O debate necessário: Que modelo económico para os próximos anos em Cabo Verde
Numa altura em que se aproximam as eleições legislativas no país que definirão o rumo do país para os próximos tempos é bom que comecemos a discutir seriamente o país, como queremos ser governados nos próximos tempos e que governo para responder aos muitos desafios do país. Desta feita propomos uma discussão sobre o modelo do desenvolvimento económico para os próximos tempos.
Entre um modelo centralizador ou descentralizador? Entre mais autonomia regional ou a construção de uma estratégia nacional de desenvolvimento? Entre mais regulação ou menos regulação? Entre o sector público interventivo ou um Estado mínimo?
As respostas não são fáceis, nem eu pretendo as dar, mas são perguntas para as quais os decisores políticos têm de responde, pois, muito do que será a governação do país nos próximos, passará por respostas à este nível, que conduzirão o país no rumo pretendido. São formas distintas de governar, mas que definirão o rumo das políticas públicas.
Apesar do trajeto de sucesso do país, onde a boa governação foi e é a imagem de marca, hoje há novos desafios e o desenvolvimento passará por uma postura, igualmente, da boa gestão da coisa pública, verificada na governação dos últimos anos.
No passado, era necessário criar as infraestruturas necessários para a dinamização da economia e o Estado tinha de cumprir o seu papel dotando a economia destas infraestruturas para que o sector privado pudesses e tivesse condições de se singrar no mercado.
Porém, depois desta etapa é necessário pensar um novo rumo para o país, decorrente dos ganhos obtidos como a elevação do país a categoria de país de rendimento médio, mas também, decorrentes do modelo de desenvolvimento e dos investimentos que o país fez na infraestruturação, na formação dos recursos humanos, na estratégia de transformação que precisam de começar a ter impacto real na vida das pessoas e substituírem o endividamento externo pela criação de riqueza.
Cabo verde está hoje num outro patamar e para garantirmos a continuidade destes ganhos, torna-se necessário adequarmos as políticas ao contexto atual.
Será que o sector privado, por si só, na atual conjuntura poderá se emancipar e dar o seu contributo para o desenvolvimento? Qual deverá ser o papel do Estado junto do sector privado? Um Estado parceiro? Mas como deverá moldar esta intervenção? Será o nosso rápido trajeto nos confunde e nos faz acreditar que estamos num patamar onde não estamos? Precisamos de mais Estado na economia? Ou de menos Estado?
A aposta no sector privado e no crescimento económico deverá marcar os próximos anos, porém, ainda, não estamos em condições de tirar o Estado da economia. O nosso trajeto, apesar de ser reconhecido ao nível internacional e dos muitos ganhos obtidos, não nos deve fazer esquecer que somos um país com 40 anos de existência. Há, ainda, muitos desafios a ser vencidos: desde os constrangimentos decorrentes do facto de sermos uma economia frágil e pouco desenvolvida, passando pelos problemas sociais que abalam a sociedade e que exigem uma intervenção governamental a vários níveis.
Na verdade, se reconhecemos a necessidade da aposta no desenvolvimento do sector privado para a dinamização económica e o crescimento económico, não é menos verdade, que a realidade do país exige, ainda, uma forte intervenção estatal para resolver os muitos problemas socias que abalam a nossa sociedade.
No fundo, é necessário discutir que Estado na economia e como resolver os problemas socias. Este é, de facto, o debate necessário.
Jonathan Vieira