O MpD no Espelho de uma Matriz Zoocrática: Hiperbólica Análise das Contradições e Enigmas Pós-Eleitorais

As recentes eleições autárquicas em Cabo Verde revelaram uma realidade política que, no rescaldo dos resultados, poderia ser metaforicamente descrita como uma selva habitada por animais políticos cujas ações e inações desafiam tanto a lógica quanto a ética.

Jan 1, 2025 - 05:11
Jan 1, 2025 - 01:16
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O MpD no Espelho de uma Matriz Zoocrática: Hiperbólica Análise das Contradições e Enigmas Pós-Eleitorais
Nesta análise, eu me proponho a explorar o MpD – Movimento para a Democracia – através de uma lente hiperbólica, desvendando traidores e traídos, incompatibilidades e privilégios, marginalização das bases e as contradições de um governo que parece estar à mercê de autênticos adversários e da ascensão de quadros do PAICV dentro dos ministérios e consulados, mesmo sob a bandeira do MpD.
1. Traidores, Traídos e os Falsos-Negativos
O cenário político atual permite-nos identificar duas castas principais no MpD: os traídos, que entraram nas listas autárquicas como supostos fatores decisivos de voto, mas que se revelaram falsos-negativos; e os traidores, que, em tom triunfalista, agora afirmam que seriam capazes de ganhar as eleições se tivessem sido os escolhidos.
Mas é impossível ignorar outros “falsos-negativos”. São aqueles que circulam com ideias elitistas, alimentando a narrativa de que apenas alguns trabalham em prol do MpD. Essa falácia não resiste à verdade que conhecemos: o esforço pelo partido é colectivo e não pode ser limitado à exaltação de nomes que, muitas vezes, actuam mais pela autopromoção do que pela causa partidária.
Aqui, a metáfora da selva política nos apresenta os primeiros como leões domados, ostentando a majestade sem rugido, e os segundos como hienas oportunistas, que se alimentam das carcaças de derrotas para fortalecer suas ambições.
2. O Paradoxo das Incompatibilidades e os Beneficiários Silenciosos
Como um partido no governo, o MpD carrega um fardo paradoxal: defende a pedra e cal dos seus estatutos enquanto capitula diante da cantiga das incompatibilidades. Os reais beneficiários do sistema – presidentes de conselhos de administração (PCA’s), diretores e altos quadros – tornam-se alvos de um estatuto que proíbe suas participações políticas. Mas, ao mesmo tempo, são peças fundamentais na engrenagem do poder. Trata-se, aqui, de um teatro do absurdo em que o protagonista se autoimpõe as amarras que minam sua eficiência, enquanto observa seu opositor dançar livremente no palco eleitoral.
3. A Cegueira Selectiva nas Autorizações para Campanha e os "kakistocrats"
As contradições não param por aí. Não há como silenciar sobre a disparidade nas autorizações concedidas para campanha. Enquanto candidatos do MpD enfrentaram limitações administrativas e políticas, os candidatatos do PAICV receberam autorização plena para promover sua agenda. Essa situação só reforça a percepção de que a liderança do MpD carece de um alinhamento estratégico interno, deixando dúvidas se os quadros do partido têm força e apoio suficientes para competir em igualdade de condições.
Um dos maiores paradoxos do MpD enquanto partido governante é a sua cegueira seletiva, uma incapacidade quase patológica de reconhecer e valorizar os bons quadros dentro de suas próprias fileiras. Em vez disso, o partido oscila entre abrir espaço para quadros adversários do PAICV e promover os seus próprios “kakistocrats” – indivíduos de competência duvidosa que, no entanto, ocupam posições estratégicas….
Estará o MpD, como o avestruz, enterrando a cabeça na areia diante da falta de quadros “suficientemente bons” nas suas próprias bases? Essa pergunta se torna ainda mais pertinente quando analisamos o favoritismo inexplicável que permite a ascensão de quadros adversários, enquanto muitos membros dedicados e capacitados do MpD são ignorados, desmotivados ou marginalizados. É uma escolha que parece desafiar a lógica e trair os próprios princípios do partido.Pior, essa postura reforça a percepção de um partido que privilegia lealdades pessoais ou conveniências políticas em detrimento do mérito e da competência
4. A Marginalização das Bases e dos Fundadores
Por fim, o conceito de marginalização das bases emerge como o fio condutor que une as várias dimensões do problema. Os fundadores do MpD, outrora visionários que ergueram o partido, são hoje relegados à periferia, como tigres envelhecidos cujo rugido perdeu relevância. A liderança, por sua vez, parece distante, governando de uma torre de marfim desconectada das necessidades e aspirações das bases que lhe deram origem.
Ao observarmos a relação da liderança com as bases e os fundadores do partido, vejo um afastamento preocupante. Os fundadores do MpD, que outrora pavimentaram o caminho da democracia em Cabo Verde, hoje são relegados ao ostracismo. Esta marginalização, aliada ao distanciamento das bases, pinta um quadro de desconexão perigosa entre os dirigentes e os pilares do partido.
5. A Matriz Zoocrática do MpD
Para retratar simbolicamente o estado atual do MpD, proponho uma matriz zoocrática que ilustra suas contradições e desafios:
Traidores :Hiena > oportunistas que se alimentam das derrotas alheias para sustentar ambições pessoais.
Traídos:Leão domado> Majestosos, mas sem força política para liderar efetivamente.
Incompatibilidades: Camaleão >Adaptam-se às circunstâncias, mas perdem identidade no processo.
Bases Marginalizadas:Tigre envelhecido>Força outrora vital, agora relegada à irrelevância.
Liderança Desconectada: Águia em torre de marfim> Visão ampla, mas incapaz de agir no terreno onde se desenrola a batalha.
Conclusão: Entre a Renovação e o Abismo
O MpD vive um momento crucial de reflexão. Ou reencontra o caminho da coesão e da valorização interna, ou se tornará refém das suas contradições e divisões. Como articulista, e alguém com responsabilidades políticas no partido, insisto que é preciso urgentemente reconectar a liderança às bases, resgatar o protagonismo dos fundadores e, sobretudo, enfrentar com coragem as contradições que ameaçam corroer o núcleo do partido.
A pergunta, então, é clara: o MpD terá força para assumir os seus erros e trilhar um novo rumo, ou sucumbirá, como tantas vezes acontece, à fatalidade da inércia?