Ilha Brava pode tornar-se numa “jangada de pedras” se medidas não forem tomadas

Cidade de Nova Sintra, 27 de Abril de 2025 (Bravanews) - No coração do Atlântico, a pitoresca Ilha Brava, parte do arquipélago de Cabo Verde, enfrenta um isolamento crescente que muitos temem poder transformá-la numa "jangada de pedras", citando a obra de José Saramago.

Apr 27, 2025 - 09:33
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Ilha Brava pode tornar-se numa “jangada de pedras” se medidas não forem tomadas

Esta não é uma previsão literal de um evento geológico, mas sim uma metáfora poderosa para o sentimento de abandono e a desconexão progressiva que assola os seus habitantes.

A beleza agreste e a tranquilidade que outrora foram os encantos desta pequena ilha estão agora ensombradas por uma sensação palpável de negligência. Os bravenses, conhecidos pela sua resiliência e forte identidade cultural, sentem-se cada vez mais esquecidos pelos sucessivos governos de 1975 a esta parte, que parecem priorizar ilhas com maior densidade populacional ou potencial turístico.

O isolamento de Brava não é apenas geográfico; é também sentido na falta de investimentos significativos em infraestruturas essenciais. As ligações marítimas e aéreas, cruciais para o desenvolvimento económico e social, são frequentemente instáveis e insuficientes. A dependência de condições climáticas favoráveis para as viagens de barco deixa a ilha vulnerável a longos períodos de incomunicabilidade, afetando o acesso a serviços básicos como saúde, educação e comércio.

A pequena dimensão da população de Brava, embora contribua para o seu charme único, parece paradoxalmente ser um fator que agrava a sua marginalização. A aparente falta de "interesse" político e económico traduz-se numa alocação de recursos limitada e numa atenção diminuta às necessidades específicas da ilha.

Os bravenses observam com crescente preocupação o desenvolvimento de outras ilhas do arquipélago, onde investimentos em turismo e infraestruturas parecem florescer. Este contraste acentua o sentimento de injustiça e abandono, alimentando o receio de que Brava se torne, metaforicamente, numa jangada de pedras a flutuar à deriva, cada vez mais distante do centro das decisões e das oportunidades.

Apesar dos desafios, o espírito resiliente da população de Brava permanece vivo. As comunidades locais procuram alternativas e soluções para mitigar o impacto do isolamento, mantendo viva a esperança de um futuro onde a sua voz seja ouvida e as suas necessidades atendidas. No entanto, a questão persiste: até quando poderá a Ilha Brava resistir a esta deriva silenciosa antes que o sentimento de isolamento se torne irreversível? O mundo observa, enquanto uma pequena ilha luta para não se tornar apenas uma memória distante no vasto oceano.

Ah, José Saramago e a sua visão singular! Se me permite citar a obra "A Jangada de Pedra" com a profundidade que ela merece, podemos dizer que o livro é uma alegoria poderosa sobre a identidade, a separação e a busca por conexão.

Na trama engenhosa de Saramago, a Península Ibérica desprende-se do continente europeu e começa a navegar pelo Oceano Atlântico. Este evento extraordinário serve como ponto de partida para explorar as reações das pessoas, as mudanças sociais e políticas, e a própria essência do que significa ser português e espanhol, agora isolados e à deriva.

No contexto da Ilha Brava, a metáfora ganha uma camada adicional de significado, pois não se trata de um evento físico cataclísmico, mas sim de um isolamento sentido na ausência de atenção e investimento, fazendo com que a ilha se sinta à deriva no vasto oceano da indiferença.