Nas últimas eleições autárquicas Brava rejeitou Francisco Tavares e sua trupe, mas disse SIM ao MpD (Movimento Para Democracia)
Vila Nova Sintra, 11 de Abril de 2025 (Bravanews) – A paisagem política da Ilha Brava permanece quente após as últimas eleições locais, que culminaram na eleição inédita de Amândio Brito, um candidato sem filiação partidária prévia, para a presidência da Câmara Municipal. No entanto, a análise aprofundada dos resultados revela um quadro mais complexo e carregado de nuances, com a clara rejeição da população a Francisco Tavares e sua influência, o fortalecimento expressivo do Movimento para a Democracia (MpD) na Assembleia Municipal e um alerta interno no seio do próprio MpD sobre o papel futuro de Tavares.

A vitória de Amândio Brito, embora marcando o fim de um ciclo e a ascensão de uma figura independente, não pode ser dissociada do contexto em que ocorreu. A expressiva votação conquistada pelo MpD para a Assembleia Municipal, resultando em uma bancada oposicionista numericamente superior à do partido que lidera o executivo, demonstra inequivocamente a forte adesão da população bravense à plataforma e aos candidatos do MpD. Este resultado eleitoral foi um claro "não" à continuidade do modelo de governação associado a Francisco Tavares e sua equipe, que lideraram a Câmara Municipal nos mandatos anteriores.
Fontes internas do MpD, em declarações exclusivas ao Bravanews, expressaram crescente desconforto com o que consideram uma "excessiva intromissão" de Francisco Tavares na dinâmica política actual da ilha, tanto dentro do próprio partido quanto nas questões de governação. Essa alegada influência pós-eleitoral não vai de encontro ao veredicto das urnas de 1º de dezembro, onde os eleitores da Brava sinalizaram de forma clara um desejo de mudança e uma rejeição à liderança anterior. A insistência de Tavares em manter um papel proeminente nos bastidores tem gerado tensões e divisões dentro do MpD, com algumas vozes a considerá-lo um elemento "tóxico" para a participação política futura do partido na ilha.
Da análise da expressiva votação conquistada pelo MpD para a Assembleia Municipal, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) deve adoptar uma postura cautelosa, não considerando a Brava como um território eleitoralmente conquistado para as próximas eleições. A análise fria dos números de votantes revela que, embora o MpD tenha perdido o poder executivo no último pleito, ainda detém uma maioria numérica de eleitores registados na ilha. Este dado sublinha a necessidade de o PAICV manter um trabalho consistente e apresentar propostas convincentes para capitalizar os resultados para a Câmara Municipal e conquistar a confiança da maioria dos bravenses.
A actual conjuntura política na Brava apresenta um cenário complexo e dinâmico. A eleição de alguém para a Câmara Municipal, que nunca militou em qualquer partido político , impulsionada em parte pela rejeição à figura de Francisco Tavares, abriu um novo capítulo na história política da ilha. No entanto, a forte presença do MpD na Assembleia Municipal e as divisões internas geradas pela influência persistente de Tavares criam um ambiente de incerteza e potencial instabilidade.
Para o MpD, que deve ir ainda este ano a eleições locais para escolher a nova Comissão Política Concelhia, o desafio reside em consolidar a expressiva votação obtida, gerir as tensões internas decorrentes do papel de Francisco Tavares e apresentar uma alternativa coesa e credível para o futuro da ilha. Ignorar o recado claro das urnas e a insatisfação de parte dos seus próprios militantes pode comprometer o capital político conquistado.
Por outro lado, o PAICV enfrenta a oportunidade de se apresentar como uma força de união e estabilidade, capaz de agregar opiniões divergentes e apresentar um projeto de desenvolvimento que ressoe com as necessidades e aspirações da população bravense. Subestimar a força eleitoral do MpD, mesmo diante da rejeição a Tavares, seria um erro estratégico que poderia custar caro nas próximas eleições.
A "nova era política" na Ilha Brava, portanto, está longe de ser um caminho linear e previsível. Ela se configura como um período de redefinições, realinhamentos e intensa disputa pelo poder, especialmente na escolha de novas lideranças locais, assim como dos candidatos a deputados nacionais na próxima legislatura. A capacidade dos diferentes atores políticos de lerem corretamente o cenário, de aprenderem com os erros do passado e de apresentarem propostas que atendam aos anseios da população será determinante para o futuro da ilha e para a consolidação de um novo ciclo político. O olhar atento dos cidadãos bravenses e o seu engajamento na vida política serão, como sempre, a chave para moldar o futuro do seu torrão natal.