Onésimo Silveira: “Aristides Pereira não tinha dimensão política, nem filosófica: era um seguidor”
Uma das expectativas em relação ao livro “Onésimo Silveira: uma vida, um mar de histórias” do jornalista José Vicente Lopes apresentado na passada sexta-feira, tinha a ver com as respostas que Silveira iria dar às considerações “pouco abonatórias” que Aristides Pereira fez sobre ele num livro do mesmo autor.
Uma das expectativas em relação ao livro “Onésimo Silveira: uma vida, um mar de histórias” do jornalista José Vicente Lopes apresentado na passada sexta-feira, tinha a ver com as respostas que Silveira iria dar às considerações “pouco abonatórias” que Aristides Pereira fez sobre ele num livro do mesmo autor.
Onésimo considera que o primeiro Presidente da República de Cabo Verde “tinha uma dimensão institucional e instrumental, mas não tinha uma dimensão política nem… filosófica. Não era um pensador, era um seguidor…”. E conclui “de intelectual não tinha nada. Aliás, no livro das suas memórias dá bem conta disso. Ele ficou na história como um politico africano do consenso, mas o consenso é inimigo do compromisso”.
Pereira vetou regresso de OS ao PAICV
Neste livro, Onésimo confirma que, de facto, em 1990, no fim do regime do partido único, esteve prestes a reconciliar-se com o PAICV, mas o então Secretário-geral Aristides Pereira vetou o seu regresso”. Não sei porquê, o Aristides teve sempre uma reserva visceral contra mim. Eu nunca bajulei. Nem a ele, nem ao Cabral. A ninguém mesmo. O Aristides era daqueles que dizia que era preciso cortar as rédeas ao Onésimo. Ora, a única rédea era a minha língua, o instrumento para a expressão do meu pensamento e das minhas profundas convicções”.
Silveira revela que em 1990 o seu nome foi levado à Comissão Política e ao Conselho de Ministros para o cargo de Embaixador em Lisboa, cargo que viria a ocupar no primeiro mandato de José Maria Neves como Primeiro-ministro (2001) e Pedro Pires como Presidente da República, mas foi vetado pelo então Secretário-geral do PAICV e Presidente da República. Silveira diz no livro que tinha o apoio de Pedro Pires, na altura Primeiro-ministro, de Abílio Duarte, Presidente da Assembleia Nacional e de Silvino da Luz, Ministro dos Negócios Estrangeiros. Mesmo assim, Aristides vetou o seu nome. Questionado se acha que Aristides podia sozinho vetar o seu nome contra a vontade de Pires, Abílio e Silvino, responde: “Temos de falar com muita cautela sobre a responsabilidade colectiva no PAICV. No partido único, a responsabilidade acaba sempre por ser de uma só pessoa. No tempo de Cabral ninguém ousava criticar. Ele era o pensador e único responsável pelas grandes decisões do partido.
Desaparecido Cabral, Aristides teve de vestir essa farda para que o PAIGC não ficasse órfão. Aristides não herdou só o partido, herdou também o modo de dirigir o partido. Portanto, não querendo ele certas coisas, elas simplesmente não avançavam. Por outras palavras, não querendo ele que Onésimo fosse reintegrado, isso não avançou, simplesmente”.