Josefina Chantre destaca Amílcar Cabral como “grande impulsionador mundial” do processo de libertação dos povos oprimidos
A combatente da liberdade da pátria Josefina Chantre disse hoje à Inforpress que Amílcar Cabral foi um grande impulsionador mundial do processo de libertação dos povos oprimidos sob o jugo colonial.
Josefina Chantre, que é presidente da Renascença Africana – Associação das Mulheres da África Ocidental (RAMAO-CV) e fundadora da Organização de Mulheres de Cabo Verde (OMCV), falava a propósito do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, que se celebra na quinta-feira, 12 de Setembro.
“Amílcar Cabral não foi apenas um herói nacional, mas um líder visionário que inspirou movimentos de libertação em todo o continente africano”, afirmou a combatente, reforçando que a sua luta não era apenas pela independência de Cabo Verde, mas pela libertação de toda a África e pela construção de um futuro mais justo e equitativo para todos”.
A combatente que conviveu de perto com Amílcar Cabral, desempenhando várias funções, durante a luta anticolonial, e que se dedicou à luta pela igualdade das mulheres após a independência de Cabo Verde, relembrou que Cabral foi “um grande pensador, político, estratega e visionário” pelo que “todos que homenagear o legado desse homem que extravasou as fronteiras da Guiné-Bissau e Cabo Verde”.
“Cabral foi de facto um visionário porque o pensamento que hoje em dia as Nações Unidas querem como igualdade de género já era um pensamento de Cabral na altura, lá atrás, quando ele viveu”, disse a mesma fonte.
Segundo Josefina Chantre, apesar de ser engenheiro agrónomo de profissão, Amílcar Cabral foi um “grande estratega” porque ele dirigiu um exército, fazia os planos de ataque dos camaradas para combater os colonialistas e dirigiu a luta armada, que durou 11 anos, sem nunca ter passado por uma academia militar.
Mas, ressalvou, Amílcar Cabral nunca pensou em fazer a luta armada, porque queria que os povos de Guiné-Bissau e Cabo Verde tivessem o direito de serem livres, independentes e soberanos como qualquer outro povo.
“Nessa altura, o regime colonial português de Salazar nunca quis sentar-se à mesa para dialogar com Cabral. Daí que ele optou, em última análise, por desencadear em 1963 a Luta Armada de Libertação Nacional que ocorreu nas matas de Guiné durante 11 anos”, adiantou a combatente da liberdade da pátria, reforçando que “foi uma luta conjunta, porque Cabral tinha um conhecimento profundo sobre Guiné-Bissau e Cabo Verde e entendia que teriam que andar de mãos dadas e seriam mais fortes se estivessem realmente unidos”.
Para Josefina Chantre, Amílcar Cabral foi uma peça-chave na criação do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) porque foi ele junto com outros nacionalistas, em Portugal, que começaram realmente a tentar pôr de pé ou a encontrar a melhor maneira para a libertação dos povos das colónias, como Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, que estiveram sobre determinação colonial durante 500 anos.
“Passados quase 100 anos sobre o seu nascimento, é normal que estejamos aqui a celebrar a memória de Amílcar Cabral, que foi um dos maiores líderes africanos de todos os tempos”, considerou.
Apesar de se mostrar triste com o chumbo do projecto de resolução para comemorar o centenário de Amílcar Cabral, na Assembleia Nacional, ao longo de todo o ano de 2024, a combatente da liberdade da pátria enalteceu a sociedade civil em Cabo Verde e na diáspora que “chamou para si essa responsabilidade” de organizar as actividades comemorativas.
“A sociedade civil reagiu e um pouco por todo o lado tenho vindo assistir realmente a comemorações a todos os níveis. E por altura dos 17 anos da minha associação, a RAMAO-CV, em Março, celebrei o centenário de Cabral com a palestra ‘Cabral Mulher e Desenvolvimento’, porque ele deu uma atenção muito particular à mulher”, lembrou.
Segundo Josefina Chantre, durante o regime colonial, a mulher foi duplamente explorada pelo próprio regime e pelo próprio homem, mas Cabral entendia que todo o ser humano tinha de ter oportunidades iguais.
“Para mim, Cabral foi um grande nacionalista que deu a sua própria vida, para que hoje possamos viver em paz. E hoje, de mãos dadas, mulheres e homens, e sem discriminação de espécie alguma, estamos a construir esta pátria que nós queremos para as nossas crianças e que ele também tanto amava”, arrematou.
Nascido a 12 de Setembro de 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, Amílcar Cabral, filho de pais cabo-verdianos, foi o principal arquitecto do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), em 1956, que organizou e liderou as frentes de combate contra o regime colonial português. No entanto, a sua visão ia além de suas nações.
Entre os feitos históricos de Cabral, relembrados por Josefina, destaca-se o Congresso de Cassacá, em 1964, onde ele insistiu na inclusão de mulheres nos comités de liderança, antecipando o que hoje se defende globalmente em termos de igualdade de género.
O centenário de Amílcar Cabral está a ser celebrado com diversas actividades em todo o mundo, incluindo simpósios e homenagens, exposições, debates e cerimónias com a participação activa da sociedade civil e de associações.
Formado em agronomia em Portugal, Amílcar Cabral usou seus conhecimentos para organizar movimentos de resistência em prol da libertação de seu povo. Ele foi um dos fundadores do PAIGC, em 1956.
A partir da criação desse partido, Cabral iniciou uma luta política e militar contra o regime colonial português, que culminou em uma das mais eficazes campanhas de libertação na África. Amílcar Cabral destacou-se por adoptar uma abordagem estratégica e inovadora na luta de libertação e defendeu a importância de combinar a luta armada com a mobilização política e a educação do povo.
Além disso, ele foi um defensor do pan-africanismo, conectando as lutas de independência na África à luta global contra o colonialismo. Amílcar Cabral era também um intelectual de renome, cujas ideias influenciam até hoje debates sobre descolonização e desenvolvimento. Ele via a luta de libertação como um processo não só militar, mas cultural, defendendo que o verdadeiro objectivo da independência era a emancipação total do povo, incluindo a reconstrução das identidades africanas subjugadas pelo colonialismo.
Os seus discursos, escritos e acções continuam a inspirar movimentos de libertação e lideranças políticas ao redor do mundo.
Segundo dados históricos, a 20 de Janeiro de 1973, poucos meses antes da independência da Guiné-Bissau, Amílcar Cabral foi assassinado, em Conacri, mas o seu legado se manteve vivo. A Guiné-Bissau declarou sua independência em setembro do mesmo ano, e Cabo Verde seguiu o mesmo caminho em Julho de 1975.
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