Município do Tarrafal: Do Cartão Postal à Realidade

Apr 14, 2016 - 14:11
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Município do Tarrafal: Do Cartão Postal à Realidade

Os média vendem-nos o Município do Tarrafal (MT) como um dos municípios mais bonitos de Cabo Verde, principalmente pelas suas lindas praias, pessoas afáveis, simpáticas e muito tranquilas.

Raras vezes vemos outras partes do MT a serem promovidas na comunicação social, a não ser por iniciativa dos seus próprios munícipes nas redes sociais, em particular, no facebook.

Depois de algum tempo, acompanhando notícias veiculadas nos órgãos de comunicação social, é possível constatar e perceber que a única imagem apresentada como cartão postal do MT, é a que mostra a praia do Tarrafal (Praia do Tarrafal e de Mar de Baixo).

Esta é, para mim, de uma beleza natural deslumbrante, única a nível nacional e internacional.

Sem colocar em causa o esforço de quem sempre vendeu o MT como sendo o município composto pela única praia de areia branca da Ilha de Santiago, com coqueiros, águas quentes e cristalinas, ao longo de todo o ano, a verdade é que a praia da Baía do Tarrafal tem capacidade, por si só, para se “vender” a si própria, permitindo ainda a promoção de outros aspetos ou caraterísticas peculiares que podem acrescentar valor a investimentos que aproveitem este produto turístico considerado por muitos, de excelência.

Referencio a este propósito, a zona da Achada Bilim que, para aqueles que não conhecem, fica por detrás do nosso “elefante adormecido” (Monte Graciosa, uma das 7 maravilhas do MT).

A Achada Bilim possui uma extensa zona florestal e plana, no extremo norte do MT, proporcionado aos seus visitantes um amplo olhar num horizonte sem fim, estimulando a meditação e a criação de cenários imaginários, desafiando a sua materialização.

Importa ainda destacar outros pontos deste território, identificados durante o processo de candidatura às Sete Maravilhas de Cabo Verde que, em minha opinião, poderão ajudar na promoção do MT e as suas “Sete Maravilhas”, nomeadamente:

  1. O Monte Graciosa, na categoria de montanhas, serras e falésias;

  2. A Caldeira de Maria Sevilha, na categoria de monumentos de cariz vulcânico;

  3. A Pedra N`Pena, na categoria de ilhéus, rochas, rochedos e grutas;

  4. A Baia do Tarrafal, uma das maravilhas de Santiago, na categoria de baías, enseadas, angras e zonas húmidas;

  5. A Praia do Tarrafal, na categoria de praias de areia branca ou negra, também umas das maravilhas de Santiago;

  6. A Duna de Areia Preta, na categoria de dunas e corredores dunares;

  7. O Parque Natural de Serra Malagueta, outra das 7 maravilhas da ilha de Santiago, na categoria de paisagens e área de interesse científico;

Creio não estar longe da verdade ao afirmar que cada um dos cidadãos do nosso país acredita, certamente, num Tarrafal próspero, ambicionando que este se torne uma verdadeira referência em termos de investimento e alternativa turística no género, até porque já é muito procurado ao longo do ano por aqueles que residem no país mas, também, por muitos outros que nos visitam e procuram Cabo Verde e a Ilha de Santiago, em particular, como alternativa turística preferencial para gozo das suas merecidas férias.

É possível encontrar, também, a poucos quilómetros, uma das maiores baías do país, a “Baía de Chão Bom”, que começa na ponta de Chão Bom, prolongando-se até à Ponta de Água Doce, localizada a pouca distância do Porto da Ribeira da Barca, Município de Santa Catarina.

Creio que, se tentarmos não “separar o nosso município em pedaços” e conseguirmos promover a nossa imagem como um todo, poderemos, em meu entender, alavancar toda economia de Santiago Norte.

Para tal, devemos concentrar a nossa atenção, sobretudo, na Praia e Baía do Tarrafal, em estreita ligação a outros pontos localizados a sul, como a Baía de Chão Bom e a comunidade e Praia da Ribeira Prata, de areia preta, banhada por um oceano de água quente e cristalina.

Esta praia é caracterizada por uma curiosa proximidade com uma extensa zona hortícola onde se destacam os coqueiros e as mangueiras.

Estas características naturais, associadas a projetos estruturantes promotores do desenvolvimento do nosso nobre município, através duma avenida marginal, poderá valorizar enormemente toda essa zona qualificando-a como ponto de referência em termos turísticos.

Acresce a este potencial, a possibilidade de construção de uma vasta rede de miradouros, em diversos locais, permitindo a observação da beleza escaldante do nosso território assim como a valorização de toda área de expansão urbana, complementando esta ideia com a construção de um grande porto de águas profundas para o que devem ser disponibilizados projetos e planos detalhados das zonas referidas.

Já a norte do Município, podemos encontrar as zonas ou as praias da Fazenda, da Prozela, de Angra, etc.

Penso podermos ambicionar, neste caso, assumir uma atitude mais pró-ativa no que se refere a projetos estruturantes ou com a definição de tendências futuras para bem da nossa região e Ilha, tal como a construção de um aeródromo, conforme estabelece o Plano Desenvolvimento Urbanístico Municipal (PDM).

Não devemos esquecer que o poder da natureza está no oceano, regulando todo equilíbrio ecológico à sua volta, por isso, seria muito bom pensar percorrer a Ilha de Santiago através duma avenida marginal, começando pelo norte, respirando o “Oxigénio” produzido pelo nosso maior património a explorar.

A interligação do MT e de toda ilha de Santiago através de uma avenida marginal ou “circular”, poderá revelar-se decisiva, podendo esta servir de base ao esforço de preservação de toda a zona que outrora era considerada, sobretudo, para efeitos de exploração de inertes o que hoje é um mito para os que visitam a região pela primeira vez.

Não é fácil vislumbrar, hoje, fazendo um exercício de memória relativamente aquela época, avistar, a partir de miradouros naturais, animais a pastar e a brincar tranquilamente nos prados e na areia.

Trata-se de uma realidade completamente diferente daquilo que hoje aqui podemos encontrar, podendo ser descrito, antes, como um autêntico deserto de pedras e cascalho que para alguns seria uma verdadeira mina a céu aberto, a explorar com recurso a maquinaria com capacidade de transformação da matéria-prima disponível, produzindo areia e brita para comercialização livre, fornecendo o mercado da construção civil local e regional.

Não devemos menosprezar, de modo algum, toda a influência negativa que o impacto da extração de inertes está a causar ao pulmão do MT (área do perímetro florestal e toda área agrícola dentro do mesmo perímetro, colunato de Chão Bom), a que acresce a salinização periódica do terreno de cultivo, com a destruição dos aquíferos existentes na zona mais a litoral do terreno de cultivo, que servem de barreira natural, separando as áreas costeiras das áreas agrícolas.

Em boa verdade, a situação descrita coloca em causa, de certa maneira, o volumoso investimento que tem vindo a ser feito nas zonas de cultivo, já que são solos e áreas afetadas pela salinização e degradação, decorrentes dos fatores atrás mencionados.

Todo o investimento, particularmente o público, deve ser ponderado em função do retorno económico previsível mas, também, tendo em conta o impacto que poderá ter na melhoria das condições de vida das pessoas ou das comunidades, devendo ainda ser avaliado em termos de benefícios esperados ao longo do seu tempo de vida útil expectável.

Ao não se observarem estes aspetos, os decisores públicos correm riscos de desperdício de recursos importantes mas de significativa escassez e que mais tarde terão de explicar aos eleitores.

Tal como noutros campos do saber, a defesa da ideia de tentar aumentar a produção intensiva de bens, sem uma gestão eficaz e planeada, acabará por se revelar infrutífera e desastrosa servindo apenas e momentaneamente para alguma notoriedade pública mas que acabará por, a breve prazo, criar problemas sérios e de difícil resolução aos gestores a quem será atribuída, mais cedo ou mais tarde, a tarefa de resolver problemas herdados, fruto de uma gestão pouco cuidada e responsável.

A ação de promoção do território do Município, de uma forma conjunta, global e articulada, será, a meu ver, a estratégia que mais vantagem poderá trazer ao desenvolvimento equilibrado do Tarrafal.

Com a opção pela valorização de recursos e património de forma isolada, sem concertação numa única estratégia conjunta de desenvolvimento, para além de algum favorecimento desta ou daquela área de intervenção resultante de uma postura algo tendenciosa, que em nada favorecerá o Município, corre-se ainda o risco de desperdício de recursos que, como atrás referi, são reduzidos, cabendo aos representantes públicos a boa gestão destes recursos.

Como Tarrafalense, partilho da opinião de muitos outros de que não existe formalmente um “Centro Administrativo” da região (Santiago Norte) com sede e localização reconhecidas como tal.

Considero entretanto, de forma convicta, que os municípios desta região, particularmente o Município do Tarrafal, têm sido consideravelmente prejudicados pela ausência de eficiência e de eficácia das respostas que têm sido dadas, até agora, aos problemas de desenvolvimento com que se deparam e que, como sabemos, têm, na maioria dos casos, origem em dificuldades idênticas carecendo, por isso e tal como referi, de soluções comuns ou concertadas.

A confirmar esta tese e a título de exemplo, refiro os dois trágicos acidentes de viação ocorridos, recentemente, no MT.

Se tivermos em conta, apenas, o tempo de resposta a uma emergência, a eficiência do corpo de Bombeiros do Tarrafal considerada como variável fundamental, deverá ser comparada com a resposta produzida por bombeiros de outras paragens tomados como referência nacional e até mundial.

No entanto, de nada vale chegar primeiro e ficar de braços cruzados a tentar gerir ou contornar uma situação de emergência médica sem meios e equipamentos de socorro necessários e adequados para uma resposta imediata, efetiva e competente, que resulte no salvamento de vítimas de tão infelizes acontecimentos.

Se a situação de emergência implicar, por outro lado, uma intervenção da corporação de bombeiros num combate a um incêndio e se for necessária uma quantidade de água superior a 500 Lit., a capacidade de transporte disponibilizada pelas viaturas da corporação local tornará a situação numa catástrofe de dimensões incontroláveis, com resultados absolutamente trágicos uma vez que será necessário esperar o apoio operacional de corporações de bombeiros de outro município considerado, eventualmente, a “capital” da região.

Em face desta realidade, considero da maior importância podermos contar com um MT dotado de serviços bem equipados, com todos os recursos considerados básicos, sem perder de vista aquela que é hoje, a conjuntura por todos nós vivida.

O Município do Tarrafal e as restantes autarquias do interior de Santiago, que denomino de “Municípios da periferia”, são claramente prejudicadas, em meu entender, face a um Município que é tido como o centro administrativo da região, o “super município” na configuração atual do território, centralizando a representação das principais entidades desconcentradas do Estado.

É importante podermos dispor, antes, enquanto cidadãos de pleno direito, de um conjunto de serviços públicos descentralizados que consiga dar as respostas que todos ambicionamos e que, acima de tudo, nos são devidas.

Só assim poderemos, em minha opinião, rever-nos e orgulhar-nos de verdadeiros serviços públicos que tenham inscrito na sua “missão”, a valorização efetiva e motivação dos seus recursos humanos, apetrechando-se dos equipamentos necessários que lhes permitam prestar um serviço de qualidade às populações, tal como estabelece e garante, aliás, o nosso texto Constitucional.

Creio, com o que descrevi atrás, interpretar o sentimento de qualquer Tarrafalense ou dos cidadãos dos municípios “da periferia” que não se reveem na manutenção de uma dependência excessiva de terceiros ou, neste caso, de municípios vizinhos.

A manter-se este estado de coisas, caminharemos rapidamente, em meu entender, para uma situação de “desastre” e de bloqueio de serviços que passarão a ser prestados em condições que, estou certo, deixarão muito a desejar.

É minha convicção de que, ao dotarmo-nos de serviços próprios, dedicados principalmente às populações do nosso município, tornando-nos menos dependentes, embora em articulação com outros, aumentará, claramente, a sua eficácia, eficiência e qualidade.

Gostaria ainda que boa parte da geração Tarrafalense que nos últimos anos tem vindo a sair do município à procura de maior e melhor formação académica pudesse, ao terminar tão importante etapa da vida, regressar às suas origens, promovendo a melhoria dos recursos técnicos e humanos ao serviço do desenvolvimento do Município do Tarrafal, da Ilha de Santiago e, em última análise, de Cabo Verde.

Permito-me desafiar, a este propósito, o novo Governo da IX legislatura, eleito no passado dia 20 de Março, a trabalhar e a produzir resultados, a médio prazo, consolidando a expetativa de regresso desses jovens, na certeza de que todos eles desejam voltar e dar o seu contributo enquanto cidadãos e que, consecutivamente, se converterão numa maior esperança de melhoria económica da sua família e da sua comunidade.

A sua contribuição poderá ainda estender-se à melhoria das estatísticas em matéria participação cidadã, ajudando na educação da comunidade onde estão inseridos, formado os que demonstram carências ao nível da formação base.

Como jovem do MT, não gostaria de vir a ser acusado, no futuro, de fazer parte de uma geração que se acomodou e não lutou pela melhoria da sua própria condição de vida ou que não quis contribuir para o desenvolvimento do nosso município.

Para mim é claro que dispomos de uma enorme energia e vontade de nos tornarmos uma força motora de crescimento económico, social e cultural da nossa Região, do nosso País e, sobretudo, do Município do Tarrafal.

A não assumirmos, quanto antes, uma posição clara e decidida, mostrando disponibilidade para trabalhar para o bem comum, será óbvio que não teremos qualquer tipo de legitimidade para defender ou exigir o que quer que seja, no futuro.

A governação agora escolhida pelo Povo de Cabo Verde é, em minha opinião, a que reflete melhor o desejo de mudança dos Cabo-verdianos, em particular dos Tarrafalenses, simbolizando, acima de tudo, a vitória da esperança sobre o medo, sobre o nepotismo e sobre o desemprego.

Estas são, em meu entender, razões substanciais porque contamos com o trabalho e empenho do novo governo que, estou certo, irá corresponder às nossas melhores expetativas.

Elaborado por:

Mestre Victor Mendes