Vila de Nova Sintra, onde há escola, não tem quem acompanhá-la e sozinha não pode deixá-la fazer o percurso todos os dias, porque ela “não tem noção exacta das coisas e se perder não sabe explicar onde mora e quem são os seus pais”.

“Sempre fiz de tudo para que ela tivesse uma vida normal, frequentando as aulas e aprendendo, porque os estudos são tudo. Mas infelizmente, neste momento não sei o que fazer, porque ela anda no meio da estrada e não tem quem orientá-la, porque a sua colega com quem faziam o percurso juntas, foi estudar numa escola mais distante”, contou Domingas.

Conforme apurou a Inforpress, para que Kellyane pudesse frequentar o primeiro ano, a mãe trazia-lhe todos os dias e, conforme disse, tinha de ficar sentada na praça de Nova Sintra das 8h às 12:30, aguardando que as aulas terminassem para levá-la de volta à casa.

Acontece que, neste momento, ela tem mais duas crianças pequenas e não consegue fazer este percurso todos os dias. Assim, procurou apoios, mas até agora “não teve nenhuma resposta”.

Mesmo assim, num desabafo à Inforpress, Domingas Martins deixou claro que não vai “cruzar os braços” nem parar de procurar apoios pela filha, pois, o seu maior sonho é ver a Kellyane a “falar e ouvir” para poder continuar a estudar.

***Por Marli Mendes, da Agência Inforpress***