ILHA BRAVA – Piscinas naturais, natureza auspiciosa, cultura e boa música | Cabo Verde
lha Brava, ou como dizem os locais djabraba, é a ilha mais inóspita e isolada de Cabo Verde. Chegar ali não é para todos os estômagos mas é, garantidamente, sinónimo de bons trilhos, maravilhosos mergulhos e muita cultura e alegria cabo-verdiana. Com pouco mais de 5 mil habitantes, a Ilha Brava luta todos os dias para manter a sua população jovem e evitar a emigração das suas gentes.
lha Brava, ou como dizem os locais djabraba, é a ilha mais inóspita e isolada de Cabo Verde. Chegar ali não é para todos os estômagos mas é, garantidamente, sinónimo de bons trilhos, maravilhosos mergulhos e muita cultura e alegria cabo-verdiana. Com pouco mais de 5 mil habitantes, a Ilha Brava luta todos os dias para manter a sua população jovem e evitar a emigração das suas gentes.
QUANDO IR
Cabo Verde tem uma amplitude média anual da temperatura muito baixa fazendo deste país um destino de viagem maravilhoso durante todo o ano. A ilha Brava não é excepção e pode ser visitada em qualquer mês do ano, especialmente quando combinada com uma visita à ilha do Fogo.
COMO IR PARA A ILHA BRAVA
Chegar à ilha Brava não é fácil mas garanto-lhe que vale a pena. Ponto, por ponto, vamos explicar-lhe como chegar à ilha Brava:
- Para chegar ali é preciso voar para a cidade da Praia, na ilha de Santiago, a capital de Cabo Verde. Há voos da TAP e da TACV desde Lisboa e de outros aeroportos europeus e africanos.
- Depois há que apanhar um novo voo para a ilha do Fogo. Geralmente existem voos diários, mas consulte o site da Binter, a operadora aérea responsável pelos voos inter-ilhas em Cabo Verde para saber os horários e os dias de voo. Se preferir também pode usar o barco que faz a ligação entre a Praia e a ilha do Fogo. O barco demora 4 horas e o mar normalmente está agitado, por isso nunca usamos. Se quiser usar o barco saiba que os atrasos são frequentes. O bilhete custa 3600 escudos. Geralmente sai às segundas, quartas e sextas mas pode variar. Os horários são igualmente voláteis, pelo que preferimos voar. Consulte este site para preparar a sua viagem de barco.
Cabo Verde Fast Ferry
Praia – Fogo
Os horários são muito voláteis, geralmente às 15 h ou às 17 h mas também pode sair às 10 h manhã. Consulte horário aqui.
Fogo – Praia
Geralmente sai às 7 h da manhã da Praia mas pode também sair às 6 h ou às 16.30 h. Consulte horário aqui.
- Uma vez no Fogo, aproveite para explorar a ilha, que bem merece. Depois apanhe um barco para a Ilha Brava. A viagem do Fogo para a Brava custa 1550 escudos. O barco, o Kriola, é o mesmo que vem da Praia para o Fogo. Os horários também variam muito e dependem do dia da semana. Geralmente sai do Fogo às 20 h e da Ilha Brava de manhã. O mar é bastante agitado, daí o nome da ilha: Brava! Mas vale a pena a experiência. Afinal, são só 40 minutos! Para comprar bilhetes tem que se dirigir à agência Qualitur durante o dia. A agência fica em São Filipe. Não é possível comprar bilhetes directamente no barco.
Cabo Verde Fast Ferry
Fogo – Brava
Os horários são muito voláteis, geralmente às 20 h ou às 21 h mas também pode sair às 12 h ou às 15 h. Veja horário aqui.
Brava – Fogo
Geralmente sai às 7 h da manhã da Brava mas pode também sair às 6 h ou às 16.30 h. Veja horário aqui.
- Uma vez no porto da Brava há que apanhar um aluguer para chegar a Nova Sintra, a capital da ilha Brava. Prepare-se para a estrada das 99 curvas!
COMO SE DESLOCAR NA ILHA BRAVA
Para se deslocar na ilha Brava vai ter de apanhar os alugueres utilizados pela população local entre as povoações. Esta é a forma mais genuína de explorar a ilha. No entanto, se tiver pouco tempo, viajar de aluguer na ilha da Brava é moroso, pelo que será melhor arranjar um carro com motorista ou táxi para o levar onde quiser. Os táxis são poucos pelo que andar à boleia também é uma boa opção. A ilha Brava é muito segura por isso não vai ter problemas.
ALOJAR-SE NA ILHA BRAVA
A ilha Brava tem poucas opções de alojamento. Os alojamentos resumem-se quase todos à povoação de Nova Sintra. Na minha viagem à ilha fiquei alojada no Hotel Djabrabas, um Eco-Lodge em Cruz Grande em Nova Sintra. Não dá para marcar pelo booking mas apenas por telefone: 00238.979.4934. O hotel é gerido pelo italiano Marco Giandinoto e também pode entrar em contacto com ele por email: marcogiandinoto@gmail.com. O quarto duplo custa 30€ por noite.
Outras boas opções em Nova Sintra são o Hotel Cruz Grande, o melhor hotel da Brava. É limpo, numa casa tradicional e mesmo no centro da vila. Pode marcar no booking através deste link. Para além destes dois hotéis é possível ficar alojado no Centrum 7 Sóis 7 Luas, num dos dois quartos que existem no primeiro andar. A banda chama-lhe o quarto presidencial, porque o Presidente de Cabo Verde já dormiu ali. Para marcar estes quartos deve entrar em contacto com o Zé Duarte, representante do Festival SSSL na ilha Brava e também músico do grupo Brava7LuasBand, através do telefone: 00238.599.6115. Ali é possível reservar dois quartos com casa de banho privativa e água quente nas residências para artistas. O quarto custa 25€ por noite.
Se não conseguir alojamento nestes ou preferir marcar noutros, saiba que na Brava só existem mais duas opções de alojamento, são elas o Motel Brava Tur, outra boa opção, na vila de Nova Sintra, ou o Hotel Pousada Nova Sintra. Ambos podem ser marcados através do link do booking.
ONDE COMER NA ILHA BRAVA
Na Ilha Brava não há muitos restaurantes mas há muitas casas particulares que lhe podem servir comida. Essa é uma bela experiência para sentir bem a ilha e a sua cultura. Nós comemos várias vezes no Centrum 7 Sóis 7 Luas, comida crioula preparada pela Rosa, a vocalista da banda. Para almoçar ou jantar lá há que conatctar a Rosa por tlm ou viber (app semelhante ao whatsapp amplamente utilizada em Cabo Verde) através deste número 00238.982.7680. Avise com alguma antecedência para a Rosa ter tempo de comprar comida e cozinhar. Não perca o frango coca-cola e a comidinha crioula maravilhosa!
Outra opção para comer e que experimentamos foi na casa do Julinho, mais uma casa particular, que nos preparou a refeição para o almoço quando fomos à Fajã da Água. A vista do terraço é maravilhosa e foi também uma boa experiência com comida muito saborosa. Para marcar aqui a sua refeição deve telefonar antes para o número 9850079.
Nestas casas, a comida é caseira, criada com os produtos da terra e do mar, que estão disponíveis. Para além disso, contribuem para dinamizar a economia local, tão necessitada em ilhas pequenas e periféricas como a ilha Brava.
Tomar banhos na maravilhosa piscinas naturais da Fajã da Água
O segredo mais bem guardado de Cabo Verde são as magníficas piscinas naturais da Fajã da Água. Localizadas bem próximas da antiga pista do aeroporto abandonado da Brava, as piscinas naturais localizam-se numa fajã, uma forma plana, junto ao mar, resultado de uma escoada lávica do vulcão.
As piscinas naturais inundam-se de água na maré alta e ficam mais pequenas na maré baixa, pelo que são ideais em qualquer altura do dia. A água é verdadeiramente fabulosa, a uma temperatura fantástica, nem muito quente, nem fria. Há espaço nas rochas para estender as toalhas, relaxar e até fazer um belo piquenique.
Foi o meu lugar preferido na ilha Brava e vale a pena ir ali só para conhecer e desfrutar deste pedacinho do paraíso na Terra. É, para mim, um dos lugares mais bonitos de Cabo Verde. Aqui, num momento de relaxe com o Filipe, do Alma de Viajante e a Paulina, do Paulina on the Road.
Ver um concerto da Banda 7 Sois 7 Luas
A emigração é o principal problema da Ilha Brava. A maioria dos jovens da terra não resiste ao flagelo do desemprego e lançam-se frequentemente na busca de melhores condições de vida nos EUA e na Europa. Nem todas as histórias de emigração são de sucesso mas a vontade de sair é muita. O projecto 7 Sóis 7 Luas foi criado para travar esta Diáspora, especialmente nas ilhas onde a oferta de emprego é mais limitada. Sendo assim, a Brava7LuasBand é o melhor exemplo disso. Rosa, Isac, Calu, José e Moisés são os “Pandas”, os últimos músicos cabo-verdianos da ilha. São como que uma espécie em vias de extinção e se a emigração os levar para além fronteiras, a música na ilha Brava irá desaparecer.
A banda é extraordinária e, para mim, a melhor de todas as que conheci em Cabo Verde. Os músicos são simpáticos, unidos, alegres, cheios de vida e de esperança no futuro. A Rosa, a vocalista é uma mulher furacão, uma força da natureza que transpira alegre e vida, contagiando tudo e todos. A sua voz, acompanhada genialmente pelos restantes membros da banda, enchem a praça e os corações de todos os que os ouvem. Há imensas músicas originais, muito boas mesmo, mas também cantam as músicas mais badaladas de Cabo Verde. A banda não actua com regularidade mas se tiver a sorte de os ouvir, faça-o. A vantagem é que pode reservar uma actuação musical para uma noite e o custo é de acerca 100 euros. Este custo envolve o pagamento de trabalho justo para os seis músicos, bem como a montagem de todo o material de som e a utilização do espaço. Garanto-lhe que vai valer a pena.
Provar o queijo da Dona Jaqueline na povoação do Cachaço
Se for à Ilha Brava não pode deixar de provar o maravilhoso queijo de cabra da D. Jaqueline, uma pequena produtora da povoação do Cachaço. Este queijo é feito de forma completamente artesanal com o leite colhido todos os dias de manhã. O leite de cabra é fermentado simulando o processo natural que ocorre no estômago das crias das cabras. Assim, a D. Jaqueline utiliza um pouco do líquido do estômago de uma das crias, uma enzima presente no estômago dos mamíferos e que se chama renina. Essa substância, em pequenas quantidades, forma uma malha que gelifica, levando junto com ela moléculas de gorduras e sais minerais. Essa enzima é acrescentada ao leite do dia, e em poucos minutos, o leite fica coalhado, vai-se transformando em queijo e fica pronto para consumir. Por incrível que pareça esta forma de fazer queijo terá sido descoberto por acaso na Mesopotâmia, há mais de 14 000 anos e ainda é usado um pouco por todo o mundo na produção de queijo artesanal.
A D. Jaqueline não sabe como a tradição de produção de queijo ali chegou, talvez a necessidade tenha aguçado o engenho, como se diz, mas a verdade é que a forma de produção do queijo lhe foi passada pela mãe e avós e hoje continua a ser feita da mesma forma.
Dê uma volta à ilha e contemple a beleza da paisagem nos vários miradouros
Um das coisas obrigatórias a fazer na Ilha Brava é arranjar um carro e dar uma pequena volta à ilha para poder ter uma ideia geral deste território.
Nesta voltinha, há vários miradouros para contemplar as maravilhas escondidas da ilha e alguns dos melhores e que constituem paragens obrigatórias são:
- Miradouro Mira Beleza – Bem próximo de Nossa Senhora do Monte, e com vistas sobre a povoação da Fajã da Água é uma das melhores vistas da ilha, permitindo contemplar os vales profundos que se estendem em direcção ao mar.
- Miradouro Mira Grandeza – Perdido no meio do bosque verdejante (depois de uma chuvada) que leva à povoação do Cachaço, este miradouro permite contemplar a costa sudoeste da ilha.
- Miradouro de Nova Sintra – Um pouco acima da povoação, e em direcção a Cova Rodela, fica um dos miradouros com melhor vista panorâmica sobre a ilha Brava, Nova Sintra e, em dias de céu limpo, a ilha do Fogo ao fundo. Um belo local para e deliciar com a paisagem.
- Miradouro de Mato Grande – Não é um miradouro formal, mas a curva da estrada antes de chegar a Mato Grande tem uma das minhas perspectivas preferidas da ilha Brava, com vertentes abruptas a descer em direcção ao mar, casas construídas e empoleiradas nas vertentes e a ilha do Fogo ao longe, separada apenas por um canal no Atlântico. Uma visão de cortar a respiração.
Fazer o trilho pedestre entre Nossa Senhora do Monte e a Fajã da Água
Um dos trilhos mais bonitos da ilha Brava é a descida de Nossa Senhora do Monte até Fajã da Água por uma estrada empedrada e abandonada que ligou as duas povoações durante séculos. O trilho é sempre a descer pelo que demora menos de 1h30 a fazer.
Ao longo do percurso passa-se por aldeias e campos agrícolas abandonados. Uma vez na povoação da Fajã Grande há que caminhar um pouco mais, junto ao mar, para chegar às piscinas naturais e desfrutar de um momento de relaxamento fabuloso.
Visitar Nova Sintra
A capital da ilha Brava, Nova Sintra, é a única capital de uma ilha cabo-verdiana, longe do mar. No entanto, esta localização não a torna menos interessante do que todas as cidades e vilas de Cabo Verde.
Do alto de Nova Sintra, especialmente da Cruz Grande é possível ter belas vistas sobre a ilha e sobre a ilha do Fogo, logo ali. Não perca uma voltinha na povoação para visitar o Centrum 7 Sóis 7 Luas, com exposições de pintura e fotografia, ou para contemplar a calçada portuguesa na praça Eugénio Tavares, com o coreto e alguns pequenos cafés e edifícios coloniais.
Perca-se nos cafés e associações da vila, juntando-se aos homens que acompanham os jogos de futebol aos aos jogadores de loto. Visite ainda o mercado municipal, onde ainda há bordadeiras tradicionais que vendem os seus produtos.
Contemplar a vida dos pescadores na Furna
Na povoação das Furnas, onde chega e parte o barco Kriola que liga a ilha Brava ao Fogo, há uma pequena comunidade de pescadores que vale a pena conhecer. As ligações ao mar perduram há séculos e por ali, os pescadores continuam a fazer as fainas diárias como aprenderam com as gerações passadas.
Apesar da algazarra do porto, as gentes da Furna continuam a viver de forma tranquila, sem stress e muito descontraída. Vêem todos os dias o barco chegar e partir, mas contemplam-no à distância, sonhando porventura com aqueles que o barco levou da sua terra e que nunca mais regressaram. Muitos também pensam ir mas por agora, continuam sentado na marginal, e envolvidos na pesca local, onde por agora só os barcos cabo-verdianos têm autorização para pescar.
Subir ao ponto mais alto da ilha – Fontaínhas (976 m)
O ponto mais alto da ilha Brava situa-se nas Fontainhas, a pouco menos de mil metros de altitude. Este é um belo local para contemplar uma vista panorâmica da ilha. Infelizmente não o percorri, mas há uma placa na estrada que marca o seu inicio (placa está na estrada entre Cova Rodela e Mato Grande). A subida demora cerca de uma hora mas promete belas vistas sobre a ilha.
Fazer o trilho que liga Mato Grande à aldeia da Baleia
Um dos trilhos que não tive hipótese de fazer, mas que fiquei cheia de vontade de experimentar foi o trilho de burros que liga a povoação de Mato Grande à aldeia da Baleia, uma aldeia praticamente abandonada na parte oriental da ilha Brava. O percurso ainda hoje é feito por meia dúzia de aldeões que sobrevivem na aldeia, mas a aldeia, infelizmente, segue na rota do despovoamento. O percurso é fácil de fazer e, para quem quiser seguir, há que continuar em direcção às ruínas da casa de Eugénio Tavares, um dos músicos bravenses mais amados em Cabo Verde. O trilho completo demora cerca de uma hora para cada um dos lados.
“Levantar voo” no aeroporto abandonado da ilha Brava
Não venha embora da ilha Brava sem tirar a fotografia da praxe! Vá até ao aeroporto abandonado da Brava, aproveite a pista de aviação completamente livre e salte! Salte para a fotografia da Ilha Brava!
Carla Mota
