Militantes do PAICV não se entendem nos Mosteiros

Apr 3, 2016 - 11:12
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Militantes do PAICV não se entendem nos Mosteiros

O nosso jornal teve acesso a uma troca de emails onde o presidente da Assembleia Municipal, José Cruz e Silva, é culpado pela derrota de 20 de março, acusado de intriga, de comportamentos censuráveis e de ser fator de desunião das hostes tambarina. A luta entre ratos, ratinhos e ratazanas já começou nos Mosteiros, onde os militantes digerem mal a queda do “bastião” do Fogo

Traumatizados pela pesada derrota eleitoral, os militantes do PAICV nos Mosteiros não se entendem, trocam acusações e chegam mesmo a recorrer à baixaria para encontrar bodes expiatórias do tsunami de 20 de março, em que perderam feio o “bastião” histórico tambarina.

Cabo Verde Direto teve acesso a uma troca de emails entre o 1º secretário de setor dos Mosteiros, Jaime Monteiro, e alguns militantes, onde se percebe que o ambiente no interior do PAICV é de cortar à faca, impróprio das relações entre “camaradas” de um mesmo partido que, à partida, deveriam estar unidos por ideais. Mas não, a leitura que se pode fazer é a de que os valores e princípios foram arredados do seio do PAICV e substituídos por lógicas de poder, onde todos se atropelam para lá chegar.

O pretexto da baixaria é a convocação de “encontro alargado do Sector, aos Eleitos Locais e Lideranças Locais”, a ter lugar ao início da manhã deste domingo, 03, no Salão Nobre dos Paços do Concelho dos Mosteiros e com a seguinte ordem de trabalhos: 1. Análise das eleições legislativas de 2016; 2. Preparação das Eleições Autárquicas de 2016 - definição e estratégias; 3. Diversos. Jaime Monteiro indica as razões da convocação de tal encontro, que se prendem com “os resultados do pleito eleitoral do passado 20 de Março que ditou derrota do PAICV” e “necessidade de nos debruçarmos sobre esses mesmos resultados e preparar as eleições autárquicas que se avizinham”, pode ler-se na comunicação do 1º secretário.

Logo a seguir, Monteiro recebeu a reação do presidente da Assembleia Municipal e diretor da Escola Secundária dos Mosteiros, José Cruz e Silva (na foto), fazendo algumas observações sobre a ordem de trabalhos e discordando da pertinência do encontro: “Bom dia Camarada Jaime. Enquanto membro do Conselho Nacional do Partido e tendo já sido convocado o concelho Nacional do Partido para os dias 9 e 10 de Abril, sou de parecer que devíamos primeiro ir para este encontro e depois da nossa vinda fazer o conselho de setor, pois teremos mais argumentos, definições de estratégias e elementos sólidos para a preparação das eleições autárquicas”, escreve o também candidato a candidato À sucessão de Fernandinho Teixeira na presidência da câmara.

Jaime Monteiro responde a Cruz Silva, alegando que resolveu “convocar o encontro de modo a auscultar os nossos principais colaboradores e ativistas de campanha sobre os reais motivos do desaire eleitoral recente e levar para o CN as nossas preocupações. Por outro lado pretendemos apresentar o balancete das legislativas, cuja finalização depende de algumas facturas/recibos por recolher, inclusive do camarada, e clarificar de uma vez por todas a questão sobre as próximas autárquicas de forma a evitar qualquer equívoco ou desunião /falta de lealdade política entre os dirigentes do partido e ou nossos militantes, amigos e apoiantes do PAICV”, pode ler-se no email.

O presidente da Assembleia Municipal lá acaba por ceder aos argumentos de Monteiro, no entanto, sugerindo uma alteração na ordem de trabalhos: “penso que seria mais prudente se discutíssemos o ponto 1 da agenda (Análise das eleições legislativas de 2016) e o ponto 3 (Diversos) deixando o ponto 2 (Preparação das Eleições Autárquicas de 2016 - definição e estratégias) para depois do encontro do Concelho Nacional a realizar-se nos dias 09 e 10 de Abril”.

O derrotado “senhor Cruz”

Logo a seguir, o militante Amândio Barbosa em resposta ao “Camarada primeiro secretário” (ver imagem mais abaixo) saúda a realização do encontro e começa a desfiar um rosário de acintes ao presidente da Assembleia Municipal: “A reunião deve ser realizada tal como foi convocada pois não percebo que o senhor Cruz quer fugir das propostas para as autarquias, mesmo quando com arrogância diz que a sua sugestão é como membro do CN. Imagine-se que este derrotado ainda quer dar sugestão. Só pode ser gozo”, escreve o “camarada” Amândio na sua missiva eletrónica, acusando Cruz Silva de “uma campanha contra a câmara e contra o presidente”, sublinha o prosélito tambarina.

“Tendo esse senhor Cruz sido rejeitado pelo povo dos mosteiros, incluindo a zona de Relva que ele gabava ser dele, não está em condições de propor o que quer que seja. Devia avaliar a sua continuidade porque por mais esforço que ele possa fazer, ele é o rosto deste descalabro, pela incompetência, pela intriga, e por desconhecer a política”, escreve ainda Amândio, acrescentando: “O senhor Cruz foi derrotado porque faz a campanha no bar pirâmide e no palco só disse tchacota. O senhor Cruz se fôr uma pessoa honesta deve dizer aos camaradas o que ele fez em Achada Grande nos dias 4 e 5 de Março, ou o que andou a fazer no dia 8 em Cova Feijoal ou ainda o que fez com o carro de campanha nos dias 12 e 13 em fajãzinha. Nós presenciamos tudo isso”, adverte o “camarada” Amândio, deduzindo-se haver algo de menos abonatório para o putativo candidato à Câmara Municipal dos Mosteiros.

Amândio Barbosa acusa Cruz de ser “fator da desunião, da intriga, e se continuar levará o Paicv para o descalabro” e aconselha o partido a “travar” o homem “enquanto é tempo”, porquanto – acusa! – o candidato a candidato “só veio procurar cargos no partido e dividir o Paicv” e, ainda, que é “um grande fingidor”, aconselhando que “a conversa mansa, cínica, enganador deve parar”, num arrazoado de palavras de quem se percebe não dominar bem a escrita.

“Como ativista e antigo membro do conselho do setor deixo este aviso aos meus camaradas e quem avisa amigo é. Senhor Jaime, senhor Fernando, senhores membros até quando serão enganados por este falso Paicv. Sei que ele vai fazer de vítima com estas minhas palavras, mas peço a todos não vão na cantiga deste senhor. Deita-nos abaixo todos. Já está a fase a campanha com base na intriga em todas as localidades tal como aproveitou da doença do presidente para lançar a candidatura. Não presta MESMO”, remata o “camarada” Amândio no seu email dirigido a secretário de setor e a todos os convocados para o encontro, incluindo José Cruz Silva.

Pelo tipo de acusações pode-se perceber que o ambiente interno no PAICV dos Mosteiros não é dos melhores e as próximas eleições autárquicas poderão fazer ressurgir o fenómeno verificado nas eleições presidenciais de 2011, quando ratos, ratinhos e ratazanas se digladiaram em termos nunca vistos na política caboverdiana.

Cruz Silva avança contra Fernandinho

Em Maio de 2015, José Cruz Silva anunciou a intenção de ser candidato à Câmara Municipal dos Mosteiros nas próximas eleições autárquicas. Em entrevista à Inforpress, o presidente da Assembleia Municipal disse que a candidatura estava “de pé”, apenas dependendo das bases, e anunciou que a candidatura teria sido solicitada por “45 líderes comunitários das diferentes localidades”.

“Além da juventude que é muito grande, essa candidatura conta com apoio de todos os líderes locais, pessoas históricas do PAICV e apoios de mosteirenses emigrados em várias partes do mundo, como Portugal e Estados Unidos”, disse José Cruz e Silva à agência noticiosa caboverdiana, adiantando que a candidatura acolhe aprovação de mais de 75 por cento (%) dos eleitores. Contas que, agora, com o tsunami de 20 de março, parecem estar baralhadas, para mais porque da mesma área política foi já anunciado por Pedro Centeio o surgimento de uma candidatura independente (ver aqui), que vai baralhar ainda mais o jogo, abrindo ao MpD grandes possibilidades de destronar o PAICV nos Mosteiros.